Será que eu acabei de inspirar um pouco de Deus?

C Michael Patton
C Michael Patton

Crianças às vezes são os melhores investigadores do pensamento teológico. Estou me convencendo mais e mais de que se aqueles que são chamados para ensinar sobre a Bíblia e as verdades teológicas não tiverem o hábito constante de priorizar a educação das crianças, eles podem rapidamente se perder em um mar de pensamentos irrelevantes que não tem qualquer conexão com o mundo real. As crianças tem um certo jeito de nos colocar os pés no chão. Eu lembro de uma vez em que minha irmã, Kristie, tinha oito anos. Nossa mãe colocou ela para dormir falando sobre o retorno de Jesus. “Jesus pode voltar a qualquer momento”, ela dizia. De repente, Kristie pulou da cama e saiu correndo do quarto mais rápido que a luz. Minha mãe a chamou de volta e perguntou por que ela estava correndo. Kristie respondeu “estou indo buscar meus sapatos!”.

Outro dia, há pouco tempo, eu estava conversando com Zach, meu filho de três anos, sobre Deus. Ele me perguntou onde Deus estava. Sempre fico um pouco perdido com essa questão, quando meus filhos me perguntam. Quando minha filha Katelynn estava na idade dele e perguntou a mesma coisa, eu disse que ele está lá mesmo, conosco. “Aqui no quarto?”, ela disse. “É”, respondi. Então ela correu e se escondeu. Ela imaginou Jesus como um fantasma andando pela casa. Zach me perguntou e acrescentou “Onde está Deus? Eu não estou vendo ele”. Respondi “não sei, onde você pensa que ele está?” “lá no céu”, ele respondeu. Eu disse que “Deus está em todo lugar. Não importa para onde você vai, você não pode se esconder dele”. Para uma criança de três anos, isso é o melhor que eu posso fazer. Mas precisamos ter cuidado. Tecnicamente, a resposta “Deus está em todo lugar” pode ser um pouco enganosa.

Meu colega TIM Kimberley, diretor executivo do Credo House Ministries, estava relembrando de como um professor nosso do seminário, Dr. Jeffery Bingham, chefe do departamente de estudos teológicos do Seminário Teológico de Dallas, costumava fazer graça da noção de que Deus está em todo lugar. Enquanto falava sobre isso na aula, ele fazia uma pausa, respirava fundo, e dizia “espera aí, será que eu acabei de inspirar um pouco de Deus?”

Transcendência

Quando falamos sobre a essência de Deus, estamos falando de um Deus que não te um relacionamento com o tempo, o espaço e a matéria. Em outras palavras, Deus criou tudo (tempo, espaço e matéria) a partir do nada e não compartilha dos mesmos atributos físicos. Essa afirmação é tão importante que vale repetir: Deus criou tudo (tempo, espaço e matéria) a partir do nada e não compartilha dos mesmos atributos físicos. O termo teológico para isso é “transcendência”.

O dicionário define transcendência como “Ter existência contínua além do mundo criado”. Bom, mas não exatamente o que precisamos.  Deus não possui uma extensão no espaço. Ninguém pode medir sua estatura. Em sua essência trinitariana, ele não tem altura, peso, cor ou jeito de caminhar. Ser transcendente é mais um aspecto da “santidade” de Deus. Ser “santo” significa “separado”, “diferenciado”. Deus não só é moralmente santo, mas ele também é ontologicamente santo. Em outras palavras, seu próprio ser – sua essência, seu ontos – é separado, distinto, e além de nós. Isso significa que em um senso bem realista, nós nunca “veremos” Deus com nossos olhos. Veja o que Paulo fala aqui:

1 Timóteo 6:16

[Deus,] o único que é imortal e habita em luz inacessível, a quem ninguém viu nem pode ver. A ele sejam honra e poder para sempre. Amém.

Eu amo esse versículo. Note que ele habita (possui um lugar de existência) em uma luz que é inacessível (no grego, apositon, a negação de positon, que significa “achegar” ou “aproximar”). E se isso não fosse o suficiente para nos convencer da santidade totalmente transcendente da natureza de Deus, Paulo continua e diz que ninguém viu ou pode (dunatai – “possui capacidade”) vê-lo. Eu já ouvi pessoas falando que o conceito Evangélico Ocidental de Deus e de sua transcendência não está presente na Bíblia, mas são apenas um resquício distorcido do pensamento grego. Alguém esqueceu de avisar isso para Paulo!

