Jesus nunca disse isso

Byron Yawn

Vamos ser honestos – o desejo por realização pessoal é o que enche muitas igrejas e motiva a maioria dos livros cristãos. É uma sedução sempre presente. É um coach pessoal disfarçado de pregador, uma balada romântica disfarçada de música cristã, e um seminário de autoajuda disfarçado de sermão. Está em toda parte. Alcança a todos nós. “Você também pode ter uma vida influente e de impacto”. “Você pode fazer algo grandioso”. Alguns autores e pastores surgem e garentem. “Faça essas pequenas coisas e sua vida mudará”.

Mesmo naqueles exemplos em que os autores saem de sua rota para enfatizar que a questão não é você, eles caminham por duzentas páginas falando sobre você. Mesmo se o assunto for o céu, a questão não é desfrutar da glória de Deus e do Cordeiro por toda eternidade. É sobre como nós escaparemos de nossas condições insatisfatórias e de todos os pagãos aqui da terra. Mesmo se for sobre encontrar a vontade de Deus, não é realmente sobre a vontade de Deus. É sobre Deus reconhecer quão úteis nós somos para Ele. Quando enfatizam a importância do serviço, não é realmente sobre os outros. É sobre a satisfação que nós alcançamos ao servir aos outros. Quando te encorajam a orar, não é tanto sobre a comunhão de Deus quanto sobre a coceira espiritual da sua alma. Mesmo quando enfatizam a comunidade, não é sobre um grupo de pessoas sofrendo por amor ao Evangelho. É sobre encontrar um lugar de significância. Palavras como melhor, propósito, autêntico, influência, intencional são deliberadas. Elas são chavões para os cristãos nominais de classe média. Nós as devoramos. Nós as amamos.

Existe uma boa razão. Esses temas tocam fundo na profunda ferida de que todo ser humano nesse planeta sofre. Um vazio que todos conhecemos e não podemos ignorar. Um gemido em nossa alma em gastamos nossas vidas, tentando satisfazer com todas as coisas erradas. Pessoas. Dinheiro. Sucesso. Posses. Aparência. Sexo. Mas nada disso preenche esse espaço. Então passamos para a próxima opção. Vagamos pelo planeta sem saber quem realmente somos, ou que deveríamos estar fazendo. Nosso legado é composto de tarefas, rotinas, as últimas séries da TV, futebol e lista de compras. Somos nômades e desabrigados. Vazios. Logo, sofremos. Não era isso que Deus queria. Fomos feitos para muito mais. Acredite, há algo que preenche esse buraco em sua vida. Está lá fora e você pode encontrar. Quando acontecer, você saberá. É um encontro que nos muda para sempre. Um ponto sem retorno. Um marco. Nunca mais seremos os mesmos. Assim como Moisés vagou em direção à sarça ardente, as coisas mudarão. Naquele momento ele descobriu a si mesmo e quem deveria ser. Sua sarça ardente te aguarda.

Veja como foi fácil. Admita! Você foi sugado pelo furacão das listas de Best-sellers. Eu ganhei você. Abra sua boca e coloque o anzol. Você estava pensando: “Minha vida vai mudar. Eu não serei mais medíocre. Vou começar um diário”. Você estava prestes a comprar um produto de que não precisava. Sem mesmo perceber que viramos 180 graus da nossa felicidade. Deepak Chopra poderia ter escrito isso. Provavelmente escreveu em algum lugar. Não há nada de cristão nisso. O quê? Você estava simplesmente engolindo isso? Isso não é Cristianismo. É “Classemedismo”.

“Classemedismo” é a convicção geral entre evangélicos professos de que o alvo principal da morte de Cristo foi nos providenciar uma vida realizada. É sutil, mas alcança tudo. Vem em praticamente quase todas as formas de mídia cristã – de livros a canções. Deus tem grandes planos para você. Você é importante. Você não deveria estar descontente. Há muito mais para você. Esse é o evangelho suburbano. Com ele, estamos salvando incontáveis pecadores de uma péssima autoimagem e de uma falta de realização, mas não de um Deus Santo.

