Os maiores perigos com estar ocupado não são inconveniências materiais e temporais. Uma pessoa pode realizar trabalho físico 12 horas por dia, seis dias por semana durante uma vida inteira e não sofrer por isso. Na verdade, ele deve ser excepcionalmente saudável. Porém, se a tensão é mental – como é o caso para a maioria dos trabalhos e para a maioria de nós – os efeitos negativos podem ser enormes.
Ainda mais quando as ameaças são espirituais.
Quando estamos muito ocupados, colocamos nossas almas em risco. O desafio não é meramente fazer alguns maus hábitos sumirem. O desafio não é deixar nossas vidas espirituais deslizaren. Os perigos são sérios, e são crescentes. E poucos de nós estão tão a salvo quanto parecemos.
O primeiro perigo é que estar ocupado pode arruinar nossa alegria. Essa é a ameaça espiritual mais imediata e óbvia. Como cristãos, nossas vidas devem ser marcadas por alegria (Fp. 4.4), ter gosto de alegria (Gl 5.22), e serem preenchidas com plenitude da alegria (Jo 15:11). Estar ocupado ataca tudo isso. Um estudo mostrou que passageiros frequentes enfrentam maiores níveis de stress do que pilotos de caça e policiais de choque (Chester 115). Isso é o que encaramos. O pecado ainda é o nosso pecado, mas não há dúvida que quando nossas vidas são frenéticas e desenfreadas estamos mais inclinados à ansiedade, ressentimento, impaciência e irritabilidade.
Enquanto estava trabalhando em um novo livro nas últimas duas semanas, pude sentir um espírito melhor em mim. Não por causa da minha escrita, mas pelo tempo que eu tirei para escrever. Durante o meu intervalo das pressões de viagens, eventos, e preparação constante de sermões, vejo-me mais paciente com meus filhos, mais atencioso com minha esposa, e mais capaz de ouvir Deus. Obviamente, todos temos semanas e meses em que tudo que pode dar errado, dá errado. Nessas temporadas teremos de lutar por alegria em meio a tanta ocupação. Porém, poucos de nós vão lutar agora pela alegria da próxima semana ao combater hábitos desnecessários da nossa ocupação, que transformam a maioria das semanas em uma infeliz inconveniência.
Anos atrás ouvi uma entrevista com Richard Swenson, um médico cristão, sobre o conceito de margem. Não há algo unicamente cristão sobre essa ideia, mas há algo muito não-cristão ao ignorá-la. “Margem”, Swenson diz, “é o espaço entre o nosso fardo e nossos limites” (69). Planejamento para margem significa planejamento para o não planejável. Significa que entendemos o que é possível para nós como criaturas finitas e agendamos menos do que isso.
Durante o ano passado, percebi que muitas vezes não planejo uma margem nas minhas semanas, mas, na verdade, margem inversa. Olho para a minha semana e antes de alguma interrupção surgir, ou alguma nova oportunidade aparecer, ou algum contratempo ocorrer, não tenho nenhuma ideia de como vou fazer tudo acontecer. Vejo os eventos que tenho que ter, os sermões que tenho que preparar, os emails que tenho que escrever, os blogs que tenho que postar, os projetos que tenho que completar, as pessoas que tenho que ver e percebo que se tudo acontecer um pouco melhor do que o esperado, poderei apertar isso tudo. Mas é claro, não existem semanas ideais, e, como consequência, não tenho nenhuma margem para absorver as surpresas. Então, me entrego, fico estressado, e fico ocupado. Isso é tudo que posso fazer no momento porque antes não planejei semanas melhores.
Estar ocupado é como pecado: mate-o ou ele está te matando. A maioria de nós cai num padrão previsível. Começamos a ficar sobrecarregados por um ou dois projetos. Então, nos sentimos esmagados pela rotina diária. Então, nos desesperamos de nunca sentir paz novamente e prometemos que algo tem que mudar. Então, duas semanas depois a vida é mais suportável, e esquecemos o nosso juramento até que o ciclo comece tudo de novo. O que não percebemos é que durante todo esse tempo, temos sido um miserável infeliz, mordendo como uma tartaruga e tão pessoalmente envolvido quanto um gato. Quando a ocupação atormenta a alegria, ela atormenta a alegria de todos.