Acho interessante como algumas coisas frequentemente podem ocupar as mentes dos cristãos. Algumas vezes nossas preocupações são saudáveis, quando elas são as mesmas coisas que preocupavam Jesus. Mas outras vezes nos tornamos tão preocupados com coisas secundárias que, em essência, elas se tornam ídolos.
Isso não significa que nossas preocupações são necessariamente erradas; muitas vezes as coisas que consomem nossos pensamentos são coisas boas, coisas teológicas, coisas de Deus. Assim como os fariseus. Eles eram consumidos pelos detalhes da Lei, mas essa preocupação era uma barreira que permitia que eles negligenciassem o coração de Deus. E essa é a questão.
Ao lidar com as adiaphora (“coisas secundárias”), ao trabalhar com os cristãos “fracos” e “fortes” (Romanos 14), a dificuldade de uma questão é determinar se nossa preocupação teológica ou social é de importância central, algo que todos os cristãos devem concordar, ou se nossa preocupação pertence às adiaphora, coisas secundárias sobre as quais podemos concordar em discordar.
Um dos tópicos que frequentemente surge neste contexto é o nome de Deus. Quando a Bíblia diz que “ao nome de Jesus se dobre todo joelho” (Fp 2.10, NVI), o poder está no nome “Jesus” (ou mais precisamente, “Senhor”, como adiante no texto)? Quando Pedro diz que “não há nenhum outro nome dado aos homens pelo qual devamos ser salvos” (Atos 4.12), temos todos que entender o “nome” corretamente, e isso significa pronunciá-lo apropriadamente?
Essa preocupação frequentemente surge quando se lida com o nome mais santo de Deus, geralmente pronunciado como “Yahweh”. Tenho visto pessoas tão preocupadas em insistir que devemos entender isso corretamente que isto se torna uma marca em seu ministério, estudo e igreja. “Nós somos a igreja que entendeu o nome certo de Deus!”, uma afirmação absurda e que pode muito facilmente se tornar um ídolo.
(Outro dia, assistia um vídeo no YouTube de um pastor que anunciava que eles estariam lendo a partir da “versão King James original de 1611”, e as pessoas respondiam ficando em pé, aplaudindo e gritando, obviamente tendo mais alegria na insistência de seu pastor em uma tradução para o inglês que nas palavras de Deus ali contidas, ou no próprio Deus. Mas isso é apenas um adendo, e eu não responderei aqui questões sobre o debate a respeito da King James; veio a mim como um bom paralelo para a insistência de algumas pessoas em entender o nome de Deus “corretamente”.)
Segue uma rápida história do nome. No relato da sarça ardente (Êxodo 3), Deus revela-se como o grande “EU SOU”, usando uma forma do verbo hebraico “ser”. Enquanto o hebraico sempre foi pronunciado com vogais, ele nem sempre foi escrito com elas, assim o nome veio a nós através de suas consoantes, basicamente como YHWH. Devido a um desejo de não violar o terceiro mandamento, os Israelitas pararam de pronunciar as vogais e eventualmente as substituíram com as vogais de outro nome de Deus, “Adonay”. Isto veio para nossa língua através do alemão como “Jeová” e geralmente hoje como “Yahweh”. É traduzida na LXX¹ como κυριος (Senhor) e, consequentemente, influencia a teologia do “Senhor” no Novo Testamento.
Mas o Terceiro Mandamento é não sobre dizer ou não dizer uma palavra específica. O “nome” de uma pessoa representa a essência de quem ela é. É por isso que a Oração do Senhor diz “santificado seja o teu nome”; “que teu nome seja mantido santo” (NTL). Nós oramos para que em nossa conduta as pessoas vejam Deus ser o Deus santo que ele é. Não é a palavra “Senhor” que levará todos os homens e mulheres e a Criação a ajoelharem-se no fim dos tempos; será a pessoa e a obra de Jesus. E Pedro não acredita que uma série de fonemas guarda a salvação; é a pessoa e a obra de Jesus, ordenada por Deus Pai e trazida à plenitude por Deus Espírito. Na superfície, o Terceiro Mandamento é sobre fazer juramento, e não se comprometer com um juramento feito no nome de Deus, e então quebrá-lo. Mas eu suspeito que por trás disso há uma preocupação mais profunda, e é que não tratemos o próprio Deus de maneira vã, com desdém, como uma pessoa comum, do dia-a-dia, ao invés de relacionar-se e tratá-lo como Santo.
Então, de volta ao meu ponto. Por que algumas pessoas são obcecadas em “pegar o nome certo” quando não é o nome, mas a pessoa que é importante? Por que eles mudam algo que é importante, mas secundário, para o reino do essencial? Quem pode conhecer o coração de alguém? Mas eu nos encorajo a lembrar das palavras de Jesus: “Pois eu lhes digo que se a justiça de vocês não for muito superior à dos fariseus e mestres da lei, de modo nenhum entrarão no Reino dos céus.” (Mt 5.20). Suspeito que os fariseus sabiam como pronunciar o nome.
¹ LXX é a Septuaginta, uma tradução para o hebraico do Antigo Testamento feita por aproximadamente 70 (daí o seu nome) anciãos israelitas. (N.T.)
Traduzido por Josaías Jr | iPródigo | Versão original aqui