Últimas palavras

Últimas palavras são importantes.  Se você já esteve com alguém durante ou perto do momento de sua morte, sabe a importância que isso tem.  O que alguém diz naquelas horas finais tem especial importância e impacto.  Se foram ditas em sã consciência, trataremos essas últimas palavras com especial reverência, reconhecendo nelas o peso de uma vida inteira de experiências e convicções.  Nós assumimos que as últimas palavras transmitem as verdadeiras prioridades e conclusões da vida; em essência, elas respondem a pergunta: “O que importa quando tudo que é periférico é retirado?”.

Sem dúvida, foi assim que Timóteo se sentiu quando leu as últimas palavras de Paulo a ele.  Nós as lemos hoje nas páginas de 2 Timóteo como parte das nossas Bíblias, porém, para Timóteo, elas certamente não pareciam apenas um livro entre muitos.  Não, para ele, elas carregavam o impacto das últimas palavras de um amado mentor no leito de morte.

Assim, que coisas Paulo destaca em suas últimas palavras a Timóteo?  Que prioridades, mandamentos ou palavras de aconselhamento ele tem?

Em 2 Timóteo 4.5, Paulo dá quatro ordens a Timóteo, quatro declarações imperativas explicando a natureza do ministério que ele deveria buscar.  Esses mandamentos fariam de Timóteo o tipo de ministro que contrastaria nitidamente com os falsos (porém, populares) mestres que Paulo sabe que surgirão e proliferarão nos últimos dias (2 Tm 4.3-4). Timóteo, junto com todos os outros ministros piedosos, não deve ser como esses mestres.  Pelo contrário, Paulo oferece seus quatro mandamentos.

O primeiro é “sê sóbrio em tudo”.O termo que Paulo usa denota seriedade ou sensatez.  Na verdade, uma das traduções antigas simplesmente dizia: “mantenha a cabeça em todas as situações”. Líderes de igreja sempre estarão sujeitos aos altos e baixos do ministério, mas é vital que mantenhamos nossas cabeças – mesmo se parece que todo mundo na igreja está perdendo a sua!  Auto-controle e sensatez são contraculturais hoje.  Nossa época é uma época de drama pessoal constante.  Parece que acreditamos que nada poderia ser mais importante e fascinante que nossos altos e baixos psicológicos.  Nós também vivemos em uma época de modas – novos livros, novos modelos de ministério, novos professores e métodos populares – e é fácil ser pego em todas essas tendências passageiras.  Mas, de acordo com esse mandamento, os ministros precisam aspirar algo mais – não a montanha-russa das emoções, pânico, modas e caprichos, mas a estabilidade que vem de conhecer o que cremos e Aquele a quem servimos.

O segundo mandamento de Paulo é “sofre as aflições”. Paulo não embeleza as dificuldades do ministério.  Ele assume que envolverá esforço e dificuldade.  Como esse realismo é diferente de muito do que é ensinado a jovens ministros.  Frequentemente, é a glória, não a dificuldade do ministério que é destacada.  Mas não demora muito para perceber que qualquer ministério que é equilibrado, que não procura simplesmente ensinar às pessoas o que elas querem ouvir, conduzirá a sofrimento e dificuldade.  E essa dificuldade não é motivo para abandonar o posto, mas para ficar e continuar o trabalho até o fim.

Terceiro, Paulo manda Timóteo que faça “a obra de um evangelista”. Isso é particularmente interessante à luz do fato de que Paulo classifica algumas pessoas como especialmente dotadas para o evangelismo.  Em Efésios 4.11, evangelistas são listados junto com pastores-mestres como dons dados por Cristo a sua Igreja. Porém, embora inquestionavelmente existam aqueles que são separados com um dom particular em evangelismo, a obra de um evangelista não se restringe àqueles especialmente dotados.  Pedro ordena todos os cristãos a “estar sempre preparados para responder a razão da esperança que há em vós”; e Paulo lembra Timóteo que uma de suas obrigações inegociáveis como ministro se relaciona ao evangelismo regular.

Paulo tem em mente o fim do ministério com seu último imperativo: “cumpre o teu ministério”. Nos dias de Paulo, assim como nos nossos, era fácil começar alguma coisa.  Mas começar não é suficiente.  A obra que Deus nos confiou deve ser completada, não apenas iniciada.  Isso não significa que não há hora de mudar ou fazer uma transição, mas significa que os ministros precisam pensar primeiro sobre o próprio trabalho e sua conclusão, não sobre sua agenda e planos pessoais.

Esses imperativos são difíceis.  Na verdade, eles são realmente impossíveis.  Embora sirvam como um guia para prioridades e pontos focais do ministério, eles também servem para mostra quão longe e quão frequentemente nossos esforços ministeriais ficam aquém.  Paulo certamente sabia disso.

Mas, ainda assim, há algo notável nessa lista.  Quando a examinamos de perto, vemos que é tanto um guia claro quanto um espelho mostrando nossas falhas.  Mas, mesmo quando mostra nossas falhas, ela também mostra a perfeição de Jesus.  Pense sobre isso.  Somente ele exibiu sobriedade e foco mesmo nos momentos de tentação de maior pressão; ele suportou a própria cruz, em obediência ao Pai e por amor por suas ovelhas; ele sempre pregou as boas novas em toda sua plenitude; e ele cumpriu seu ministério até o final.

Assim, enquanto as últimas palavras de Paulo possuem impacto e colocam pressão sobre nós (como elas deveriam), talvez devêssemos lê-las enquanto temos em mente as últimas palavras de Jesus antes de entregar seu espírito.  Quando o autor e consumador da nossa fé tinha cumprido a vontade de seu Pai, suas últimas palavras foram declaradas com autoridade: “Está consumado”.