Por que eu deveria votar?

Por John Frame

(nota do tradutor: Alguns termos e datas se referem ao modelo de eleições dos Estados Unidos. Votar não é obrigatório por lá – por isso o título é esse. Qualquer dúvida, é só deixar um comentário. Como o sermão é meio longo, vou dividir em 2 partes.)

Então, retirando-se os fariseus, consultaram entre si como o surpreenderiam em alguma palavra. E enviaram-lhe discípulos, juntamente com os herodianos, para dizer-lhe: Mestre, sabemos que és verdadeiro e que ensinas o caminho de Deus, de acordo com a verdade, sem te importares com quem quer que seja, porque não olhas a aparência dos homens. Dize-nos, pois: que te parece? É lícito pagar tributo a César ou não? Jesus, porém, conhecendo-lhes a malícia, respondeu: Por que me experimentais, hipócritas? Mostrai-me a moeda do tributo. Trouxeram-lhe um denário. E ele lhes perguntou: De quem é esta efígie e inscrição? Responderam: De César. Então, lhes disse: Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. Ouvindo isto, se admiraram e, deixando-o, foram-se. (Mateus 22:15-22)

O que o cristianismo tem a dizer sobre política? Bem, um monte de coisas. Tantas coisas que é difícil saber por onde começar. Talvez a coisa mais fundamental, porém, é que o cristianismo coloca a política em perspectiva. A Bíblia faz isso, é claro, com cada aspecto da vida humana. Em todas as áreas da vida, somos tentados ou a idolatrar a criação ou a desonrá-la. Algumas pessoas fazem do dinheiro o seu deus; outras dizem “dinheiro não tem importância nenhuma”, e então elas ignoram o dinheiro, desperdiçam-no e ficam pobres. Para algumas pessoas, o prazer é Deus – elas vivem e morrem por ele; Outras pessoas parecem se resentir quando elas vêem que alguém está se divertindo, então elas se tornam rabugentas e tristes. É parecido com a política. Como todos sabemos, é fácil se tornar um fanático a respeito da política, pensar que a vida e a morte dependem de os Republicanos ou os Democratas ou algum outro vencer em novembro. Por outro lado, também é fácil ficar frustrado com o processo político. Tantas idéias anti-cristãs, tanto comportamento torto – nos tenta a dizer que o cristão deve se afastar da política. Além disso, nós sabemos que a política não salva ninguém; então por que se importar com quem é eleito? O mundo vai ser queimado, e nenhum programa político pode salvá-lo.

Bem, o cristianismo nos salva de ambos os extremos, da mesma forma que em tantas outras áreas da vida. Política, como dinheiro, prazer, música, educação, ciência, esportes ou o que quer que seja – é importante, mas não é a coisa mais importante. Deus deu a todas essas coisas criadas uma importância real, uma dignidade real. Mas ele também as limitou, ele não nos permite adorálas, colocá-las em primeiro lugar. Somente ele é merecedor de nossa total devoção. “Busquem primeiro o reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas.” Todas essas outras coisas – comida, roupas, moradia, política – não são sem importância. Mas elas estão em segundo lugar para o Reino de Deus. E apenas buscando o Reino primeiro é que nós teremos a perspectiva correta nas outras coisas.

Na passagem da Escritura de hoje, nós vemos este equilíbrio no ensino de Jesus. De uma forma bem impressionante, porque sob pressão nós tendemos a tomar uma posição extremada ou desequilibrada. E jesus estava certamente sob terrível pressão aqui. Se eu estivesse escrevendo um romance baseado nesta passagem, eu teria que arrumar um título romântico – vejamos, que tal “Armadilha assassina”? Porque esta é a situação de nossa passagem. Lembre-se, isso acontece durante a Semana Santa. O capítulo anterior nos fala sobre Jesus entrando em Jerusalém; mais tarde naquela semana, sabemos que Jesus vai para a cruz para morrer. Então as coisas estão esquentando. Os inimigos de Jesus estão levando a sério a busca por uma oportunidade para matá-lo. Eles são muito covardes, porém, para pegar uma faca e enfiar nas costas de Jesus. Eles querem arrumar algum outro pra fazer o serviço sujo. Portanto, “Armadilha assassina”.

