Então, o que é um fariseu? Todo cristão tem alguma ideia; na verdade, isso se tornou a versão cristã do “Nazista” – você ganha qualquer argumento se for primeiro a chamar o outro cara de Fariseu. Mas os cristãos sabem o que é um Fariseu?
Existem inúmeras passagens nos Evangelhos que falam sobre Fariseus, mas há um breve trecho que resume os principais elementos de sua teologia e prática. Ele está em Mateus 15:
Então chegaram ao pé de Jesus uns escribas e fariseus de Jerusalém, dizendo: Por que transgridem os teus discípulos a tradição dos anciãos? Pois não lavam as mãos quando comem pão. Ele, porém, respondendo, disse-lhes: Por que transgredis vós, também, o mandamento de Deus pela vossa tradição? Porque Deus ordenou, dizendo: Honra a teu pai e a tua mãe; e: Quem maldisser ao pai ou à mãe, certamente morrerá. Mas vós dizeis: Qualquer que disser ao pai ou à mãe: É oferta ao Senhor o que poderias aproveitar de mim; esse não precisa honrar nem a seu pai nem a sua mãe, E assim invalidastes, pela vossa tradição, o mandamento de Deus. Hipócritas, bem profetizou Isaías a vosso respeito, dizendo: “Este povo se aproxima de mim com a sua boca e me honra com os seus lábios, mas o seu coração está longe de mim. Mas, em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos dos homens.”
E o que podemos aprender sobre os Fariseus a partir desse texto?
O primeiro elemento do Farisaísmo está claramente implícito e Jesus o torna mais claro em outros lugares: Fariseus eram moralistas. Isso não significa apenas que eles acreditavam na moralidade; se fosse assim, todos os membros de qualquer religião seria um Fariseu. Pelo contrário, significa que eles viam a moralidade pessoal como o caminho para a redenção. É por isso que eles se tornaram tão hábeis em surgir em todas as situações para apontar pecados aparentes. Somente um moralista poderia estar preocupado se os discípulos de Jesus lavavam ou não as suas mãos. Este elemento central de sua teologia é o que Jesus tinha em mente quando contou a parábola do fariseu e do publicano. Um viu que a justiça era inalcançável e contava com a misericórdia de Deus. Mas o outro – o Fariseu – pensava que seu próprio caráter moral era suficiente para se aproximar de Deus.
O segundo elemento, bastante relacionado com a teologia Farisaica, é apresentado nessa passagem: Fariseus eram legalistas. Isso significa que eles multiplicavam as normas legais nunca encontradas nas Escrituras. A lei detalhava cerimônias para se lavar em várias ocasiões, mas o jantar não era uma delas. Eles nem mesmo fingiam se tratar de um problema bíblico, ao invés disso perguntavam porque os discípulos quebravam “a tradição dos anciãos”. A elevação da tradição humana – que Isaías chamou de “mandamentos do homem” – para o nível de lei Divina é legalismo. Não é surpresa que aqueles que veem a moralidade pessoal como necessário à salvação rapidamente multiplicam os regulamentos da lei.
Mas o terceiro elemento da teologia Farisaica é inesperado: Fariseus eram antinomistas. Isso parece impossível, mas olhe o que Jesus perguntou: “Por que transgredis vós, também, o mandamento de Deus pela vossa tradição?” Ele então mostrou um dos dez mandamentos e demonstrou que os fariseus habitualmente o quebravam. Eles falavam um monte sobre a lei, mas quando se tratava de mandamentos morais reais que Deus esperava que eles seguissem, eles reescreviam a lei. Sua tradição limitava tanto eles quanto os outros a um conjunto de normas fora da Bíblia e, ao mesmo tempo, os isentava das leis de Deus.
Então isso que um fariseu realmente é: um legalista moralista e antinomista. Muitos em nossa época sem lei assumem que isso é um paradoxo: legalismo e antinomianismo são e devem ser opostos. Isso é simplesmente falso. Pelo contrário, legalismo e antinomianismo são os filhos gêmeos do moralismo. Eis como funciona. Digamos que você queira alcançar o céu com base na sua própria moralidade; rapidamente você descobrirá que os mandamentos de Deus são muito difíceis de cumprir. Isso é especialmente verdade quando você encontra os ensinamentos de Jesus a respeito do significado da lei. Lembra como o Jovem Rico teve suas pretensões de moralidade esmagadas? Após se declarar um praticante da lei, ele ouviu a verdade de Jesus e foi embora triste. Leia Mateus 5 com cuidado e é provável que você tenha seu próprio momento de tristeza enquanto Jesus explica a profunda aplicação espiritual da lei. O moralismo não pode coexistir com a lei moral de Deus; a depravação do homem não permite isso. O moralista, então, é forçado a fazer duas coisas: ele deve abandonar as verdadeiras leis de Deus, que realmente se aplicam a ele e, ao mesmo tempo, tem que inventar algum jogo novo, com regras mais fáceis, que podem ser seguidas. Isso é o que os Fariseus fizeram e isso é o que os Fariseus modernos continuam fazendo.
Então, com o que devemos esperar que um Fariseu moderno se pareça?
Bem, em primeiro lugar, ele deve dizer (ou pelo menos sugerir) que o verdadeiro Cristianismo pode ser avaliado exclusivamente por ações e não por suas crenças. Ele pode, por exemplo, sugerir que enquanto os cristãos não se parecerem e agirem exatamente como Cristo, eles não são realmente cristãos. É claro que os cristãos supostamente agem como Cristo; isso é a essência da moral Cristã. Lembre-se: acreditar na moralidade não é moralismo, mas se entendemos o que se parecer com Cristo realmente significa, não vamos esperar que os cristãos o façam perfeitamente. Porém, o Fariseu irá, pois ele é moralista. Enquanto isso, de acordo com a sua filosofia “obras-sem-credos”, ele vai minimizar a importância de todas as disputas doutrinárias.
Além disso, espera-se que o Fariseu moderno dê um desconto na lei de Deus. Fariseus de verdade vão se opor aos mandamentos mais óbvios. Talvez, por um momento, eles irão concluir que nem todo o ensino da Bíblia sobre sexualidade é importante e que os Cristãos não precisam dar grande importância para isso. Isso se encaixa perfeitamente com a filosofia de 2000 anos atrás que estava sendo discutida: que o ensino da Bíblia sobre honrar seus pais não era tão importante assim e que o povo de Deus não devia dar grande importância ao assunto.
Finalmente, depois de ter descartado a moralidade da Bíblia, o Fariseu moderno irá, sem sombra de dúvida, inventar um monte de regras e normas para os cristãos seguirem. Talvez eles digam que os cristãos precisam fazer mais serviço fora da igreja do que dentro dela, mesmo isso sendo o oposto do que Paulo ensinou em I Timóteo. Ou talvez eles vão argumentar que os Cristãos devem fazer muitas refeições com Muçulmanos e Budistas que, de qualquer maneira, é claro, está longe de ser encontrado na Bíblia. Mandamentos como estes são muito fáceis de ser seguidos, pelo menos em comparação com a profunda moralidade de corpo, mente e coração exigida por nosso Senhor. Lembre-se: se você vai ser um moralista, você tem que escolher uma lei que será capaz de seguir!
Essa é, pelo menos, uma imagem bíblica de como um Fariseu moderno poderia parecer. Graças a Deus não temos ninguém assim na igreja de hoje!