Eu tenho que confessar que tenho certo preconceito com alguns jargões da moda como “diálogo” e “inclusão”. Eu sei que, na maioria das vezes, esse preconceito é uma criação da minha cabeça. Essas palavras podem ser perfeitamente normais. Mas em algum ponto da caminhada do “bom pra mim, bom pra você”, essas palavras acabaram recebendo uma bagagem não muito bem vinda.
Veja a palavra “diálogo” (ou “conversa”, se você achar melhor), por exemplo. É uma palavra cristã normal, se indica simplesmente uma vontade de levar os outros a sério, falar com eles humildemente, e levar em conta suas idéias. Mas “diálogo”, no discurso contemporâneo, normalmente significa muito mais. Está implícito o desdém pelo monólogo. Proclamações de “uma mão só” são muito egoístas e auto-afirmadas. Para muitos pós-modernos, a verdade é uma jornada. Conseqüentemente, suspeitamos daqueles que afirmam que chegaram a algum destino. Ninguém deveria saber alguma coisa com certeza, e definitivamente ninguém sabe se está certo de algo ou não. Logo, obviamente, o diálogo é o único caminho para a verdade. O diálogo, no fim das contas, pode ser a própria verdade.
O chamado para o diálogo entre os cristãos normalmente vem daqueles com sentimentos por outros credos. Bem, para mim, é óbvio que é uma coisa boa conversar de forma inteligente e civilizada com pessoas de outras religiões. Pode ser que não seja tão óbvio, entretanto, que em muitos círculos, o diálogo ser como um antídoto ao evangelismo. Ao invés de mirar na conversão, o objetivo é uma conversa de mente aberta. Mais, acreditar demais na certeza da convicção de alguém é considerado uma barreira perigosa e mente fechada ao diálogo genuíno.
Se nosso alvo é persuasão – que deve ser pelo menos um dos alvos para cristãos, ao conversarem com não cristãos – eu não estou convencido que o diálogo é o caminho a ser seguido. Os afiados vértices doutrinários do cristianismo são muitas vezes suavizados no diálogo ao ponto de serem irrelevantes. No livro “Budistas falam sobre Jesus – Cristãos falam de Buda”, Grace Burford, uma budista praticante discorre sobre os cristãos no livro. Ela pergunta “se eles admiram tanto Buda, porque ainda são cristãos?”. Infelizmente, o cristianismo apresentado nesse tipo de diálogo é raramente ortodoxo e histórico, mas freqüentemente uma versão secularizada e distorcida de uma admiração por Jesus adicionada da tolerância tipicamente ocidental. Talvez isso explique o título que Grace deu ao seu capítulo: “Se Buda é tão bom, porque essas pessoas são cristãs?”
Até mesmo para o cristão comprometido com a ortodoxia cristã histórica e é um pouco menos entusiasta de Buda, o diálogo é no máximo um bom chute na porta. Alguns anos atrás eu perguntei a um missionário aposentado, que passou muitos dos seus anos de ministério trabalhando no diálogo entre cristãos e muçulmanos, quantos muçulmanos ele viu chegarem ao conhecimento de Jesus por meio do diálogo. “Nenhum”, ele me disse. Então perguntei se ele viu algum cristão se converter ao islã. “Claro”, ele disse, “alguns”. Dificilmente isso é um encorajamento para alcançar pessoas por meio do diálogo.
Mesmo debates entre cristãos estão cheios de diálogo – a ferramenta usada para resolver (leia-se adiar) conflitos denominacionais, especialmente aqueles que lidam com homossexualismo. Sempre se pede um pouco mais de conversa. Mas nós algum dia iremos encerrar esses encontros e nos decidirmos? Iremos um dia declarar, à là Lutero, “nisso cremos”? Será que existem questões tão claras e importantes que gastar mais tempo em diálogo seria não um sinal de discernimento paciente, mas de equívoco covarde? Será que chegará o dia em que nossa necessidade de estarmos no lado da verdade significa aceitarmos que haverá “vencedores” e “perdedores”? Quando vamos admitir que é irrelevante dialogar em prol da unidade quando os dois lados não concordam em nada, a não ser na mais nebulosa, ambivalente e deslavada expressão do cristianismo?
