Grande é o mistério da piedade (1Tm 3.16). Os primeiros cristão reconheceram esse mistério como sendo de importância primordial. Eles estavam de acordo com essa verdade. Mas o que é “o mistério da piedade”?
Paulo define o mistério da piedade citando o que muitos estudiosos acreditam ser um hino que a igreja primitiva cantava como forma confessar e celebrar essa maravilhosa verdade. Em versos notáveis, ele descreve a missão concluída por Jesus Cristo:
Aquele que foi manifestado na carne
foi justificado em espírito,
contemplado por anjos,
pregado entre gentios,
crido no mundo
recebido na glória. (1Tm 3.16)
Descobrindo a Verdadeira Piedade
Paulo prefacia o hino dando seu motivo para escrever: “Escrevo-te estas coisas… para que… fiques ciente de como se deve proceder na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, coluna e baluarte da verdade.” (3.14-15). No coração do aconselhamento pastoral de Paulo, encontramos o hino descrevendo o mistério da piedade.
Essa conversa repentina sobre um mistério vem como uma surpresa. Parece uma mudança abrupta no pensamento. Paulo conecta este hino, e então volta para os conselhos práticos.
É como encontrarmos um diamante entre suas ferramentas de uso diário em seu ofício: martelo, chave de fenda, anel de diamante, chave. Um diácono deve ser marido de uma só mulher. Grande é o mistério da piedade. Os falsos mestres virão.
Na verdade, esse hino se encaixa maravilhosamente aqui. Pense desta forma: martelo, chave de fenda, desenho técnico, chave. O objetivo de Paulo é que as pessoas de Timóteo vivam uma “vida tranquila e mansa, com toda piedade e respeito” (2.2) – uma piedade moldada pela verdade celebrada no hino.
O Que É Piedade?
Piedade pode ser pensada como santidade ou devoção. A linguagem do pacto nos lembra: ser santo como o Senhor nosso Deus é santo. Paulo exorta pela busca de santidade, uma vez que “é proveitosa, porque tem a promessa da vida que agora é e da que há de ser” (4.7-8). A Piedade é crucial para a santificação na vida cristã.
Vá a uma igreja cristã hoje e pergunte: “O que significa ser piedoso?”. Você normalmente vai ouvir: “Significa ler a Bíblia, orar e ir à igreja regularmente”.
Contudo, tão importante quanto essas coisas possam ser, elas não são a medida da verdadeira piedade. Em vez disso, Paulo aponta para a vida de Jesus.
Por que Chamar Isso de Mistério?
Normalmente, ao usarmos a palavra mistério, dizemos: “É um mistério pra mim. Eu não sei nada sobre isso.”
O Novo Testamento dá à palavra um toque diferente. Um mistério na Bíblia é algo que nós não conseguiríamos descobrir por nós mesmos. Outrora oculto, nos foi dado a conhecer por Deus com a vinda de Jesus (Rm 16.25-26; Cl 2.2). É um segredo que se tornou público. Jesus insistiu: “Porque a vós outros é dado conhecer os mistérios do reino dos céus” (Mt 13.11).
Paulo explica que Deus nos deu uma revelação notável sobre a piedade. A referência final e certa do que somos e como vivemos é encontrada na piedade de nosso Salvador. Portanto, Cristo permanece central na confissão da igreja. Sua piedade é honrada pelos anjos adoradores no céu e seguida pelos crentes na terra.
A Mensagem do Hino
Existe uma progressão no hino. Nos movemos por um caminho de contraste e comparação entre dois mundos, este mundo e o próximo, esta época e a que está por vir. O poeta nos leva do terreno para o celestial, e em seguida, do celestial para o terreno, e finalmente do terreno ao celestial. Isto marca a sequência da humilhação do nosso Senhor na primeira linha para sua exaltação na última linha.
A primeira estrofe de duas linhas encapsula o evento de Jesus. Em certo sentido, ela destaca a mensagem do poema.
Ele apareceu em um corpo – ou, foi manifestado na carne. “Carne” aponta para nossa situação humana, para este mundo e para a vida nele. A carne é fraca e temporária. Salmo 90.6 nos lembra: “de madrugada, viceja e floresce; à tarde, murcha e seca.”
A verdadeira piedade encontra o seu princípio no Filho de Deus encarnado. Jesus veio “em semelhança de carne pecaminosa” (Rm 8.3). Na carne, ele se humilhou, foi crucificado, e morreu. Nós fomos à sepultura condenados por nossa culpa. “Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós” (2Co 5:21).
