O maior perigo para a igreja

por James M. Hamilton Jr
por James M. Hamilton Jr

O maior perigo que a igreja encara hoje provavelmente não é o que muitos de nós esperamos. Esperamos algum desafio que venha de fora, mas ele provavelmente vem de dentro. Em nossos dias, pode muito bem vir de pastores bem-intencionados.

Como pastores bem-intencionados se mostram como a maior ameaça às igrejas evangélicas hoje? Eles negam a verdade?

Não, os pastores que são a maior ameaça à igreja hoje confessarão as coisas certas. Eles confessarão a autoridade e inerrância da Bíblia, que Jesus salva e que ele é o único caminho para a salvação.

Então, como podem essas pessoas que querem o bem e fazem boa confissão serem uma ameaça à igreja?

A NATUREZA DO PERIGO

Eles são uma ameaça porque, a despeito de sua confissão, suas palavras e ações tratam o Cristianismo como nada mais que a melhor forma de terapia. Eles o tratam como autoajuda. Eles o tratam com um caminho para casamentos melhores, criação de filhos melhor, atitudes e desempenho no trabalho melhores, e por aí vai.

Cristianismo é sobre o sucesso aqui e agora. Isso, pelo menos, é o que você pode concluir ao escutar seus sermões e observar como eles trabalham a igreja. O que “funciona melhor” guia suas decisões.

Mas o Cristianismo não é primariamente sobre isso. O Cristianismo é primariamente sobre o Evangelho – sobre um Deus santo, rebeldes que merecem sua ira, um Filho divino que toma a punição que esses rebeldes merecem, e a promessa de perdão para todos que se arrependem e creem.

Cristianismo é sobre contar essa história real nas palavras da Bíblia, de forma que, pelo poder do Espírito Santo, as pessoas vejam a Deus, o mundo e a si mesmas corretamente.

Cristianismo é sobre o Deus triúno e as duas naturezas de Cristo.

Cristianismo é sobre o Espírito Santo sobrenaturalmente levar pessoas a serem nascidas de novo, de forma que elas amem essa história e encontrem nela sua esperança e alegria.

Cristianismo é sobre confiar na palavra de Deus com todo nosso coração e não confiar em nosso próprio entendimento – ou em nossas próprias ideias sobre o que funciona ou o que é relevante.

Cristianismo é sobre esperar o retorno de Cristo, que, quando vier, estabelecerá seu Reino, o que significa que este não é nosso lar.

Pastores que apresentam o Cristianismo como terapia e autoajuda não apresentam o Cristianismo. Eles são como os liberais que J. Gresham Machen denunciou. Machen disse que pessoas que não creem na Bíblia deveriam ser honestos e parar de se chamarem de cristãos, porque eles, na verdade, criaram uma nova religião que não deveria se identificar com o Cristianismo. Da mesma forma, os divulgadores da religião norte-americana da autoajuda e da psicologia pop e terapêutica deveriam ser honestos: eles não acreditam que a Bíblia é “proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça” (2 Tm 3.16).

Se eles acreditassem que a Bíblia realmente contém tudo que precisamos para ser salvos e viver vidas que agradam a Deus, eles pregariam a Bíblia em seus púlpitos. Não somente eles pregariam a Bíblia, confiando que Deus revelou o que ele sabe que seu povo precisa, confiando que Deus sabe mais que nós sobre o que é relevante, eles organizariam suas igrejas de acordo com os parâmetros da Bíblia, ao invés dos parâmetros do mercado e do mundo corporativo.

EVITANDO O PERIGO

Então, como as igrejas evitariam terminar com um pastor que as ameaçarão ao transformar o Cristianismo na religião da terapia de autoajuda?

1) Observe as qualificações para homens no ministério (1 Tm 3.1-7; Tt 1.5-9), e faça aos candidatos pastorais perguntas diretas quanto ao cumprimento dessas qualificações. Pergunte se ele vive essas declarações. Não assuma que todo candidato atenderá essas qualificações, e não assuma que todo candidato entenda essas qualificações. Peça que ele explique as qualificações.

2) Uma vez que o atributo que mais diferencia as qualificações de um presbítero (pastor) das qualificações de um diácono é que o presbítero seja “apto a ensinar” (1 Tm 3.2), preste muita atenção em seu ensino. Procure discernir se esse homem “apega-se firmemente à mensagem fiel, da maneira como foi ensinada”, se ele sabe bastante teologia “para que seja capaz de encorajar outros pela sã doutrina e de refutar os que se opõem a ela” (Tt 1.9).

