Isso não é uma piada, você sabe. Ao fazermos o nosso caminho por essa vida, encaramos alguns inimigos poderosos. No segundo capítulo de Efésios, Paulo descreve o passado pré-cristão das pessoas daquela igreja. Ao fazer isso, ele lhes conta que três forças poderosas estavam posicionadas contra eles: o mundo, a carne e o diabo.
Essas pessoas tinham uma grande inclinação para o mal que vinha do seu mais profundo interior (“a paixão da nossa carne”), enfrentavam um poderoso oponente do lado de fora deles (“o príncipe das potestades do ar”), e, ao mesmo tempo, todo o ambiente era contrário a eles (“este mundo”). Eles estavam fora da comunhão de Deus e, por isso, eram “filhos da ira”.
Estando vós mortos nos vossos delitos e pecados, nos quais andastes outrora, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência; entre os quais também todos nós andamos outrora, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos, por natureza, filhos da ira, como também os demais. [Efésios 2.1-3]
Já há algum tempo, e especialmente desde que li o livro Precious Remedies Against Satan’s Devices [Remédios Preciosos Contra as Artimanhas de Satanás] de Thomas Brooks, tenho refletido como seriam essas forças – e que de algum modo ainda estão – contra mim. Ainda que por meio da fé em Jesus Cristo eu esteja livre do domínio dessas forças, não fui ainda completa e finalmente liberto da influência delas. Cada uma continua contra mim, e às vezes – muitas vezes – sou vencido, escolhendo o pecado em lugar da santidade. Logo, não é de se admirar, que o Livro Comum de Oração anglicano conduz os cristãos nessa oração: “De todos os enganos do mundo, da carne, e do demônio, livra-nos, bom Senhor”.
Tenho uma teoria sobre essas três influências e a maneira como diferentes cristãos as compreendem. Há muitas tribos teológicas dentro do cristianismo e creio que cada uma delas tem um equilíbrio imperfeito da sua compreensão de como essas forças operam contra nós. Deixem-me dar apenas três exemplos. Cada exemplo é imperfeito, claro, mas creio que haja um traço de verdade em cada caso.
Fundamentalistas tendem possuir uma grande suspeita do mundo – um mundo que está cheio de pecado e oposição inflexível contra Deus e os Seus propósitos. Na minha experiência, os fundamentalistas são rápidos em ver o mundo e considerá-lo responsável pelo pecado e pela tentação do pecado; a partir daí eles lutam duramente contra o mundanismo e veem os prazeres desse mundo e entretenimentos com grande e permanente suspeita. Se os fundamentalistas estão fora do equilíbrio, é pela ênfase da influência do mundo em detrimento a influência da carne e do diabo.
Pentecostais tendem lançar a culpa do pecado e da tentação na cara do diabo e nas forças demoníacas. Eles frequentemente levam em alta conta as ações e influências demoníacas. Quando enfrentam a tentação do pecado, ou quando sentem ou encontram oposição, eles são rápidos em ver a influência de Satanás e encontrar meios de permanecer firmes diante desse tipo de poder. Se eles estão fora de equilíbrio, isso está no destaque que se dá à influência maligna do diabo e de suas forças e em reduzir as influências do mundo e da carne.
Calvinistas têm uma profunda consciência da sua própria depravação. Afinal, o calvinismo começa com o T do TULIP – Total Depravação. Cremos que a humanidade está completamente corrompida, de forma que o pecado abrange cada parte nossa. Na Sua graça, Deus nos impede de nos tornarmos tão pecaminosos quanto poderíamos ser, mas todos continuamos pecadores no maior grau possível; o coração, a mente, a vontade, o desejo, a disposição – tudo isso – está marcado pela Queda. Ao considerarmos os inimigos de nossas almas, somos propensos a nos focar na carne, supondo que a tentação surge de dentro muito mais do que vindo de fora. Se estivermos fora de equilíbrio, isso se dá pela ênfase da influência da carne e na redução das influências do mundo e do diabo.
Todos nós, estou convencido, precisamos compreender que o mal toma várias formas, que ele surge de dentro e surge de fora, que enfrentamos inimigos físicos e espirituais. Enfatizar um em detrimento dos outros é baixar a nossa guarda. Talvez, a melhor resposta não seja reduzir as nossas próprias ênfases, mas elevar as outras. Quando compreendermos a vasta gama de forças contra nós, vamos compreender melhor o poder de Cristo em vencê-las, nos armaremos melhor para resistir e vamos aguardar melhor o dia da volta do Senhor quando essas influências serão final e completamente destruídas.
Traduzido e gentilmente cedido por Charles Grimm (Cricket Translations) | Reforma21.org | Original aqui