Não, os teólogos de Westminster não estavam intencionalmente atacando as Bíblias ilustradas infantis; mas provavelmente eles teriam problema com as imagens de Jesus.
Eu sirvo no Comitê de Exame Teológico do Presbitério em que ministro – o que significa, entre outras coisas, que eu ajudo a examinar candidatos que sentem um chamado ao ministério. Nos últimos anos, eu tenho percebido um crescente número de candidatos fazendo “ressalvas” à interpretação do Segundo Mandamento feita pelos Padrões de Westminster, principalmente devido à interpretação do uso de “imagens” no culto.
Um bom lugar para começar ao considerar essa questão é observar o que o Segundo Mandamento realmente diz. Em Êxodo 20, nós lemos:
Não terás outros deuses diante de mim. Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não te encurvarás a elas nem as servirás; porque eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniqüidade dos pais nos filhos, até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam. E faço misericórdia a milhares dos que me amam e aos que guardam os meus mandamentos. (v. 3-6; cf. Dt 5.8-10).
Os teólogos de Westminster interpretaram isso afirmando que “o segundo mandamento proíbe o adorar a Deus por meio de imagens, ou de qualquer outra maneira não prescrita na sua Palavra” (Breve Catecismo de Westminster, P. 51). O Catecismo Maior de Westminster semelhantemente ensina:
“Os pecados proibidos no segundo mandamento são – o estabelecer, aconselhar, mandar, usar e aprovar de qualquer maneira qualquer culto religioso não instituído por Deus; o fazer qualquer imagem de Deus, de todas e qualquer das três pessoas, quer interiormente no espírito, quer exteriormente em qualquer forma de imagem ou semelhança de criatura alguma; toda a adoração dela, ou de Deus nela ou por meio dela; o fazer qualquer imagem de deuses imaginários e todo o culto ou serviço a eles pertencentes; todas as invenções supersticiosas, corrompendo oculto de Deus, acrescentando ou tirando dele, quer sejam inventadas e adotadas por nós, quer recebidas por tradição de outros, embora sob o título de antiguidade, de costume, de devoção, de boa intenção, ou por qualquer outro pretexto; a simonia, o sacrilégio; toda a negligência, desprezo, impedimento e oposição ao culto e ordenanças que Deus instituiu” (P. 109).
Eu estou descobrindo que um número crescente de pastores e candidatos a ministro do evangelho estão rejeitando a interpretação de Westminster. Na minha denominação – a PCA, Igreja Presbiteriana na América (que tem os Padrões de Westminster como parte de sua Constituição) – essa rejeição é geralmente considerada uma “exceção aceitável” (i.e., ou é considerada uma “diferença semântica” com o palavreado dos Padrões, ou “uma diferença que é mais que semântica mas não está em desacordo com qualquer fundamento de nossos sistema de doutrina”). Em outras palavras, muitos presbitérios permitem que um candidato ao ministério discorde de Westminster nessa questão porque (eles creem que) não fere os “fundamentos” da nossa fé.
O Argumento de Westminster
Ainda assim, eu quero lhe apresentar um breve argumento em favor do Segundo Mandamento conforme interpretado pelos teólogos de Westminster – por que eles argumentaram dessa maneira.
Ao criar uma imagem de Jesus (por exemplo, em uma pintura ou um vitral), uma pessoa está inserindo suas ideias pessoais de como Jesus era. Como nós não sabemos como era sua aparência, essa imagem não seria uma verdadeira imagem ou representação de Cristo. Pelo contrário, seria simplesmente uma imagem de um homem originada na imaginação do artista, a qual ele chamou de “Jesus”.
Se essas imagens, portanto, não representam Cristo, então elas estão no lugar do verdadeiro Jesus. Evocar algum senso de adoração daquilo que não é Cristo, mas, pelo contrário, colocado no lugar de Cristo, é – por definição – idolatria. Se um observador contemplasse essa imagem com a intenção de adoração, por pensamentos ou emoções, então esse observador estaria adorando uma imagem feita por homens, não o verdadeiro Deus-homem, Jesus Cristo. O mesmo princípio também se aplicaria a imagens de Deus Pai e Deus Espírito Santo.
Os Padrões de Westminster não somente identificam a criação física de uma imagem de Deus (ou de uma das pessoas das Trindade), eles também miram a ideia por trás disso como uma violação do Segundo Mandamento. Não importa se a ideia é expressa em papel ou permaneça na mente, o mesmo princípio se aplica: inserir um Cristo “inventado” no lugar do verdadeiro Cristo revelado na Escritura é idolatria.
Em oposição a isso, os Padrões colocam a ênfase na Escritura, a auto-revelação de Deus, e não em imagens de Deus feitas pelo homem. Por quê? Porque a Bíblia é suficiente para guiar-nos em como e por quais meios devemos adorar a Deus. Eles argumentariam que nós não precisamos ajudar ou acrescentar às Escrituras através da criação de uma ideia de Cristo que, então, é chamada de “Cristo”.
Além disso, Deus já nos deu um meio visual pelo qual nós lembramos e participamos do corpo e sangue de nosso Senhor Jesus. A Escritura chama isso de “Ceia do Senhor” (1 Co 11.20). Nós ficamos, então, com esse questionamento: “Eu creio que a Palavra de Deus e os sacramento são meios suficiente de salvação e santificação para Seus eleitos?”. A resposta que dermos revelará como nós abordarmos a questão das imagens de Jesus.
Se você nunca pensou sobre esse assunto, eu quero encorajá-lo a considerar estudá-lo. Refletir sobre a sabedoria de nossa herança confessional não deveria assustar-nos. Pelo contrário, deveria – no mínimo – levar-nos a ponderar o raciocínio e a explicação da interpretação dos Padrões de Westminster para o segundo mandamento. Onde quer que você esteja nesse assunto, nós podemos concordar muito sobre isto: devemos todos batalhar para entender o Segundo Mandamento com maior fidelidade, reafirmar a suficiência da Escritra em todas as áreas da vida, beneficiar-nos através dos meios de graça e lutar por uma adoração íntegra.