Recentemente, recebi uma cópia de pré-lançamento do livro de Thabiti Anyabwile, The Gospel for Muslims: An Encouragement to Share Christ with Confidence [O Evangelho para Muçulmanos: Um encorajamento para compartilhar Cristo com Confiança]. Thabiti é um ex-muçulmano que agora serve como pastor da Primeira Igreja Batista de Grande Cayman nas Ilhas Cayman. Seu livro é um extraordinário lembrete de que o Evangelho é o poder de Deus para salvação, para os muçulmanos também! Sou grato por Thabiti concordar em dar uma passada no blog hoje e responder algumas questões sobre seu livro.
Trevin Wax: Conte-nos um pouco sobre seu contexto muçulmano.
Thabiti Anyabwile: Eu cresci em um lar e em uma comunidade nominalmente cristãos em Carolina do Norte. De tempos em tempos, íamos à igreja, mas não me lembro do Evangelho ser claramente pregado. E certamente eu não tinha ouvidos para ouvir se fosse o caso.
Depois de ser aceito pela igreja e ser “batizado” sem entendimento do Evangelho ou testemunho de conversão, passei a acreditar que o Cristianismo era um mito estilo “conto de fadas”. Meu pai abandonou a família quando eu tinha quatorze anos. Em meio a esse abandono, à raiva que foi provocada, e a minha experiência com o cristianismo nominal, eu estava completamente pronto para endurecer meu coração para o Senhor.
No meu primeiro ano de faculdade, encontrei vários homens no campus que eram distintos, íntegros, e falavam ousadamente sobre amar suas famílias e contribuir com a comunidade, e sobre a necessidade de se submeter a Deus. Era a primeira vez que eu via muitos afro-americanos fortes assim. Fui atraído por eles como uma mariposa pela luz. Percebi que precisava da disciplina e do compromisso que eles descreviam.
Resumindo… eles eram homens muçulmanos. Comecei a estudar o Islamismo com alguns deles e, no segundo ano, me converti. Pelos anos que se seguiram, era zeloso pelo Islã, levando alguns estudantes a abraçarem a fé. Eu era meio que o Saulo do campus, me opondo ao Evangelho e a tudo que tinha relação com o Jesus bíblico.
TW: Como Deus te tirou do Islamismo?
TA: O Senhor me levou para fora do Islã em aproximadamente três fases. Primeiro, Ele me permitiu enxergar as inconsistências do Islamismo em seus próprios termos. Começou em um Ramadã, quando acordei cedo para orar e começar o jejum. Eu passei algum tempo lendo o Corão, como era hábito. Mas, naquela manhã, repentinamente me dei conta de muitas afirmações inconsistentes do Islamismo. Isso deu início a um período de mais estudo e questionamento, até que, no fim, eu tinha certeza de que o Islamismo não era consistente em suas declarações.
A segunda fase teve início quando comecei a ver minha falta de justiça. Estava literalmente numa conversa de bebedouro, com uma antiga colega da faculdade que agora trabalhava comigo. Ela me descreveu como a pessoa mais santa que ela conhecia. Ao ouvir seu elogio, me senti totalmente desprovido de todas as coisas que ela disse de mim. Ela descreveu um monte de comportamentos externos que eram verdadeiros na medida em que eram realizados. Mas eu conhecia meu coração, o pecado, a raiva e a luxúria que me dominavam. E eu também sabia que aquela religião legalista e a autojustificação eram uma ilusão.
A terceira fase veio com um golpe duro do Senhor. Minha esposa e eu perdemos nosso primeiro filho, aproximadamente no terceiro mês da gravidez. O Senhor nos humilhou e nos abrandou. Durante esse período de luto, talvez mesmo de depressão, começamos a ouvir o Evangelho pregado em um programa de TV semanal de um pastor. Nós fomos à sua igreja em um domingo, e ele pregou o que foi uma das melhores exposições que já ouvi sobre Êxodo 32. Era sobre Lei e Evangelho. E, em sua rica bondade, Deus salvou a mim e minha esposa através da pregação do Evangelho naquele dia.
