As Trevas
Enquanto pensamos no Natal como uma época de luz, a verdade é que a história do nascimento de Jesus Cristo está cheia de trevas. Antecipando o nascimento do menino Cristo séculos antes de Maria ficar grávida, Isaías escreve que a luz que viria ao mundo, viria para um povo envolto em trevas (Isaías 9.1-7). Obscuridade, desprezo e aflição foram apenas alguns dos termos usados para descrever essas trevas.
Portanto, para entendermos melhor a plena revelação da luz que veio ao mundo quando Cristo nasceu, precisamos reconhecer as trevas nas quais nosso Cristo nasceu. Hoje, consideraremos sete aspectos dessas trevas, aspectos esses que não estão fora do controle de Deus, mas, ao invés disso, foram ordenados soberanamente para que a luz de Cristo pudesse radiar de forma ainda mais brilhante.
Primeiro, quando Cristo nasceu, a palavra de Deus não era ouvida há quatro séculos.
Malaquias é o último livro do Antigo Testamento, escrito no século V a.C. Ele termina com a afirmação de que Deus enviaria o profeta Elias como um precursor do Messias. Mas desde que essa afirmação foi feita, que seria eventualmente cumprida em João Batista, Deus se silenciou. E todos sabiam disso. Ouça alguns escritores judeus da época:
Talmude Babilônico, Yomah 9b: “Após a morte dos últimos profetas Ageu, Zacarias e Malaquias, o Espírito Santo se apartou de Israel, mas eles ainda se beneficiavam da voz dos céus.”
Josefo, Contra Ápion: “Desde Artaxerxes até os nossos dias, uma história completa foi escrita, mas não foram considerados dignos da mesma confiança dada aos registros mais antigos, devido à interrupção na sucessão exata dos profetas.
1 Macabeus: “Então eles demoliram o altar e puseram as pedras em um lugar conveniente sob o monte do templo, até que viesse um profeta e dissesse o que deveria ser feito com elas.”
Sem a palavra de Deus presente entre eles, o povo andava em trevas espirituais.
Segundo, o povo de Deus estava sob o governo opressivo de Roma.
Isso é evidente na história do nascimento de Jesus. Lucas 2.1 registra o censo decretado por César Augusto. Era um lembrete flagrante de que o povo de Israel era dominado por outro. Do mesmo modo, Herodes, um descendente de Edom, governava Jerusalém. Os dias dos reis davídicos tinham ficado para trás. Como acontece hoje, soldados andavam nas ruas de Jerusalém. A diferença era que eles não eram israelitas de 19 anos com uma M-16 nas mãos. Eram guardas romanos, chamados para policiar a cidade de Davi.
Em alguns aspectos, Israel havia escapado do exílio. Não viviam mais na Babilônia. Contudo, em muitos aspectos, eram exilados em seu próprio país. Até mesmo o templo deles foi construído por um estrangeiro – Herodes, o Grande, um descendente de uma nação rival. Trevas políticas reinavam!
Terceiro, a nação de Israel estava fragmentada.
Quatro grupos lutavam para liderar o povo: (1) Os Fariseus moravam em Jerusalém. Eles tentavam moldar a vida religiosa em Israel de acordo com suas tradições. Jesus teve várias discussões com esses legalistas judeus que faziam o povo de Deus se desviar (cf. Mateus 23). (2) Os Saduceus se opunham ao legalismo rígido dos Fariseus, e aceitavam apenas a lei mosaica (Gênesis – Deuteronômio). Eles rejeitavam a ressurreição e a existência de anjos, mas ainda tinham influência no templo e nos tribunais. (3) Os Essênios, que viviam em uma comunidade perto de Qumram – escribas que copiaram e preservaram os manuscritos do Mar Morto – tinham uma vida especialmente pura. Eram devotos a Deus e oravam pela queda do Império Romano. (4) Os Zelotes eram um grupo de irmãos que não oravam por mudança, mas eles próprios buscavam, através da violência, meios para destruir o governo romano.
O resultado dessas quatro facções religiosas competindo entre si levou a um constante desgaste dentro do Judaísmo, apenas aumentado pelo governo opressor de Roma. Tumultos eram comuns. A tensão era contínua. Trevas permeavam o Judaísmo.
Quarto, o nascimento de Jesus veio através de uma virgem.
