“As pessoas estão morrendo famintas da grandeza de Deus”, observa John Piper, “mas a maioria delas não daria este diagnóstico de suas vidas problemáticas. A majestade de Deus é uma cura desconhecida. Há prescrições muito mais populares no mercado, mas o benefício de qualquer outro remédio é breve e superficial. Portanto, a pregação que não contém o aroma da grandeza de Deus pode até entreter por algum período, mas ela não tocará no clamor secreto da alma: ‘Mostre-me sua glória’”. Nossa maior necessidade, à medida que andamos no deserto da era presente, é ver o que o apóstolo João viu na ilha de Patmos – um vislumbre da glória de Deus.
Entretanto, como pregadores, queremos estar em sintonia com a congregação, não queremos? Queremos ser relevantes. Queremos estar com nossos rebanhos onde eles estão. Temos ouvido protestos por “sermões mais práticos”. Esses críticos desejam sermões que instruam em “como eu posso ser uma pessoa melhor”, “como posso lidar com o stress na minha vida”, ou “como eu posso obter mais sucesso”. E assim, sujeitando-se a esses lamentos, a terapia substituiu a teologia em muitas das pregações contemporâneas. O “eu” ganhou um espaço central, e Deus, se Ele estiver lá de alguma forma, está marginalizado. O foco foi deslocado de Deus – quem Ele é e o que Ele fez – para o “eu” e nossas atividades, nossas necessidades, nossas experiências. A suposição, claro, é que a teologia não é prática, que o estudo de Deus é irrelevante para nosso dia a dia. Mas nada poderia estar mais longe da verdade. O que nosso povo precisa é de pregação centrada em Deus.
Se o povo de Deus, em algum momento, conseguir enxergar um vislumbre da glória de Deus, isso se dará através da pregação da Palavra (1 Timóteo 4.4). É através da Palavra que o Espírito nos revela Deus – Sua pessoa, nome, atributos, obra e glória. A Bíblia foi dada para revelar Deus para Seu povo de forma que eles possam conhecê-lo, amá-lo e adorá-lo. A Bíblia é, fundamentalmente, um livro sobre Deus. Isso pode ser uma surpresa para alguns. Por causa de nossa inclinação natural ao nosso próprio “eu”, tendemos a achar que a Bíblia é um livro sobre nós. Ela não é. Ela é, do início ao fim, um livro sobre Deus: “No princípio, Deus” (Gênesis 1.1).
Se a Palavra é teocêntrica (centrada em Deus), como nossa pregação pode ser qualquer outra coisa além de teocêntrica? Nossa pregação é um reflexo de nossa teologia. Quando nossa teologia está focada em Deus e Sua glória, nossa pregação fará o mesmo. Em nossa cultura narcisista, infestada de materialismo, pragmatismo e relativismo, uma ênfase concentrada em Deus e Sua glória é exatamente aquilo que nosso povo precisa. Nossas mentes e nossos corações precisam ser afastados das coisas que podem ser vistas e direcionados para as coisas que não podem ser vistas e são eternas. Não foi esse o remédio para a alma atribulada de Asafe (Salmo 73)? Ele havia se tornado tão imerso em si mesmo e nos confortos dessa era que acabou invejando o perverso – até que ele entrou no templo de Deus. Foi somente quando os olhos dele se deslocaram das coisas temporais para as cosias eternas que a mente e o coração dele foram recalibrados.
A pregação centrada em Deus, entretanto, não nega a necessidade de se pregar a Cristo; pelo contrário, exige isso. A pregação centrada em Deus deve necessariamente ser focada em Cristo, porque é somente quando vemos a Cristo que podemos conhecer Deus (João 1.18). É somente através de Cristo, que é a imagem exata de Deus, que podemos conhecer e amar a Deus. Jesus Cristo é a soma e a substância de toda a Escritura: “pois quantas forem as promessas feitas por Deus, tantas têm em Cristo o sim” (2 Coríntios 1.20). É por isso que Paulo pode ousadamente declarar para os Coríntios, “decidi nada saber entre vocês, a não ser Jesus Cristo, e este, crucificado” (1 Coríntios 2.2); para os Colossenses, ele sucintamente diz, “Nós O proclamamos” (Colossenses 1.28); e ao mesmo tempo faz os anciãos de Éfeso saberem que ele não deixou “de proclamar-lhes toda a vontade de Deus” (Atos 20.27). Jesus Cristo é Aquele enviado dos céus (João 6) para nos libertar dessa era presente má e nos conduzir a Deus. Ele é Emanuel – Deus conosco – Ele é Deus por nós e, por Seu Espírito Santo, Deus em nós.
Somente a pregação que é centrada no Deus triúno e Sua majestade e condescendente amor por pecadores, demonstrado em Jesus Cristo, provocará a eterna doxologia: “Àquele que está assentado no trono e ao Cordeiro sejam o louvor, a honra, a glória e o poder, para todo o sempre!” (Apocalipse 5.13).
A pregação centrada em Deus expõe as coisas dessa era passageira como algo sem valor e enleva a alma para confessar junto com Asafe: “A quem tenho nos céus senão a ti? E na terra, nada mais desejo além de estar junto a ti. O meu corpo e o meu coração poderão fraquejar, mas Deus é a força do meu coração e a minha herança para sempre” (Salmo 72.25-26). Somente quando o povo de Deus tiver uma visão de Deus, em toda sua glória esplêndida, que começarão a desejar comunhão constante com Ele e orarão com zelo, “Vem, Senhor Jesus” (Apocalipse 22.20). Pode alguma coisa ser mais relevante para nossa vida diária do que a pregação centrada em Deus? Pode alguma coisa nos dar mais satisfação do que ver a glória de Deus na face de Jesus Cristo?