Medo de avião

Quem convive comigo por mais de 2 minutos sabe que uma das minhas maiores fraquezas (estilo kryptonita, perco as forças e a sanidade) é pegar avião. Já deixei de aproveitar algumas boas coisas devido a esse temor e me arrependo bastante disso. Sei que muitos conhecidos e leitores também sofrem desse mal, pois recentemente compartilhei sobre ele no Twitter, e obtive algumas respostas compreensivas e concordantes.

Acabo de voltar de Portugal depois de uma viagem de 10 horas (e de uma ansiedade desesperadora de mais de 5 dias) e, durante o vôo de ida, fiz algumas reflexões sobre o assunto. Sei por experiência própria que muitos desses argumentos não parecem fazer efeito naquela hora que as rodas do avião se soltam da terra – por isso disse no início que perco a sanidade. No entanto, sugiro que você ore pedindo que Deus sedimente essas verdades em seu coração, que Ele confronte sua mente, e que te dê convicção sobre o assunto, a fim de que você possa vencer esse temor (geralmente) infundado.

Tenho fé e esperança de que um dia minha incredulidade será vencida por essas convicções. Enquanto isso, tento usá-la para ajudar-lhe com seus medos. Acredito que também possam servir para outras fobias parecidas com essa.

Em que erramos ao ter medo de avião?

1) Não confiamos na providência de Deus

Ao pensarmos que as circunstâncias em que entramos são decididas sem o controle supremo de Deus sobre elas, passamos a desconfiar dos decretos divinos para nossa vida. Acontece que Deus está no controle daquelas decisões que desejamos muito e nos trazem crescimento, como tirar férias com a família – meu caso nesses dias. E também está no controle de situações que trazem tristeza e desconforto. Se sua passagem foi marcada para amanhã, ela foi marcada porque Deus assim o quis. Se nem um cabelo se solta da nossa cabeça sem que ele permita, é certo que a cadeira onde você se sentará por algumas horas também está reservada para você.

Tememos o avião porque esquecemos que Deus está no controle de tudo. Pensamos que estamos aos cuidados do piloto, do controlador, da torre, das máquinas, do clima, do acaso ou até dos pássaros que podem cruzar o caminho da aeronave. Problemas em avião dependem de muitos fatores, que formam uma probabilidade quase mínima de algo dar errado. Ainda assim, confiamos mais nesses fatores que na onipotência de nosso Deus, tão firme e certa.

2) Não confiamos na bondade de Deus

Talvez você creia na soberania de Deus e tenha plena convicção de que seus decretos se cumprem. Você concorda plenamente que nada foge do controle de um Deus que tudo vê, tudo pode e tudo sabe, e que não está ausente, envolvendo-se em tudo. Eu creio nisso como você, mas isso não me dá tanta segurança às vezes. Por quê? Porque sabemos que Deus decreta tanto coisas agradáveis quanto coisas desagradáveis para nossas vidas (assim como coisas que consideramos irrelevantes). Isso significa que ele pode decretar tanto o pouso quanto a queda de um vôo. E essa verdade, ao invés de nos trazer segurança, traz medo.

Escolhi as palavras “desagradáveis” e “agradáveis” lá em cima propositadamente. Meu impulso inicial era escrever “coisas boas” e “coisas ruins”, mas a verdade é que nosso Pai sempre nos dá coisas boas. Jesus nos diz que mesmo um homem pecador presenteia seu filho com um peixe, quando este lhe pede (Lc 11.11-13). Se um filho caído de Adão pode realizar esse ato proveitoso, quanto mais aquele que é o Único Bom. Deus não responde a nossos pedidos com algo pior do que foi requerido. Ele dá o melhor, o que é bom para os que o amam. Isso não quer dizer que teremos um voo agradável. Quer dizer que, em última análise, teremos o que é bom – aquilo que vem de Deus. Nosso problema é que não cremos nisso e passamos a temer que o Senhor tenha desejado o pior para nós.

3) Demonstramos amor à própria vida

Qual a maior razão para temermos um vôo? Nossa vida. Tememos perdê-la e encerrar todos os nossos relacionamentos, perder nossas conquistas e não alcançar nossos sonhos. O que temos aqui é valioso demais para desaparecer assim – em um piscar de olhos. Ainda somos muito jovens, ainda não temos o que queremos, precisamos de mais tempo com aqueles que amamos. Só não precisamos nos encontrar tão rápido com Jesus!

Veja: querer dar assistência a seus parentes e amigos próximos, ver os filhos nascerem e/ou se casarem ou mesmo se casar (caso você seja solteiro) são planos bons e agradáveis. Se você não os tem, recomendo que repense suas prioridades. Mas, eles nunca devem se tornar nossa maior preocupação a ponto de pecarmos por não desejar um encontro com o Salvador. Não seria o medo de perder a vida em um voo apenas um sintoma de um amor maior pela vida nessa terra, onde existem tesouros queridos? Se esse é o caso, lembre-se de que, por mais valiosos que sejam, são tesouros menores que a presença de nosso Redentor. Afinal, o que procuraramos no céu?

4) Demonstramos falta de gratidão

Nos dias anteriores ao meu vôo, tenho certeza que passei mais tempo pensando na viagem em si que nos dias que passaria com minha família. Me preocupei mais com turbulências, panes e despressurização que me alegrei com passeios, descanso e tempo de qualidade. Além disso, em outras oportunidades, desejei que acontecesse um imprevisto que me impedisse de pegar o avião. Aquilo que é uma bênção torna-se um fardo, e perdemos a habilidade de reconhecer a boa dádiva que Deus nos entrega. Não está aqui uma raiz do pecado? Rejeitar presentes de nosso Pai ou considerá-los algo inconveniente pode ser um grande mal.

Concluindo

Talvez você ache minhas palavras um pouco duras. Ao invés de procurar um consolo, encontra uma fria percepção de seu maior medo. Mas não se engane – não há nada de frio aqui. Comecei esse texto no meu primeiro dia em Lisboa e termino horas antes de pegar o quinto vôo em menos de um mês, de volta pra casa. Meu coração parece tão atribulado quanto antes. O bem que quero – descansar na soberania e na bondade de Deus – não faço.

Mas é um erro pensar que, sozinho, irei me convencer. Se não tivermos o auxílio do Espírito de Deus, nosso coração continuará incrédulo e desconfiado, ingrato e egoísta. E se ele não for alertado disso (por isso, as palavras duras) não procuraremos aquele que pode nos ajudar a vencer nossos medos. Ele, que cheio de lágrimas já se viu diante de uma morte bem mais dolorosa e vergonhosa, nos ajudará.