TW: Você escreve na introdução que muitos cristãos se sentem despreparados para compartilhar o Evangelho com muçulmanos. Por que nos sentimos assim? E por que deveríamos estar confiantes?
TA: Muitos cristãos parecem aceitar dois mitos quando se trata de compartilhar o Evangelho com muçulmanos. Primeiros, muitos cristãos tendem a pensar que todo muçulmano memorizou o Corão e é algum tipo de radical. Esse é o mito do “supermuçulmano”.
Segundo, muitos cristãos pensam que precisam ser apologistas de primeira classe, capazes de responder toda pergunta ou crítica muçulmana ao cristianismo. Esse é o mito “eu sou tão incapaz”.
O resultado dessas duas suposições é que muitos cristãos têm muito medo quanto a falar com muçulmanos. E esse medo gera uma crise de confiança – eles duvidam que o Evangelho é o poder para salvação de todo aquele que crê. Eles recuam, dizendo a si mesmos que não sabem o bastante, que seu vizinho muçulmano é mais confiante, e que provavelmente será inútil.
A verdade, entretanto, é exatamente o oposto. Se somos cristãos que creem no Evangelho, mesmo com um entendimento básico das “boas novas”, sabemos tudo que precisamos saber a fim de alcançar efetivamente nossos amigos e vizinhos muçulmanos. O poder de Deus não está em nossa sabedoria ou em nossa técnica; essas coisas ameaçam privar a cruz de seu poder (1 Co 1.17).
Mas é o próprio Evangelho que é o poder de Deus para salvação de todo o que crê. Na mensagem da perfeita justiça de Jesus, de sua morte sacrificial por nossos pecados, da gloriosa ressurreição, da segunda vinda em glória, Deus colocou Seu poder de fazer novos os pecadores, de ressuscitar espiritualmente mortos , de transformar o coração mais duro do homem em um coração que ama a Deus, de nos justificar e satisfazer Sua ira justa. O que precisamos é confiança no Evangelho, pois Deus faz o Evangelho triunfar em todas as nações.
TW: Por que a doutrina da Trindade é tão importante no evangelismo de muçulmanos?
TA: A resposta curta é que João 17.3 nos diz que a vida eterna é conhecer o único e verdadeiro Deus, e Jesus Cristo, a quem Ele enviou. João 4.24 diz que o Pai procura pessoas que O adorarão em espírito e em verdade. Um conhecimento correto de Deus é o que faz a diferença entre a idolatria e um relacionamento genuinamente pessoal com Deus. Se entendemos Deus errado, entendemos tudo errado. Portanto, o fato de que Deus revela-Se como Triuno em natureza – um Deus existindo eternamente em Três Pessoas – torna-se crítico para receber-se a vida eterna.
A resposta maior é que cada Pessoa da Trindade realiza um papel significante na redenção dos pecadores. O Pai administra nossa salvação, o Filho cumpre nossa salvação, e o Espírito aplica nossa salvação (Ef 1.3-14). Se abandonarmos a doutrina bíblica da Trindade, abandonamos o próprio Evangelho.
TW: Você dedica um capítulo inteiro à hospitalidade. Como a hospitalidade fortalece nosso testemunho evangelístico?
TA: A Escritura nos ordena a “ser hospitaleiros”. A prática ativa da hospitalidade tem muitos benefícios práticos. Quando nos direcionamos aos outros em hospitalidade, fazemos nosso amor concreto e real. A hospitalidade nos ajuda a vencer nossa tendência de privatizar nossa fé, o temor aos homens, a passividade e mesmo a xenofobia. Quando praticamos hospitalidade, somos capazes de mostrar bondade a estranhos (Ex 22.21, 23.9; Hb 13.2), a construir relacionamentos significativos, e, em certo sentido, a servir ao próprio Jesus (Mt 25.34-40).
Infelizmente, muitos imigrantes nos Estados Unidos nunca entraram em um lar cristão. Em nosso fracasso em convidar e cuidar dos “estranhos em nossas portas”, acabamos desperdiçando oportunidades preciosas de ajudá-los a se integrar na comunidade, de cruzar pontes culturais, de mudar os estereótipos dos cristãos. A hospitalidade nos aproxima das pessoas de forma íntima. E tanto valoriza o Evangelho quanto cria oportunidades de evangelização.
