Jesus teve indisposição estomacal?

Russell Moore

Semana passada uma amiga me ligou no escritório, e fez uma pergunta que ela queria ajuda para responder. Jesus poderia ter sofrido de indisposição estomacal? E um resfriado? Uma dor de cabeça? A pergunta estava embasada em algo um pouco mais profundo. Como as doenças são parte da maldição da Queda, será que a natureza sem pecado de Jesus teria impedido que ele adoecesse?

Na mesma noite, um dos meus filhos nos acordou durante a noite, chorando por causa de uma dor de estômago e todas as coisas desagradáveis que vêm junto. Enquanto via seu pequeno corpo tremer ao vomitar, pensei na pergunta daquela mulher. Será que Maria também viu seu pequeno primogênito em apuros parecidos?

Por que é tão difícil para nós imaginarmos Jesus vomitando?

Em primeiro lugar, é difícil para nós imaginarmos a natureza radical da Encarnação. Não importa o quão ortodoxa seja a nossa doutrina, todos nós tendemos a imaginar Jesus como uma figura bidimensional, uma aura de luz fixada sobre sua cabeça. Mas o evangelho nos fala que Jesus assumiu cada aspecto de nossa “carne e osso” para poder nos redimir do poder do diabo (Hebreus 2.14-15).

A Escritura repetidamente fala sobre o cansaço de Jesus, sobre sua digestão, para levantar o ponto de que Cristo realmente se identificou conosco em todos os aspectos de nossa humanidade comum, exceto pelo nosso pecado (Hebreus 4.15).

O próprio início da história de Cristo nos conta que parte da profecia do Messias é que ele estaria envolto em panos (Lucas 2.12). Por que você envolve um bebê em panos? Pela mesma razão que talvez você envolva seu bebê em fraldas, ou o cubra com um lençol. Você quer aquecê-lo, e protegê-lo do sereno. Isso significa que o próprio começo de sua vida mostra o quanto Jesus é nosso irmão, compartilhando dos mesmos sistemas nervosos e digestivos que nós.

Também é difícil para nós imaginarmos a natureza radical da substituição. Claro, nós entendemos o sofrimento de Jesus na cruz, em nosso lugar. Mas a Cruz foi a culminação, não o começo da identificação de Cristo conosco. Jesus adentrou um mundo decaído pelo pecado, amaldiçoado com espinhos, morte e, sim, doenças. Apesar de Jesus claramente demonstrar poder sobre as doenças em seu ministério de curas, e sobre a própria morte, ele se juntou a nós voluntariamente, em um mundo de dor e sofrimento, com o propósito de oferecer um sacrifício e restaurar a paz da humanidade com Deus e com a natureza.

“Ao levar muitos filhos à glória, convinha que Deus, por causa de quem e por meio de quem tudo existe, tornasse perfeito, mediante o sofrimento,” escreve o autor de Hebreus (2.10). “Embora sendo Filho, ele aprendeu a obedecer por meio daquilo que sofreu; e, uma vez aperfeiçoado, tornou-se a fonte da salvação eterna para todos os que lhe obedecem” (Hebreus 5.8-9).

Foi por isso que Jesus enfrentou o sofrimento da tentação. Foi por isso que ele sentiu fome e sede. Foi por isso que ele experimentou a morte e o abandono de seus amigos. Foi por isso que ele tremeu, suando sangue, em angústia, no Getsêmani, ao ver que sua execução se aproximava. E foi por isso que ele foi espancado, humilhado e chicoteado com pregos. Jesus não foi poupado de qualquer aspecto da condição humana, exceto pela nossa rebelião. Ele não foi poupado de algo tão comum quanto nossas doenças.

Só que não parece muito certo imaginar Jesus com febre ou vomitando. Mas o escândalo é justamente esse. Não parecia certo para muitos imaginar Jesus realmente de carne e osso, cheio de sangue, intestinos e urina. De alguma forma, isso parecia destituí-lo de sua divindade. Certamente não parecia muito correto para muitos imaginar o unigênito do Pai se retorcendo de dor em uma cruz, gritando ao se afogar no próprio sangue. Isso é humilhante, indigno. E o objetivo é esse. Jesus se uniu a nós em nossa humilhação, em nossa indignidade.

Eu espero que você não tenha problemas estomacais nesse ano, ou uma gripe, um resfriado ou uma febre. Mas se acontecer, espero que você se lembre, só por um momento em seu desconforto, que Jesus passou por tudo que você enfrentará. Ele deve ter sofrido com náuseas, calafrios ou hematomas, assim como você. E ele enfrentou coisas muito, muito piores.

Mas, enquanto você estiver assim, lembre-se do evangelho da encarnação e substituição, um evangelho que vem, como diria a antiga canção, para fazer as bênçãos conhecidas “muito mais que as maldições são encontradas”.

Traduzido por Filipe Schulz | iProdigo.com | Original aqui