Os títulos que os escritores do Novo Testamento usam para Jesus rendem um estudo fascinante e esclarecedor. Um dos mais obscuros e desconcertantes desses títulos é encontrado em 1 Pedro 2.25, onde o Apóstolo escreve: “Pois vocês eram como ovelhas que estavam perdidas; agora, porém, retornaram ao Pastor e Protetor das suas almas.” Na linguagem clássica da Versão King James, este título é traduzido como “Pastor e Bispo das vossas almas”. Muitos evangélicos reagem negativamente à ideia de Jesus como nosso Bispo. O que Pedro tinha em mente quando falou de Jesus dessa maneira?
Ainda que a carta de Pedro seja o único lugar no Novo Testamento onde Cristo é chamado de nosso Bispo, o conceito está profundamente enraizado nas Escrituras. Nós até encontramos uma dica disso no cântico de Zacarias, pai de João Batista. Zacarias disse: “Bendito o Senhor Deus de Israel, porque visitou e remiu o seu povo” (Lucas 1.68). No Antigo Testamento, as promessas de redenção feitas por Deus ao seu povo incluíam a promessa de um dia de visitação divina. Os judeus foram ensinados a esperar a visita de Deus. Zacarias, no entanto, disse que Deus os tinha visitado e redimido seu povo. Ele falou desta maneira, porque entendia que o aparecimento do Messias estava próximo, e Ele seria anunciado por seu próprio filho Zacarias.
O que isso tem a ver com o título de “bispo”? A palavra grega traduzida como “visitado” em Lucas 1.68 é episkeptomai, que é uma forma verbal do substantivo episkopos, palavra grega que é traduzida como “bispo” ou “protetor” em 1 Pedro 2.25. Essa palavra, episkopos, é refletida no nome da Igreja Episcopal, que é governada por bispos.
A palavra episkopos é composta por um prefixo e uma raiz. O prefixo é epi-, que serve para intensificar a palavra com a qual é combinado. A raiz é skopos, que nos dá a palavra “escopo”. Nós encontramos esta raiz em palavras como telescópio, periscópio e um microscópio, que são instrumentos que nos ajudam a ver as coisas. Se fôssemos escrever o prefixo epi– a palavra escopo, teríamos um instrumento de observação intensiva. Isso é precisamente o que um episkopos era na Grécia antiga, exceto que ele era uma pessoa, não um instrumento. O episkopos era um oficial de alta patente militar que inspecionava as tropas para ter certeza de que eles estavam prontos para a batalha. Com esse contexto, podemos ver que um bispo é aquele que é fiscalizador na igreja, com a responsabilidade de olhar atentamente para todos os assuntos sob sua supervisão.
Jesus, então, é o nosso Bispo, nosso Episkopos, que tem nos fiscalizado como nosso Senhor. Ele é investido com o poder de olhar dentro de nossas vidas, para avaliar a nossa prontidão para o combate contra as forças das trevas.
O fato triste, porém, é que nós geralmente não gostamos de passar por sua inspeção. Você se lembra como Adão e Eva reagiram quando Deus visitou o jardim do Éden, depois de terem comido da árvore proibida? Eles se esconderam. Eles entenderam que estavam nus em sua presença, incapazes de esconder seu pecado de Seu exame minucioso (Gênesis 3.8-10). Adão e Eva não queriam nada com um episkopos. Foi a mesma coisa quando veio Jesus em Sua encarnação. As Escrituras nos dizem que “Ele veio para o que era seu, e os seus não o receberam. ” (João 1.11). Como Adão e Eva, os judeus não queriam nada com este Visitante celestial. Na verdade, todos os seres humanos caídos ficam aterrorizados com a exposição ao escrutínio de Deus.
Os judeus nos tempos do Antigo Testamento aguardavam com expectativa a vinda do Messias. Mas os profetas avisaram que o dia de Sua vinda poderia não ser a maravilhosa experiência que eles esperavam. Eles esperavam ver Deus julgar os seus inimigos, mas os profetas disseram que o Episkopos julgaria seu próprio povo se eles não estivessem prontos para recebê-Lo, se eles fossem infiéis e desobedientes.
Mas Zacarias cantou sua canção da perspectiva de um filho de Deus, daquele que estava contente de ver a vinda do Visitante celestial e que saudava seu escrutínio. Para todos que estão prontos, a visita do Episkopos é algo bem-vindo, pois compreendem que seu escrutínio é direcionado para o cuidado das almas sob sua supervisão.
O Bispo de nossas almas nos conhece melhor do que nós mesmos. Embora os ministros e bispos sejam chamados a seguir o exemplo de nosso Senhor, nunca teremos, nem de longe, um pastor ou presbítero que cuide de nossas almas como Cristo, nosso Bispo, faz.
Você quer que Deus conheça você? Você ora como Davi: “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração!” (Salmos 139.23a)? Essas são as palavras de uma pessoa que conhece a graça perdoadora de Deus. Uma vez que experimentamos a graça e a sensível misericórdia de Deus, queremos mais. O cristão se deleita em ser conhecido pelo Bispo de sua alma.