3) Baseado no que você ouviu de sua pregação, pergunte-se as seguintes questões:

  • O ponto principal do texto que ele pregou era o ponto principal de seu sermão? (se ele não pregou um texto, nem considere seu nome).
  • Deus habita neste homem? É evidente que ele teme a Deus? Você pode dizer que ele sabe que os “mestres serão julgados com maior rigor” (Tg 3.1)? Ele “treme diante da palavra de Deus” (Is 66.2)? A Palavra de Deus é como um fogo em seus ossos que ele não pode conter (Jr 20.9)?
  • Ele acredita que sua tarefa principal é a explanação da Bíblia, que é proveitosa e relevante (2 Tm 3.16), ou ele pensa que precisa organizar a Bíblia de acordo com sua sabedoria, a fim de que ela seja proveitosa e relevante?
  • Esse homem ajudará a igreja a entender e viver as grandes verdades do Cristianismo?
  • Esse homem é um teólogo ou apenas um palestrante capacitado com um bom coração?
  • Você confia na habilidade deste homem de interpretar a Bíblia e dizer o que ela significa?

4)Considere também o que você entende que o chamado para o ministério pastoral é:

  • O ministério pastoral é sobre “o ministério da Palavra e a oração” (Atos 6.4), ou é sobre construir uma grande corporação de sucesso segundo os padrões do mundo?
  • O ministério pastoral é sobre o poder do Espírito de Deus através da Palavra de Deus, ou é sobre “discurso persuasivo” e apresentações bonitas? (cf. 1 Co 2.1-5).
  • A Grande Comissão (Mt 28.18-20) é sobre contar quantas “decisões” em nosso meio ou sobre fazer discípulos que aprenderam tudo o que Jesus ordenou?
  • As instruções de Jesus sobre disciplina na igreja (Mt 18.15-18) devem ser levadas a sério ou ele não praticará disciplina, uma vez que é ruim para os negócios?
  • A membresia da igreja é principalmente sobre um grande número que divulgamos ou os membros da igreja deveriam entender os “uns aos outros” do Novo Testamento seriamente?
  • As principais tarefas do ministério pastoral são a oração, o ensino e o pastoreio das almas, ou o ministério pastoral é mais sobre o crescimento dos negócios e o gerenciamento de um conglomerado de congregações?
  • Quais são seus planos para o evangelismo?
  • Quais são seus planos para o discipulado?
  • Quais sãos seus planos para a oração pelos membros da igreja?

Paulo disse aos presbíteros (ou pastores) da igreja em Éfeso que lobos penetrariam no meio deles e destruiriam o rebanho (Atos 20.29-30). Da mesma forma, Jesus disse que os falsos profetas seriam como lobos vestidos em pele de cordeiro (Mt 7.15). Talvez seja difícil reconhecer esses pastores bem-intencionados como lobos, mas Jesus disse que nós os conheceríamos por seus frutos (Mt 7.16-20).

Deixe-me complementar: nem todo pastor que não prega a Bíblia e organiza a igreja de acordo com um modelo de negócios ao invés de um modelo bíblico está intencionalmente tentando destruir o rebanho. Sim, alguns são maus. Alguns estão no ministério para sua própria vantagem. Mas o que dizer sobre pastores bem-intencionados que propagam um tipo de Cristianismo mundano, antibíblico e anticristão? Acredito que as palavras que Jesus disse sobre aqueles que corrompiam a Antiga Aliança se encaixam: “Deixem-nos; eles são guias cegos. Se um cego conduzir outro cego, ambos cairão num buraco” (Mt 15.15).

NOSSO CHAMADO

Vamos, portanto, prestar atenção às palavras de Jesus sobre o que um bom pastor faz – “O bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas” (João 10.11). Somente Jesus pôde entregar sua vida pelas ovelhas da maneira que ele fez na cruz. Mas seus subpastores podem dar suas vidas pelas ovelhas quando eles tomam suas cruzes e seguem os passos de Jesus, amando, ensinando, disciplinando, evangelizando, orando e protegendo as ovelhas dos lobos. Nenhum servo é maior que seu senhor (João 15.20).

Traduzido por Josaías Jr. | iPródigo | Versão original aqui