TW: Como os muçulmanos veem a igreja cristã? E como essa visão ajuda ou atrapalha nosso testemunho?
TA: Muitos muçulmanos confundem o cristianismo e os cristãos com “o Ocidente” em geral. Eles usam os termos como sinônimos. E, uma vez que muitos muçulmanos veem o Ocidente como um lugar de decadência, sensualidade, imoralidade e injustiça, eles tendem a considerar os cristãos como hipócritas, pessoas que professam uma fé religiosa, mas vivem o oposto.
Temos de ser honestos e sóbrios quanto a essa crítica. Pois o próprio Senhor disse que o mundo poderia legitimamente julgar a autenticidade de nosso discipulado pela maneira como amamos uns aos outros (João 13.34,35). Ele nos chama a deixar nossa luz brilhar diante dos homens, de maneira que nosso Pai nos céus seja louvado (Mt 5.16). Portanto, essa crítica, embora algumas vezes confunda a cultura ocidental com Cristianismo, precisa ser ouvida e tratada.
Acredito que descobriremos áreas onde falhamos em demonstrar com o que a nova comunidade do povo redimido de Deus se parece. Nessas áreas, precisamos nos arrepender e voltar para Cristo em busca de graça renovada.
Porém, essa crítica também nos dá uma oportunidade. A igreja está cheia de hipócritas – mas, hipócritas redimidos. Somos embaixadores imperfeitos de Cristo, mas lamentamos nossas deficiências, reconhecemos uma significante diferença entre o mundo e a igreja, e temos a única solução real para a hipocrisia – o Evangelho.
No Islamismo, a hipocrisia é sempre uma realidade. O muçulmano está sempre consciente de sua falha em submeter-se à vontade de Alá. Se ele ou ela for honesto, saberá que nenhuma quantidade de observância religiosa os livra da mácula do pecado, e da incoerência que surge.
Somente a cruz de Cristo remove essa sujeira e o pecado que a causa. Somente a graça de Deus em Cristo Jesus promete uma consciência limpa, paz e reconciliação com Deus, e o poder de uma vida renovada. Portanto, temos a oportunidade de demonstrar o poder do Evangelho ao confessar humildemente nossas fraquezas e pecados, ao viver de maneira que somos genuinamente distintos da cultura mundana que nos rodeia, e por guardar a perfeita justiça de Cristo como nossa justiça pela fé.
TW: Para aqueles que não conhecem pessoalmente algum muçulmano, como você recomendaria que começássemos a criar relacionamentos?
TA: Primeiro, ore. Peça ao Senhor que te leve a um relacionamento específico onde você pode frutificar por Sua causa.
Segundo, analise seus hábitos de lazer e de compras. Existe algum restaurante ou loja que você poderia visitar para te pôr em contato com muçulmanos?
Terceiro, construa uma rede de contatos. Se você não tem algum amigo muçulmano, há uma boa chance de que alguém em sua igreja ou trabalho conheça. Pegue “emprestado” esse amigo muçulmano abrindo sua casa e o convidando para ela.
Quarto, envolva-se em um ministério ou serviço comunitário que alcance muçulmanos em sua vizinhança. Várias faculdades têm programas que conectam estudantes internacionais, muitos deles muçulmanos, com famílias hospedeiras nos EUA. Voluntarie-se em um programa de inglês como segunda língua, onde você encontrará muitas pessoas tentando ajustar sua vida em uma cultura diferente. Você poderia ser de grande ajuda a eles, e pode construir amizades verdadeiras. Essas seriam algumas das formas de conhecer pessoalmente vizinhos e colegas muçulmanos.
Uma vez que você os conheceu, interesse-se por suas vidas, e abra sua vida a eles. Faça o que é natural para você quando se começa a construir amizades. Convide-os para sua casa, para um restaurante, para um jogo em que seus filhos brinquem, e por aí vai. Não há necessidade de ser forçado, apenas ame. E o Senhor dará graça a você enquanto você fala das boas novas de Sua salvação através da fé em Seu Filho.
Traduzido por Josaías Jr | iPródigo | Original aqui