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Essa mensagem tem sido reciclada e reembalada tantas vezes que é impossível contar as versões. É fácil ser pego. Está por aqui desde o começo dos tempos. Satanás usou em Eva. Você é importante. Sua felicidade é essencial. Não deixe nada te segurar. Blá, blá, blá! A única diferença entre Eva e nós é que ela foi convencida de que Deus não queria sua felicidade. Hoje em dia, é tudo o que Deus quer!

Cristianismo nada tem a ver com esse nonsense ridículo. Na verdade, essa mensagem está roubando a Igreja de seu poder. Não é nem mesmo bíblica. Você não encontra em qualquer lugar da Bíblia. Mesmo se você citar Moisés e seu encontro com uma planta em chamas, ele ficaria chocado com o que fizemos com sua história. Ainda que você faça Jesus dizer coisas desse tipo, ele não disse. Jesus nunca ordenou nada disso. Nós inventamos tudo. “Mas”, alguém responderá, “Deus quer que sejamos felizes. Jesus diz em João 10.10 que veio para nos dar ‘vida em abundância’”. Porém, esse é exatamente meu argumento. Isso é o que presumimos porque lemos a Bíblia usando as lentes do eu. Esses tipos de concessão são produtos de uma hermenêutica narcisista. Não há como ler os Evangelhos e as Cartas como eles são e chegar à conclusão de que Jesus caminhou por essa terra dando um seminário de autoaperfeiçoamento. Isso nunca aconteceu.

Agora, admitidamente, eu sou um cético. Sou um inimigo perpétuo do status quo. Isso pode soar como se eu estivesse jogando todo o ensinamento prático no lixo. Mas, eu não estou. O que faria com o livro de Provérbios? Não quero sugerir que felicidade e propósito não são efeitos do Evangelho. De fato, são. Mas, a felicidade e o propósito bíblicos são contraintuitivos e distintos de nossas versões suburbanas. Mais claramente, felicidade e contentamento não são os alvos da expiação.

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O perigo real em todo esse ruído branco narcisista é um Evangelho presumido. Um Evangelho presumido é a maior toxina do Classemedismo. Pense sobre isso. Quantos sermões você ouviu que ofereceram princípios para uma mudança de vida, ou para uma vida cristã melhor, mas que sem mencionarem o Evangelho ou qualquer de seus elementos como base para ambos? Quantos livros você leu sobre vida espiritual que nunca mencionam a cruz. Incontáveis. Eu também. Isso é realmente perigoso? Afinal, não temos o Evangelho na mente pelo fato de sermos cristãos? Exatamente. Essa é a questão!

Existem incontáveis membros decentes de igreja que presumiram por décadas que “bom” é igual a “piedade”. Somente quando alguém parou de presumir o Evangelho e confrontou “pessoas boas” com a cruz, elas descobriram a verdade. Elas precisavam arrepender-se de sua bondade.

Não podemos assumir se seremos fieis a isso. Sem uma ênfase constante do Evangelho, todos os nossos princípios de uma vida melhor tornam-se moralismo. Moralismo condena. Se você diz a um homem como ele pode ser um marido melhor, você também deve dizer que a justiça de Cristo o livrou do peso de ser um marido perfeito.

O Evangelho propriamente dito é o chiado constante, ao fundo, do evangelicalismo. É o ruído branco do Cristianismo. Presumimos que as pessoas são salvas porque fomos condicionados a isso. Ouvimos algo “espiritual” e presumimos Cristão. Vemos “moralidade” e presumimos regeneração. Vemos “bom” e presumimos piedade. Vemos “frequência à igreja” e presumimos fé em Cristo. Em tudo isso, nunca fazemos a questão principal do Evangelho – “em que você confia para a salvação de sua alma?”. Não podemos presumir o Evangelho.