Agora, em nossos dias, consideramos Maria um exemplo de devoção e fé. Enviamos cartões de Natal com cenas de presépio e cantamos músicas louvando a Deus por essa humilde serva. Mas antes não era bem assim. Mateus 1 registra que José, que era um homem justo, amava Maria, pensou em deixá-la secretamente. Por quê? Porque todos sabem como uma criança é concebida! E o filho de Maria cresceria sendo ridicularizado como um filho de uma mulher impura (cf. João 8.41). O nascimento através de uma virgem não era um evento celebrado no Israel antigo. Trevas o rodeavam!
Quinto, o censo era uma imposição considerável.
Morando em Nazaré, Maria e José estavam a mais de 160 km ao Norte de Belém. Além disso, não havia um caminho direto. Eles foram forçados por restrições legais a fazer a viagem árdua. Sem estrada, carro, assento confortável e um sistema de suspensão, o casal de adolescentes foi forçado a caminhar por montes e cruzar riachos. Apesar de celebrarmos a peregrinação hoje com uma festividade iluminada, foi uma caminhada nas trevas.
Sexto, a pobreza de Maria e José não combinava com o filho real que eles tinham.
Não apenas as condições prévias ao nascimento de Cristo eram trevas, mas o próprio evento do nascimento também. Lucas 2.7 registra que “não havia lugar para eles na hospedaria.” Provavelmente porque estava ocupada com viajantes vindo para o censo, mas também poderia ser que José, cuja profissão era carpinteiro, não tinha meios para pagar por um quarto. O dinheiro manda, certo? Uma coisa é clara, José não tinha poder de barganha. Maria e José foram ao estábulo, onde Jesus nasceu e depois colocado em uma manjedoura. Sem família e hospitalidade, trevas os envolviam.
Sétimo, através das forças hostis de Herodes, Satanás tentou matar Jesus.
A pobreza não era a única fonte de trevas; perseguição seguia o nascimento de Jesus, e assim ele estava constantemente sob ameaça.
Mateus 2.1-8 – E, tendo nascido Jesus em Belém de Judéia, no tempo do rei Herodes, eis que uns magos vieram do oriente a Jerusalém, dizendo: Onde está aquele que é nascido rei dos judeus? Porque vimos a sua estrela no oriente, e viemos a adorá-lo. E o rei Herodes, ouvindo isto, perturbou-se, e toda Jerusalém com ele. E, congregados todos os príncipes dos sacerdotes, e os escribas do povo, perguntou-lhes onde havia de nascer o Cristo. E eles lhe disseram: Em Belém de Judéia; porque assim está escrito pelo profeta:
E tu, Belém, terra de Judá, de modo nenhum és a menor entre as capitais de Judá; Porque de ti sairá o Guia que há de apascentar o meu povo de Israel.
Então Herodes, chamando secretamente os magos, inquiriu exatamente deles acerca do tempo em que a estrela lhes aparecera. E, enviando-os a Belém, disse: Ide, e perguntai diligentemente pelo menino e, quando o achardes, participai-mo, para que também eu vá e o adore.
Herodes, tão paranóico por sua posição e poder que chegou a matar várias pessoas de sua própria família, tenta usar os magos para levá-lo ao menino Cristo – não para adorar, mas para exterminar. Quando ele percebe que os magos não cooperaram com seu plano, ele ordena a execução de todas as crianças de Belém e região.
Mateus 2.16 – Vendo-se iludido pelos magos, enfureceu-se Herodes grandemente e mandou matar todos os meninos de Belém e de todos os seus arredores, de dois anos para baixo, conforme o tempo do qual com precisão se informara dos magos.
As Boas Novas das Grandes Trevas
As trevas estavam por toda parte no nascimento de Cristo, fato que não deveria causar surpresa quando analisamos as profecias do Antigo Testamento e as condições do mundo que Deus criou. Como João 1 diz, “a verdadeira luz, que, vinda ao mundo, ilumina a todo homem, … mas o mundo não o conheceu.”
A realidade das trevas em volta de Cristo não é por si só confortante, mas quando consideramos que Cristo veio nas trevas para trazer luz, a verdade se torna maravilhosamente bonita. Pois todos nós enfrentamos períodos de trevas, e o Deus encarnado sabe exatamente como é e como nos sentimos.
Lembrar que a luz de Cristo veio nas trevas da noite nos dá esperança de que Deus ainda pode derramar luz em nossos corações e fazer a luz brilhar em nossas vidas. Não importa quão escuro esteja, não importa de onde as trevas vem, Deus é a luz que ilumina a todos, e veio para fazer morada na vida daqueles que olham para Cristo.
Soli Deo Gloria
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