Compreender a distinção entre o poder absoluto de Deus e o seu poder ordenado pode resolver um monte de problemas teológicos entre muitos cristãos evangélicos, especialmente entre os (inadvertidamente) do tipo hiper-calvinista.
O poder absoluto de Deus é aquele poder para fazer aquilo que ele não efetuará. Ele poderia transformar meu computador em um bolinho. Mas eu não espero que ele o faça, apesar de depois de ler certas postagens de blogs, gostaria que ele o fizesse… Mas deixa isso pra lá, estou fugindo do assunto…
Seu poder ordenado envolve seu decreto para fazer aquilo que ele ordenou efetuar.
Muito simplesmente, o que Deus é capaz de fazer não é sinônimo daquilo que Deus escolheu fazer.
Longe de ser escolasticismo anabolizado – embora tenham havido variações desta distinção que até mesmo Calvino pensava serem bárbaras – esta distinção tem rico suporte bíblico.
Aqui está um exemplo do poder absoluto de Deus:
“E não presumais de vós mesmos, dizendo: Temos por pai a Abraão; porque eu vos digo que mesmo destas pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão.” (Mateus 3:9)
Até onde sabemos, Deus, de fato, não suscitou das pedras “filhos a Abraão”, mas ele o poderia ter feito (de acordo com o seu poder absoluto).
Em outro lugar, Cristo traz o poder absoluto de Deus ao lado de Seu poder ordenado:
“ Ou pensas tu que eu não poderia, agora, orar a meu Pai e que ele não me daria mais de doze legiões de anjos? Como, pois, se cumpririam as Escrituras, que dizem que assim convém que aconteça?” (Mateus 26:53-54)
Deus poderia ter enviado mais de doze legiões de anjos para resgatar Cristo da sua paixão, mas, de acordo com o seu poder ordenado, ele não o fez.
Uma alusão a esta doutrina pode até ser encontrada na tentação de Cristo. Satanás tentou Jesus a transformar pedras em pães para provar que ele era o Filho de Deus. Mas Jesus (que poderia ter feito isso de acordo com o seu poder) não o fez porque as Escrituras eram sua regra de vida, e não o diabo ou mesmo o que o próprio Jesus poderia ter feito (Mateus 4:3-4)
É por isso que esta doutrina é tão prática. Devemos resistir à tentação de viver no mundo do poder absoluto de Deus e, ao invés disso, confiar no ser poder ordenado, de acordo com a sua palavra. A distinção mencionada acima se relaciona intimamente com como vivemos a vida cristã.
De acordo com o poder absoluto de Deus, ele poderia santificar a minha congregação imediatamente pelo poder do seu Espírito, à parte da minha pregação, da leitura da Palavra de Deus e dos sacramentos. Mas, de acordo com o seu poder ordenado, ele escolheu não fazê-lo.
Em outras palavras, se eu continuar tendo “cuidado” de mim mesmo e da “doutrina”, e persistir em fazê-lo, então eu posso ter expectativas de salvar a mim mesmo e os meus ouvintes (1 Timóteo 4:16; ver também Romanos 10:14-15).
Deus ordenou meios para efetuar fins.
Igualmente, Deus ordenou que oração efetuasse certos fins. Se eu não orar, não receberei (Tiago 4:2; Mateus 7:7-11).
Claro, Deus poderia efetuar todos os seus fins sem as orações do seu povo, mas ele não ordenou que fosse desta forma. Ele trabalha poderosamente através das orações do seu povo fraco (Romanos 8:26-27).
Se eu não criar os meus filhos no temor e admoestação do Senhor (Efésios 6:4), devo ter qualquer razão para confiar nas promessas pactuais de Deus para eles? Eu educo os meus filhos de acordo com as exigências da aliança, não de acordo com a vontade secreta de Deus (Deuteronômio 29:29).
Da mesma forma, uma senhora cristã poderia se contentar com a ideia de que Deus poderia converter o seu marido enquanto ele estivesse andando pela rua ouvindo Pavarotti; mas, ao invés disso, talvez ela devesse considerar 1 Pedro 3.1 sua esperança.
O poder ordenado de Deus, surpreendentemente, utiliza meios humanos. E estes meios são bastante comuns – pregação, oração, admoestação e piedade.
O poder ordenado de Deus envolveu a fraqueza de Cristo. A fraqueza de Cristo levou à sua vida de poder (Romanos 1:4). De fato,
“Porque, ainda que tenha sido crucificado por fraqueza, vive, contudo, pelo poder de Deus. Porque nós também somos fracos nele, mas viveremos com ele pelo poder de Deus em vós” (2 Coríntios 13:4).
Um poder fraco e comum é o único poder pelo qual se é digno de viver.
Traduzido e gentilmente cedido por Nayara Silveira Andrejczyk