Há pouco tempo, um amigo me mandou um filme intitulado O Evangelho de João, que conta a história de Jesus através das lentes do evangelho de João. Não costumo assistir filmes de Jesus, mas ele me assegurou que valeria a pena. Numa tarde, coloquei no DVD e sentei pra assistir. De forma geral foi um filme bem feito, muito fiel ao Evangelho de João. Mas, enquanto eu assistia, algo me atingiu com uma profundidade que nunca havia experimentado antes: Jesus era impopular.
Claro, isso é uma verdade que conhecemos bem – tão bem, de fato, que muitas vezes esquecemos. Mas, foi bem nítido na versão cinematográfica do evangelho de João. Raramente lemos um evangelho numa sentada só. Simplesmente não tiramos tempo para fazê-lo. Mas no filme eu recebi uma grande dose do evangelho. E me impressionei com a quantidade de argumentos, debates, e relações polêmicas que Jesus vivenciou. Houve berro, clamor e gritaria. Acusações e incriminação. Discussões acaloradas. E lá estava Jesus, bem no meio disso tudo. Ele mesmo começou tudo num gesto enérgico de limpeza do Templo (2.13-22). Os judeus murmuravam sobre os seus ensinamentos (6.41), o achavam simples demais (6.42), e consideravam suas palavras ofensivas (6.52). Conspiraram contra ele e tentaram prendê-lo (7.25-30). O chamavam de mentiroso (8.13), samaritano (8.48), possuído por demônios (8.52), e pegaram em pedras para apedrejá-lo em várias ocasiões (8.59, 10.31). E finalmente o mataram, pregando-o numa cruz (19.18).
Pelo critério humano comum, Jesus teve um ministério extremamente impopular e ineficaz. A maioria das pessoas simplesmente não foi persuadida. Eles não estavam convencidos. Viam Jesus (e os seus ensinamentos) como ridículo, absurdo e ofensivo.
Se for assim, nossa forma de medir o sucesso de nossos próprios ministérios precisa de uma recalibragem séria. Algumas considerações:
1. Precisamos ajustar nossas expectativas sobre como as pessoas receberão nossa mensagem.
Geralmente, quando a mensagem de Cristo é rejeitada, nos perguntamos se a temos apresentado com sofisticação e clarezas suficientes – talvez precisemos ser mais articulados . Enquanto procuramos melhorar a maneira na qual apresentamos a mensagem, devemos lembrar que não existe melhor e mais claro comunicador da verdade que o próprio Cristo. Se o próprio filho de Deus entregou a mensagem, com a clareza e a profundidade que somente ele poderia alcançar, e ainda assim as pessoas não acharam persuasivo, então só podemos concluir que existe algo mais afastando as pessoas da verdade. De fato, Paulo nos diz o que isto significa: “Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem” (1 Co 1.18). As pessoas estão obscurecidas pelos seus próprios corações pecaminosos.
2. Precisamos nos preparar para um ministério marcado por conflito e hostilidade.
Quando estudantes se formam no seminário e consideram uma vocação ministerial normal, eles ão esperam que ela seja marcada por perseguição e rejeição. Mas nosso mundo está mudando. É claro agora que vivemos em um mundo que não só pratica a imoralidade como exige que todo cidadão ocidental mostre aprovação e aceitação dessa imoralidade. Não se engane, o movimento gay no país não está interessado apenas na liberdade de ser gay, eles querem um selo de aprovação do governo e de todos os seus cidadãos. Não é muito diferente da maneira como o Império Romano exigia que todos seus cidadãos se curvassem diante da imagem do imperador e prestassem homenagem. Cristãos não faziam isso e eram mortos aos milhares. Precisamos nos preparar para um grave cenário de perseguição no país. A questão não é se está chegando. A questão é se estamos prontos.
Não é apenas o conflito externo que é um desafio. Pastores precisam estar preparados para receberem oposição dos membros de suas próprias congregações. Pessoas de nossos rebanhos serão ofendidas por nossa posição fiel – e podem chegar a nos odiar por isso. Num mundo de pastores celebridades louvados por milhares, isso será difícil de aceitar. Mas devemos novamente lembrar que a oposição a Jesus veio da nação de Israel, povo de Deus.
3. Precisamos lembrar que existe lugar para debate e discordância em nossos ministérios.
Uma coisa em que o ministério moderno falha é um entendimento apropriado sobre o papel das controvérsias. O objetivo número um da maioria dos ministérios é evitar conflitos o máximo possível. E de várias maneiras isso é positivo; com toda certeza não devemos procurar por conflito. Contudo, existe lugar certo para debate e discordância – exemplificado pelo próprio Jesus no evangelho de João. De fato, se um ministério não tem nenhum conflito, alguém poderia perguntar se ele está realmente apresentando a mesma mensagem que Jesus apresentou. O servo não é maior do que seu mestre.