Eu penso que o apóstolo Paulo ficaria genuinamente irritado com nossas conversações sem fim. Indubitavelmente, ele estava sempre disposto a continuar ensinando e “dialogando” com pessoas que queriam conhecer mais sobre Jesus. Mas com desertores e falsos mestres, ele tinha pouca paciência. Ele os chamou pelo nome – Alexandre, Himeneu, Fileto, Demas, Fígelo e Hermógenes – e alertou seu rebanho “Estejam em guarda contra eles”. Grande diálogo.
E ainda há a palavra “inclusão”. Outra palavra normal por si só. Considerando o passado manchado da igreja ao excluir pessoas por razões erradas – pobre demais, negro demais, esquisito demais – inclusão pode soar como uma coisa muito boa. E é, quando com “inclusão” queremos dizer algo como “boas vindas”. A igreja, entre todos os lugares, deveria ser um abrigo aconchegante para qualquer pecador e qualquer categoria social que valorize Jesus por meio de fé e arrependimento, ou que esteja buscando orientação espiritual.
Então qual é o problema? O problema são os limites. Estou convencido de que a maioria das picuinhas nas igrejas e denominações é sobre onde colocar a cerca. Quais são os limites da amizade? Membresia? Liderança? O que alguém precisa acreditar, dizer ou fazer para poder ser aceito como um de nós? Onde os inclusionistas erram é quando removem os limites éticos e teológicos que são essenciais para definir o que significa ser cristão.
Imagine um vasto campo aberto, com um cercado quadrado no meio. As estacas da certa são doutrinas, dogmas e comportamentos. A área dentro da certa é o cristianismo. A área de fora não é cristianismo. Se mudarmos a cerca de lugar ou simplesmente a retirarmos, não teremos mais nada que possa ser definido como cristão. Se tirarmos todas, ou a maioria das estacas da cerca, em nome da inclusão, talvez tenhamos incluído mais pessoas, mas não de uma forma que signifique grande coisa. Em meio a todo o blá-blá-blá da inclusão, a ironia é que não há inclusão sem exclusão. Caroline Westerhoff escreve sobre isso:
Se tudo e todos forem facilmente incluídos, na verdade estamos dizendo que na verdade, nada está acontecendo. Estamos desconsiderando limites. E se nossa membresia se compõe cada vez mais de pessoas que não vão ou não podem confirmar algum nível de aderência às praticas e valores centrais da comunidade definida, essa comunidade como conhecemos vai deixar de existir… E se até a membresia inicial não tem qualificação, então não estamos sendo nada além de inclusivistas sem critério. Se pertencer não requer obrigações e responsabilidades, então nós não fazemos parte de nada, e qualquer significância que aquela comunidade talvez tinha no passado se evapora como fumaça. (“Good Fences: The Boundaries of Hospitality,” 29).
Isso deveria ser óbvio para quem pensa sobre isso. Qual é o grande feito humanitário de receber qualquer tipo de pessoa em uma instituição inclusiva, quando a instituição em si não tem limites para definir o que significa o que é ser um membro? É até bobo falar sobre ingressar um grupo que não representa nada e não manda ninguém embora. O que foi então que você ingressou?
Certamente, no fim das contas, igrejas e outras instituições inclusivas têm seus limites. Mesmo as mais abertas comunidades estabelecem uma linha em algum lugar e excluem algumas pessoas, normalmente aquelas que estão menos dispostas a aceitar as mesmas coisas que essa instituição.
Em outras palavras, toda instituição, se é em si algum tipo de comunidade reconhecível, tem seus credos e convicções. Alguns são publicados, recitados publicamente, e enraizados nas Escrituras. Outros não são escritos, mas não menos poderosos. Todo grupo que pode ser ingressado de forma significativa se opõe a algum outro grupo. Igrejas inclusivas aceitam gays, lésbicas e inovações doutrinárias. Mas são exclusivistas (apesar do que isso não vai estar escrito em lugar algum) com aqueles que não toleram homossexualismo na igreja e pregam valores doutrinários. Para os inclusivistas, essa posição aberta normalmente não se estende aos que mantém suas cercas mais próximas.
Se os inclusivistas – sejam eles emergentes, gurus espirituais ou seguidores de um evangelho puramente social – estabelecem limites que excluem evangélicos, fundamentalistas, católicos tradicionais e outros que eles não gostem muito, eles tem todo o direito. Seria legal de sua parte, entretanto, se percebessem que são exclusivistas com o resto de nós.
Quem sabe talvez com um pouco de diálogo eles percebam.
Traduzido por Filipe Schulz | iPródigo