Nota do editor: esse texto é o primeiro de uma coluna periódica do autor. Ao longo do tempo, vamos traduzindo e colocando aqui os próximos. Não deixe de acompanhar!
Uma das coisas que eu pretendo fazer nesses próximos breves textos é fornecer nutritivos para a mente e para o coração. Mais especificamente, pretendo alimentar pensamentos na área (e disciplina) da apologética bíblica.
Há várias formas de dar conselhos em uma coluna curta como essa. Eu poderia escolher uma questão que me incomoda e beneficiá-lo com os meus crescentes anos de “sabedoria” de como ser “contra” essa questão. Três problemas relacionados entre si me vêm à mente, entretanto, quando penso nessa abordagem. Primeiro, creio que a “sabedoria” que eu penso ter a oferecer não é nada além de pedaços de autobiografia. E mesmo que você venha a concordar com o meu ponto de vista sobre a dada questão, talvez seja simplesmente porque temos esse incômodo em comum e você está feliz que mais alguém enxerga as coisas como você. Em segundo lugar, creio ainda mais que aqueles que forem ler isso aqui não estão interessados na minha vida e nos meus problemas; pelo menos, não de uma forma que os motive a continuar lendo. Em terceiro, duvido que você entender a minha opinião sobre algum assunto específico possa ajudar a longo prazo; não é algo que tenha valor contínuo. Então, ao concordar em escrever algo aqui de tempos em tempos, espero me ater aos assuntos e áreas que eu tenha bases mais firmes que apenas minhas ideias e idiossincrasias. Em outras palavras, se você veio à essa página para ler o que eu penso sobre “x”, você provavelmente deveria clicar no botão de “voltar”, apagar essa página do seu feed RSS e pular os próximos artigos com o meu nome (e assim se esgotam o meu vocabulário de internet).
Meu objetivo e método, então, é tentar estabelecer princípios bíblicos e teológicos que sejam parte da, e possam ser aplicados a, defesa do Cristianismo. Eu reconheço que tal abordagem pode soar estranha para alguns. Alguns anos atrás, um aluno me contou que havia acabado de voltar de uma conferência cujo tema era “Defendendo a Fé”. Eu perguntei o que houve de mais significativo lá, e a sua resposta me surpreendeu. Ele disse que o que mais lhe chamou a atenção foi o comentário de um dos palestrantes, mais ou menos assim: “Nesse ano, o nosso assunto vai ser a apologética, então vocês nem vão precisar trazerem as suas Bíblias”. O comentário, de acordo com o estudante, não era uma piada ou trocadilho. Era a declaração de um fato.
Um comentário desse tipo é compreensível, apesar de lamentável. É compreensível dada a forma em que muito, se não a maioria, da apologética é discutida. Para muitos, o contexto e o conteúdo da apologética era, primordialmente, apenas filosófico. Muitas das discussões ocorreram entre as quatro paredes da filosofia, usando argumentos filosóficos para chegar à conclusões filosóficas. A linguagem usada, os métodos de argumentação, os assuntos escolhidos para serem debatidos, tudo foi moldado e formado primariamente por uma agenda e um vocabulário filosóficos.
De certa forma, isso faz sentido. Há uma intersecção óbvia entre a apologética e a filosofia. Já que a filosofia busca perguntar e responder as “grandes” perguntas – o que é o universo? Quem sou eu? Como posso saber alguma coisa? O que é certo e errado? – seus assuntos são similares aos principais assuntos da fé cristã.
Parte do problema, contudo, é que as respostas da filosofia para essas questões têm sido, em sua maioria, antagônicas à verdade cristã. Assim, em reposta, os apologetas cristãos têm tentado dar respostas cristãs para essas questões filosóficas – respostas muitas vezes elaboradas em termos que os filósofos usariam e entenderiam.
Não somente isso, mas alguns dos ataques que foram feitos ao Cristianismo vieram dos filósofos. Porque a filosofia insiste em proceder com seus argumentos cheios de jargão e vocabulário erudito, os ataques da filosofia contra o Cristianismo serão feitos dessa forma erudita. Nesses casos, é perfeitamente aceitável, talvez até recomendável, responder à altura. O problema é que a apologética tem se tornado, generalizando um pouco, uma disciplina exclusivamente filosófica. Assim, não é de surpreender que esse meu aluno fosse a uma conferência sobre apologética e não precisasse abrir sua Bíblia. O que a filosofia requer é habilidade no raciocínio, não revelação bíblica (é o que dizem).
Mas uma coisa é reconhecer que a apologética cristã deve lidar com os ataques da filosofia, e outra, muito diferente, é pensar que a apologética cristã lida somente, primariamente ou absolutamente com ataques filosóficos. Eu desconfio que a maioria dos cristãos experimenta ataques à sua fé muito mais comuns e banais – o colega de trabalho que acha que ele está distante de tudo que é moderno, aquele conhecido que acha estranho você se opor ao casamento homossexual, o parente que parou de te chamar para almoçar depois que você recusou uma partida de golfe com ele no Domingo pela manhã. Esse tipo de coisa pode exercer enorme pressão à nossa fé; e podem tomar a forma de um ataque. Elas podem nos envergonhar, nos fazer calar sobre aquilo que acreditamos e nos fazem evitar totalmente esse tipo de situação. No pior dos casos, esse tipo de reação que enfrentamos nos levam a questionar nossa fé. O que precisamos é de fortalezas bíblicas; precisamos pensar sobre como responder a essas pressões. Nós precisamos, como a Escritura nos urge, estar prontos para dar uma resposta.
Mas se a apologética não deve buscar a verdade da revelação bíblica, se ela é apenas uma resposta filosófica aos desafios filosóficos, para que serve quando os outros ataques aparecem? Ou, para dizer de outra forma, como podemos defender a verdade do Cristianismo sem que essa mesma verdade seja uma parte integral, central e primordial dessa defesa? Espero que possamos pensar nisso juntos nos próximos meses.