Meu amigo Ryan é transexual. Antigamente, ele odiava Deus, mas agora tem sido um pouco mais receptivo à ideia de confiar em Jesus. Nesse artigo, quero compartilhar alguns pensamentos que tive sobre como discipulei Ryan. Assim, se você um dia discipular um transexual, você terá algumas idéias para começar.
O problema mais óbvio você provavelmente já imaginou, Ryan ainda não é um cristão. Como eu poderia estar “discipulando” então? Bem, evangelismo e discipulado são fundamentalmente a mesma coisa: levar pessoas a verem Jesus com seu tesouro supremamente satisfatório. Então não se preocupe, pensando que esse artigo não se aplica a você. Ele se aplica. Mesmo que você esteja discipulando cristãos ao invés de transexuais não crentes.
A razão pela qual conheci Ryan é porque não faço muitas perguntas. Se eu fosse um pouco mais cuidadoso de início, eu poderia ter evitado toda essa situação e me mantido na minha bolha evangélica conservadora. Em nosso ministério de universitários havia uma garota chamada Amy. Ela era a pessoa mais apaixonada por Jesus, extrovertida e alegre que eu já conheci. E você não podia dizer não para ela, porque ela sempre respondia com coisas como “Jesus me falou para conversar com essa pessoa!”. Coisas como essas te fazem pensar se Jesus não devia ter ido com ela no carro naquele dia. Amy me procurou um dia, antes de nossa reunião de oração às quartas, e me perguntou se eu poderia me encontrar com um amigo da escola dela, um homossexual que ainda não era crente em Jesus, mas vinha fazendo algumas perguntas sobre fé. Ela estava tão entusiasmada, tão alegre em Jesus, tão convincente com seu tom de “você é um pastor e esse é o seu trabalho” que eu não puder dizer não.
Após eu concordar, ela me contou o resto da história: Ryan era um dos excluídos na faculdade, porque ele se vestia como mulher, uma vez por semana. Ele havia marcado uma cirurgia de mudança de sexo para a primavera que vem. Ele era “casado” com uma jovem lésbica, por pura formalidade, para que pudessem manter seu estilo de vida homossexual discretamente. Seus pais haviam expulsado Ryan de casa, e ele não pisava em uma igreja desde a infância. Eu fiz o que pude para honrar a confiança de Amy e afirmei que adoraria me encontrar com Ryan. Então fui pra casa e me desesperei um pouco.
Na manhã seguinte, me ajoelhei e comecei a orar em meio a minha incapacidade. Nunca havia tido muito sucesso em alcançar homossexuais. Minha forte personalidade eventualmente é dura e intimidante – até para alguns cristãos. Assim, para aqueles que foram machucados pela igreja, eu deveria parecer com Genghis Khan. Minhas orações naquela manhã foram brutalmente honestas e não muito criativas. Eram algo como “Querido Jesus” seguido de algumas exclamações e alguns grunhidos.
Naquela noite, me encontrei com Amy e Ryan em um café. E naqueles primeiros minutos, Deus realizou uma obra profunda em minha vida. Eu acho que eu estava esperando encontrar com o Dennis Rodman usando um vestido de casamento ou algo do tipo. O que eu encontrei foi um ser humano chamado Ryan, criado à imagem de Deus, com as mesmas feridas, cicatrizes e questionamentos que eu e você e todo mundo tem. Não me entenda mal: havia muito desconforto, nos dois lados da mesa. Era muito pior que um daqueles primeiros encontros. Ryan estava incomodado. Era claro pra mim que ele estava me testando, pra saber se podia confiar em mim. E eu também estava incomodado, com medo que ele poderia descobrir a qualquer momento que eu era Genghis Khan, se levantasse e começasse a gritar obscenidades para mim e fazer uma grande cena. Parte do meu medo era egoísta, mas uma parte desse medo era sincera, a respeito do reino de Deus. Eu estava sentado à mesa com alguém que havia sido profundamente machucado por cristãos. Ele havia finalmente encontrado uma garota-de-Jesus alegre, em quem ele podia confiar. E agora ele arriscava uma interação com um pastor de verdade. Eu senti que muito estava em risco naquele encontro.
Meu objetivo ao contar a história de Ryan é convencer você que o discipulado deve estar centrado no evangelho. Para ver uma transformação real na vida de alguém, você deve levá-lo a se deleitar em Jesus mais do que no dinheiro, no amor, na ambição ou no egoísmo. A única forma de fazer isso é relembrar constantemente de sua pecaminosidade e de suas falhas – as “más notícias” do evangelho – para que ele desista de seus próprios esforços. Apenas assim você pode encorajá-lo a regozijar-se na poderosa graça de Deus através da cruz – as “boas notícias” do evangelho – para que ele sinta e acredite profundamente no amor radical de Deus por ele. Jack Miller, um missionário e professor de seminário, costumava resumir o evangelho nessas duas frases: “Alegre-se: você é pior do que imagina. Mas alegre-se: a graça de Deus é muito maior do que você jamais sonhou”. O mesmo evangelho que salva pecadores, santifica os crentes. O evangelho não te torna simplesmente justo perante Deus; ele te liberta para se alegar em Deus.
Traduzido por Filipe Schulz | iPródigo.com | Original aqui