Nós sabemos que “armadilha” foi o caso de John DeLorean que esteve nas notícias recentemente.  John DeLorean era um executivo do setor automobilístico que teve dificuldades financeiras e se envolveu no tráfico de drogas. No julgamento, o juri decidiu que ele era inocente porque ele “caiu em uma armadilha”. Ou seja, os agentes do governo o enganaram para que ele fizesse algo que de outra forma ele jamais teria feito. Agora os fariseus e herodianos em nossa passagem estão tentando pegar Jesus – fazer com que ele faça algo que o torne criminoso. Especificamente, eles estão tentando fazer ele dizer algo que faça com que ele seja preso. Agora em nosso país isso normalmente não acontece, por causa de nossa tradição da liberdade de expressão. Graças a Deus por isso. Tiago nos diz como é difícil guardar a língua, e nós sabemos por experiência própria como é fácil escorregar e dizer algo ofensivo. Mas na maior parte do mundo hoje não há liberdade de expressão, e não existia isso na Palestina da época de Jesus. Então era muito fácil pegar alguém numa armadilha dessas – bastava fazer com que a pessoa criticasse o governo. Quase qualquer pessoa pode ser provocada a dizer algo ruim a respeito do governo.

Mas Jesus não caiu na armadilha deles. A língua dele não escorregou; pois sua palavra é a poderosa Palavra de Deus, que nunca falha. Homens maus poderiam atar o corpo humano de Jesus e pregá-lo numa cruz, mas eles não poderiam atar sua Palavra.

Veja o que acontece. Primeiro, eles lisonjeiam Jesus: “Mestre, sabemos que és verdadeiro e que ensinas o caminho de Deus, de acordo com a verdade, sem te importares com quem quer que seja, porque não olhas a aparência dos homens.” Bem, isso é que é um elogio de verdade! Tudo verdadeiro, mas é claro que eles não acreditavam mesmo nisso; eles estavam tentando pegar Jesus com a guarda baixa. Lisonja faz isso, certo? Ela nos coloca pra pensar em quão maravilhosos nós somos, sempre um assunto terrivelmente interessante pra se pensar, e então não prestamos muita atenção ao resto do que acontece. Esta é uma boa lição: se você quer colocar alguém em perigo, sempre ajuda se você lisonjear a pessoa primeiro – uma espécie de “engordá-lo antes de matar”. Encha a pessoa de orgulho, porque o orgulho precede a ruína.

Mas Jesus não caiu na armadilha. Jesus não ficou distraído pensando sobre quão maravilhoso ele é – de fato, ele É maravilhoso. (A lisonja era toda verdade!) Mas Jesus viu além do elogio e os chamou do que eles eram, hipócritas.

Mas agora olhe para a pergunta deles: “É lícito pagar tributo a César ou não?” Uma pergunta política muito esperta. Por um motivo, era uma questão muito interessante para as pessoas na época. Todo mundo estaria prestando muita atenção à resposta de Jesus. Os judeus tinham sido conquistados pelos romanos, e muitos deles odiavam o domínio romano. De fato, havia revolucionários chamados zelotes que estavam tentando derrubar o governo romano. Eles não acreditavam que o povo escolhido de Deus deveria se curvar diante de um rei estrangeiro e pagão. Por outro lado, haviam outros, como os herodianos, que ajudavam os romanos, e ainda outros, como os fariseus, que não gostavam dos romanos mas aceitavam os impostos romanos. Então era uma questão interessante. Jesus não poderia responder “sem ser gravado”. As pessoas iriam escutar e espalhar a notícia. Assim, parecia que a pergunta iria certamente colocar Jesus em problemas. Há algumas perguntas onde você se incrimina quer diga sim, quer diga não, como a famosa “Você já parou de bater na sua esposa?” O mesmo acontece aqui. Se Jesus dissesse “Sim, pague impostos para Cesar” muitas das pessoas ficariam zangadas, na verdade, algum zelote poderia ter assassinado Jesus. Por outro lado, se ele dissesse “Não, não pague os impostos”, então ele teria problemas com os romanos. E os romanos eram os únicos por ali que poderiam matar legalmente. Portanto, “Armadilha assassina”.

Como Jesus saiu desta armadilha? Pode ser que eu deva deixar você no suspense e terminar na próxima semana! Mas isso não vai acontecer. Vamos dar uma olhada na resposta de Jesus. Ele pediu, “Mostrai-me a moeda do tributo. Trouxeram-lhe um denário. E ele lhes perguntou: De quem é esta efígie e inscrição? Responderam: De César. Então, lhes disse: Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. Ouvindo isto, se admiraram e, deixando-o, foram-se.”

O que Jesus está dizendo aqui? Bem, ele está jogando aquele equilíbrio bíblico, aquela perspectiva apropriada que eu mencionei antes. Ele está dizendo que política é importante, mas não é a coisa mais importante. Ele está dizendo que César, governo, merece nosso respeito, mas que somente Deus merece nossa reverência absoluta. Vamos olhar estes dois pontos um de cada vez.

(continua aqui.)

Traduzido por Daniel TC | iPródigo | Original aqui.