Eu sei que alguns de vocês estão decepcionados com o pensamento de não são capazes de ver Deus. Enquanto é verdade que nunca o veremos em essência, nós vemos manifestações reais dele em sua presença relacional.

Imanência

Se eu parasse na transcendência, não teríamos nada além dos ingredientes principais de uma cosmovisão conhecida como “Deísmo”. Deístas acreditam que Deus é transcendente à toda a criação, mas eles também acreditam que ele não pode, devido à sua total transcendência, interagir com a criação. Daí o porquê da cosmovisão cristã ser tão única. A Bíblia nos ensina que Deus é tanto transcendente como imanente. Ele está tão longe quanto perto. Ele é criador e sustentador. Ele está além do tempo, e agindo no tempo. Ele é santo e ativo. Deus está presente relacionalmente, manifestando seu amor e seu poder de várias formas, cuja a mais importante é a encarnação de Jesus Cristo. Cada membro da Trindade está ativo no tempo, espaço e na matéria de uma forma muito real.

Deus está em todo lugar?

Depois de percorrer por esse prólogo teológico, penso que podemos começar a lidar com a ideia de que Deus está em todo lugar. Nós acreditamos que Deus é onipresente (do grego omni – “todo” + presente). Mas sua onipresença não tem a ver com sua extensão no espaço, como se Deus estivesse esticado por todo o universo (espera – será que eu acabei de inspirar um pouco de Deus?). Tem a ver com o relacionamento do espaço com Ele.

Aqui está o que eu acredito ser uma definição melhor da onipresença de Deus:

“Deus está em todo lugar”

“Todo lugar está na presença imediata de Deus”

Eu escrevo isso porque vejo meus cristãos descrevendo Deus de formas que se aproximam do panteísmo. Por mais que possamos acomodar até certo ponto tais conceitos quando nossos filhos tem três anos, devemos rapidamente buscar uma visão apropriada de Deus que reconheça a tensão entre a transcendência do ser Deus e a imanência da sua presença e atividade.

Panteísmo é a crença de que o ser de Deus está presente em todo lugar e em todas as coisas. De fato, para o panteísta, quando você respira, você está inspirando Deus. O “deus” do panteísmo é um ser impessoal que criou tudo o que há por necessidade. O universo é oq que ele é. O Deus da Bíblia não é de qualquer forma dependente ou parte de sua criação. Ele criou todas as coisas livremente a partir do nada (ex nihilo).

Entretanto, de vez em quando a definição cristã da onipresença de Deus parece um pouco panteísta (espera aí – eu inspirei mais um pouco de Deus agora?). Muitas vezes nosso entendimento da onipresença de Deus sugere que Deus é um ser extremamente largo, ocupando uma vasta quantidade de espaço, ou que de alguma forma ele está espalhado igualmente por todo o universo. Amigos, não somos panteístas. Nós cremos em um Deus que permanece em um relacionamento transcendente com toda a criação, mas está ativo e envolvido em relacionamento com ela. Com certeza, esse é um grande mistério, mas é uma misteriosa necessidade que não deveria ser transformada em descrições que fazem mais mal do que bem.

Enquanto a essência de Deus não está em todo lugar, a presença de Deus está em todo lugar. Assim, não há lugar para o qual possamos fugir da presença imediata de Deus.

Salmo 139.7-12

Para onde poderia eu escapar do teu Espírito? Para onde poderia fugir da tua presença? Se eu subir aos céus, lá estás; se eu fizer a minha cama na sepultura também lá estás. Se eu subir com as asas da alvorada e morar na extremidade do mar, mesmo ali a tua mão direita me guiará e me susterá.                  Mesmo que eu diga que as trevas me encobrirão, e que a luz se tornará noite ao meu redor, verei que nem as trevas são escuras para ti. A noite brilhará como o dia, pois para ti as trevas são luz.

Traduzido por Filipe Schulz | iPródigo.com | Original aqui