Provérbios 16.2 é simples e direto, mas diz algo profundo sobre a condição humana:
Todos os caminhos do homem são puros aos seus olhos,
Mas o Senhor pesa o espírito.
Os “caminhos do homem” se refere à forma como uma pessoa leva sua vida. Esse “homem” em particular demonstra pouca preocupação com o caráter moral de sua vida. Quando se trata de decisões, relacionamentos ou trabalho, esse tipo de pessoa tende a ver a si mesmo em alta estima. Ele se vê como “puro” – o que significa que ele pensa que está indo muito bem.
Talvez um homem esteja com raiva e seja rude com sua esposa, mas ele não se vê assim. Ele pensa que está certo na forma com que trata sua esposa. Ele está “puro” aos seus próprios olhos. Talvez uma mulher regularmente pegue “atalhos” no trabalho e puxe o tapete de seus colegas, mas ela não se vê assim. Sua autoavaliação é que ela é popular e amada entre seus colegas. Ela não percebe como as pessoas realmente pensam porque está “pura” aos seus próprios olhos. Talvez um homem esteja emocionalmente ausente da vida de seus filhos, mas nele não se vê assim. Ele não percebe que está se distanciando porque, para ele, ele está “puro” aos seus olhos.
Isso significa que nós somos, por natureza, inclinados a subestimar nossas falhas, ignorar ou mesmo justificar. O resultado é que andamos por aí com uma autoestima que muitas vezes excede a realidade. Esse é um perigo especial em nosso contexto cultural corrente, onde a autoestima é apresentada como a virtude humana suprema. A cosmovisão terapêutica nos encoraja a pensar mais de nós mesmos do que deveríamos. E, ainda assim, aqui está um provérbio nos dizendo o oposto.
Por que esse provérbio nos diz que devemos ser tão céticos com nós mesmos? Porque Deus é Aquele que “pesa o espírito”. O texto diz que Deus é aquele que, literalmente, “examina” nossas motivações. Deus me conhece melhor do que eu mesmo. Eu posso ter uma visão inflada do meu próprio valor e sucesso na vida, mas Deus vê o que eu não posso ou não quero ver sobre eu mesmo. E normalmente há um largo espaço entre a realidade que Deus vê e as ilusões que eu mantenho sobre eu mesmo.
Tudo isso nos ensina, pelo menos, três coisas:
(1) Uma consciência limpa pode dizer menos sobre nosso caráter real do que diz sobre nossa falta de autocrítica. Paulo coloca dessa forma: “Porque de nada me argui a consciência; contudo, nem por isso me dou por justificado, pois quem me julga é o Senhor” (1 Coríntios 4.4). Paulo entende que essa consciência limpa não o torna inocente. É possível se sentir inocente enquanto não o é, na realidade. É isso que devemos guardar firme em nossos corações. Deus é o juiz. Nós não julgamos a nós mesmos.
(2) Nós precisamos suspeitar de nós mesmos. É por isso que o provérbio alerta: “O que confia no seu próprio coração é insensato” (Provérbios 28.26). Precisamos entender que temos o potencial de vermos nossas falhas de caráter com lentes rosadas. Tendemos a fazer isso porque somos pecadores por natureza, e uma visão positiva de si mesmo é algo natural para nós. É por isso que devemos sondar nossos corações o suficiente para saber quando o orgulho está inflado. “A soberba do homem o abaterá, mas o humilde de espírito obterá honra” (Provérbios 29.23).
(3) Nós precisamos enxergar a nós mesmos como Deus enxerga. Deus sabe que somos pó e que, às vezes, nosso autoconhecimento falha. Apesar disso, Deus nos dá Provérbios como esse para nos encorajar a olharmos nós mesmos à plena luz da revelação divina. Quanto maior nossa visão de Deus, mais humilde será nossa autoestima. Há uma alegria e humildade que só vem do autoesquecimento proveniente da adoração. Autodepreciação não é o antídoto para o orgulho; exaltação a Deus é.