René Descartes tinha problemas de confiança com seus sentidos. Foi ele quem cunhou a máxima filosófica: “Penso, logo existo”, pois a única coisa que você sempre pode ter certeza que existe é você mesmo, já que é você que está pensando esse pensamento egoísta. Tudo e todos no universo podem ser frutos da sua imaginação (ou produtos da Matrix!). Mas até isso prova que você tem uma imaginação, e como o pensador, logo, você é aquele que certamente existe.
Eu acho tanto estranho quanto espantoso que Descartes também cria de todo o coração na implausível noção do éter luminoso.
Éter é uma “substância” que, cria-se – desde o recém alfabetizado até o grande pai da física, Sir Isaac Newton – ocupava cada canto e fresta do espaço sideral. Como a luz se comporta como uma onda, deve haver uma substância na qual ela se move desde as estrelas até a terra, o que “prova” que o espaço não é um vácuo. O éter era descrito como invisível e sem peso, o que não gerava atrito ou qualquer outro efeito que provaria sua existência. Muito conveniente.
Como os físicos quânticos malandros não haviam ainda surgido com suas teorias revolucionárias, passando uma rasteira em tudo que era Newtoniano, provando que a luz também tinha uma natureza de partícula, não havia como desmistificar o éter.
A comunidade científica se alimentou da teoria do éter como um filhotinho sedento e ingênuo por séculos, até o Século XX, quando foi provado que o éter simplesmente não existia. Nunca havia existido. Em qualquer lugar.
Mas muito tempo depois da famosa teoria ser descartada como nada além de fruto de imaginação acadêmica, muitos dos sábios não aceitavam que poderiam ter estado tão errados. Uma geração após provas incontestáveis darem o golpe de misericórdia no éter, o físico britânico Sir J. J. Thomson, ganhador do Prêmio Nobel por ajudar a descobrir o elétron, ainda afirmava veementemente:
O Éter não é uma criação fantasiosa da especulação filosófica, mas é tão essencial para nós quanto o ar que respiramos.
O típico pensamento “a terra ainda é plana”.
Fé é uma coisa engraçada. Toda a vida e o seu viver são permeados pela fé. Cada vez que você senta em uma cadeira, escova os dentes, deixa seus filhos na escola ou lê um artigo em um site, você está confiando em algo ou alguém para algo que tem níveis variados de importância para você.
Mas e a sua alma? Você confia que seu pastor está certo? Você confia que o que seus pais te ensinaram está correto? Você acredita nas teorias que você viu em um documentário ou ouviu do seu colega de faculdade maconheiro? Você vai passar a eternidade no céu ou no inferno, dependendo do que você acredita. Isso é um princípio básico do cristianismo bíblico.
A diferença entre o cristianismo bíblico e qualquer outra religião, seita ou ensinamento metafísico no mundo é essa: apenas o cristianismo ensina que você não é salvo pelo que faz, mas pelo que acredita. Ou, no linguajar Reformado (bíblico), você não é salvo por obras, mas por fé.
Gálatas 3.11: E é evidente que, pela lei, ninguém é justificado diante de Deus, porque o justo viverá pela fé.
Efésios 2.8-9: Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie.
2 Timóteo 1.9: [Deus] que nos salvou e nos chamou com santa vocação; não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos
Tito 3.5: não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo
Retidão não é ser bom o suficiente, é ser bom – perfeitamente bom. Mas como ninguém pode alcançar esse patamar, nossa natureza procura inventar uma forma de alquimia que transforma nosso pecado em algo brilhante, aceitável. Mas nem tudo que reluz é ouro, ou mesmo pirita. É por isso que muitos dirão ao Senhor no Dia do Julgamento: “Senhor, Senhor! […] em teu nome não fizemos muitos milagres? [do catálogo de boas obras]” (Mateus 7.22).
Isso me faz lembrar da resposta de Larry King ao Rabino Marvin Heir, que disse em uma entrevista:
“… quando você faz uma prova, nem todo mundo precisa tirar nota 100. É prepotência pensar que quando você diz “conduta reta”, você quer dizer espécimes perfeitas. Seres humanos não são espécimes perfeitas. No mundo de Deus, eles serão aceitos na eternidade ou no céu eterno se passarem no exame. E qual é a nota de corte no céu? Eu não sei. Talvez seja 67 e não 65. Mas a questão é se você vive uma vida decente de saldo positivo, você não precisa ser perfeito”
A resposta cândida de Larry King: “Espero que seja só 51”.
Amém, Larry. Mas louvado seja Jesus, que em sua misericórdia e amor, levou todo nosso pecado sobre si na cruz, para que obtivéssemos 100% de sua nota de retidão imaculada imputada a nós, enquanto ele levava a punição pela nossa nota de reprovação. Mas se você não crê em Jesus para te salvar, e ao invés disso se baseia em suas próprias boas obras, você talvez esteja botando sua fé no éter.