Ele foi vindicado (justificado) pelo Espírito. A sepultura não poderia segurá-lo.
Cristo ressuscitou! Aqui o veredito celestial foi declarado. Ele foi reconhecido pelo próprio Deus como único inocente que pagou o preço do pecado. Ele é o único justificado, vivo no reino do Espírito. Sua humilhação não é uma questão de vergonha, mas uma questão de obediência à vontade do Pai.
A proclamação do evento de Jesus é abordado na segunda estrofe de duas linhas.
Ele foi contemplado por anjos. O amor abnegado do nosso Senhor chamou atenção em todo o cosmo. Até os anjos foram cativados pelo sofrimento e pela consequente glória de Cristo (1Pe 1.11-12).
Por outro lado: Ele foi pregado entre os gentios. O ministério de Jesus não foi testemunhado apenas por anjos, mas foi anunciado publicamente entre as nações. Neste mundo, ele se fez conhecido como o Salvador que foi exaltado pelo Pai depois de ter sido humilhado até a morte pelo seu povo.
O último par de versos descreve a resposta ao evento de Jesus.
Ele foi crido no mundo. Na presente época, muitos vieram a crer nele. Sua vida de autonegação não impactou negativamente o ser recebido por muitos por meio da fé. De fato, sua glória está na cruz de Cristo, pela qual o mundo tem sido crucificado para eles, e eles para o mundo.
A linha de conclusão: Ele foi recebido na glória. “E todos os anjos de Deus o adorem” (Hb 1.6). O triunfo de Jesus na terra está ligado ao seu triunfo no céu. Deus reconheceu a conquista do humilde Salvador e o exaltou grandemente. Os anjos respondem a ele, que é o vitorioso Senhor de glória assentado à direita do Pai: “Digno é o Cordeiro” (Ap 5.12).
Aqui sim você tem o coração piedoso. Na missão de Jesus nosso Salvador, a verdadeira piedade se torna conhecida neste mundo e no próximo. Sua vida de amor condescendente, em humilde doação de si mesmo ao seu povo, em obediência ao Pai, é o resumo da piedade. Escondidos em Cristo, somos capacitados e procuramos viver de acordo com seu exemplo.
O Significado Do Poema
O segredo para piedade é revelado na vida de Jesus e em seus ensinos. Ele ensinou abnegação, com a garantia da bênção celestial: “quem, todavia, perde a sua vida por minha causa achá-la-á.” (Mt 10.39). Este tema é encontrado em todos os quatro evangelhos. Não é uma ideia aleatória.
Paulo não trata isso de forma casual. Ele enfatizou a mensagem de Jesus em seu próprio ensino. Ao olharmos para o significado do hino, vamos consultar, paralelamente e com mais detalhes, o hino em Filipenses 2.6-11. Aqui Paulo conecta diretamente a piedade de Jesus com a nossa: “Nada façais por partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo. Não tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros. Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus” (vs. 3-5).
Ele conclui que devemos “Fazer tudo sem murmurações nem contendas” (2.14). Por isso, ele instrui duas mulheres que deixem suas argumentações e “pensem concordemente, no Senhor” (4.2). Piedade significa duas mulheres em Filipos serem reconciliadas pensando humildemente no bem alheio como melhor do que seu próprio bem.
A vida de Jesus fornece o padrão da piedade. A fim de reproduzir a piedade de Cristo em sua vida, você não é obrigado a ser como o fuzileiro que se lança sobre a granada para salvar as vidas de seus amigos. O melhor exemplo é o nosso Salvador inclinando-se para lavar os pés sujos dos discípulos (Jo 13.15).
Pedro considera o exemplo do sofrimento de Cristo e conclui: “sede todos de igual ânimo, compadecidos, fraternalmente amigos, misericordiosos, humildes… pois para isto mesmo fostes chamados, a fim de receberdes bênção por herança” (1Pe 3.8-9).
Podemos negar a nós mesmos sem medo de perder o benefício. Assim como você vive humildemente pelos outros em meio à violência e confusão da vida cotidiana, esteja certo de que o Pai que sustentou e exaltou Jesus, vai sustentar e honrar você. Você está seguro em Cristo.
Esta é a maravilha do mistério da piedade. Dois mundos estão diante de nós: este mundo de serviço humilde e o da nova criação e das bênçãos eternas. “se com ele sofremos, também com ele seremos glorificados.” (Rm 8.17). Celebre isso em obras e cânticos.