Osama bin Laden está morto.
Como nós Cristãos devemos reagir?
Assistindo às notícias, várias passagens me vieram à mente – tudo desde o ensinamento de Jesus sobre amar e orar pelos inimigos até uma cena forte citada por Tiago sobre um futuro matadouro vindo sobre os opressores do povo de Deus. Quanto mais eu reflito nisso, mais me dou conta de que minha tensão interna é similar àquela outra que senti muitas vezes antes – relacionada com a doutrina bíblica do inferno.
Por mais estranho que possa parecer, o inferno é retratado na Bíblia como tragédia e vitória. O inferno é trágico, assim como é horrível que pessoas se rebelem contra Deus e persistentemente desprezam o Salvador. Deus retarda a sua cólera, é “abundante em amor e fidelidade” (Ex. 34:6-7) e não tem prazer em punir o perverso; Ele só não encontra satisfação na existência do pecado (Ez. 18:23). Jesus, da mesma maneira, ficou de luto e lamentou sobre a perdição humana, o pecado e o juízo iminente (Mt. 23:37; Lc. 19:41; Lc. 23:34). O apóstolo Paulo também partilhou sua perspectiva, sinceramente, desejando e orando pela conversão dos seus companheiros Judeus perdidos, mesmo a ponto de estar disposto a sofrer a ira de Deus por eles (Rm. 9:1-6; Rm. 10:1). O fato de pecadores irem ao inferno é trágico e deve quebrantar nossos corações.
Porém, o inferno é também retratado como o triunfo de Deus. O inferno é ligado ao Seu justo julgamento e ao dia de Yahweh, também chamado “o dia da ira de Deus” (Rm. 2:5). Como tal, o inferno responde (e não levanta) questões fundamentais relacionadas com a justiça de Deus. Através da ira vindoura, julgamento e inferno, a vitória final de Deus sobre o mal é exibida e Sua justiça é vindicada. Há um “conforto” para o inferno (2Tes. 1:5-11; Tg. 5:1-6; Ap. 18-22), como sua dura realidade oferece esperança e encoraja a perseverança nos santos perseguidos. Deus irá julgar a todos e Ele vai vingar Seu povo; Deus vai vencer no fim e a justiça irá prevalecer. E, por intermédio do Seu justo julgamento e da vitória final, Deus irá glorificar a Si mesmo, exibindo Sua grandeza e recebendo o louvor que é devido (Rm. 9:22-23; Ap. 6:10; Ap. 11:15-18; Ap. 14:6-15:4; Ap. 16:5-7; Ap´. 19:1-8).
Embora a comparação não seja perfeita e também por ser em menor escala, tenho tendência a pensar que nós podemos lamentar de forma justa que Osama Bin Laden se opôs ao Deus vivo e verdadeiro e será punido adequadamente. Mas nós também podemos nos alegrar, da mesma forma, na derrota e no julgamento que recai sobre pessoas que são más – e ele era claramente mal e merecedor de toda punição que a terra poderia dar. As danças nas ruas podem não ser meramente um nacionalismo Americano, mas uma resposta apropriada para a exibição parcial da justiça humana, enquanto aguardamos a exibição final e perfeita da justiça divina no tempo que há de vir.
Christopher Morgan serve como professor de teologia e reitor da Escola de Ministros Cristãos da Universidade Batista da Califórnia em Riverside. Ele é co-editor do livro “Hell Under Fire: Modern Scholarship Reinvents Eternal Punishment” e “Faith Comes by Hearing: A Response to Inclusivism”.
Traduzido por Dennis Nery | iPródigo.com | Original aqui
ATUALIZADO: Pessoal, segue uma entrevista do Dr. Christopher Morgan ao Christian Post, em que ele esclarece alguns pontos de seu texto. A posição é a mesma, mas talvez com essa explicação, fique mais fácil entender as ideias que ele defende em seu texto.
Também pedimos que argumentos repetidos não sejam utilizados, a resposta já foi dada – você pode discordar ou não, mas não continuaremos a responder e aceitar comentários com as mesmas objeções.
CP: Em seu post, “Luto, Alegria: A Morte de Osama Bin Laden, você discute a natureza de Deus (Aquele que não encontra prazer na punição do ímpio, e ainda triunfa por meio da punição do pecado). Como a discussão conecta-se com o ataque do governo a Osama Bin Laden?
Morgan: Assim como a política não tem prazer em matar um assassino, em certas circunstâncias isso ainda pode ser certo e necessário. Pode manifestar justiça parcial. E essa demonstração de justiça parcial (não a morte de uma pessoa em si) é uma causa de um bom sentimento.
CP: Como a morte de Osama bin Laden é uma demonstração de justiça parcial?
Morgan: Neste lado antes do juízo final e do céu, a justiça humana sempre será de alguma forma parcial. Não somos perfeitos e não podemos consumar a justiça celestial. Somente Deus tem a sabedoria e a prerrogativa para fazer isso. Mas os governos são chamados por Deus para promover justiça, paz e uma sociedade organizada. Passagens como Romanos 13.1-7 esclarecem isso. E governos têm o poder e a autoridade para usar a força a fim de alcançar isso. É claro, essa força deve ser medida, de acordo com o crime tratado. Assim, atirar em um pedestre imprudente é obviamente errado. Mas matar um terrorista pode apropriado, especialmente alguém como bin Laden que confessou e recebeu créditos por seus crimes.
CP: Apesar de a justiça cumprida merecer alegria, as pessoas podem exagerar nas comemorações? Como você disse em seu blog, Deus “não tem prazer em punir o perverso; Ele só não encontra satisfação na existência do pecado (Ez. 18:23)”. A nossa celebração deveria ter um tom mais sóbrio?
Morgan: Eu escrevi o texto dentro de uma hora após o anúncio do presidente. Então, quando comentei sobre a dança nas ruas, estava tratando da primeira hora. Naquele momento, creio que alguns sorrisos, alívio e alegria podem ser vistos como certos e bons.
É claro, multidões podem exagerar e algumas certamente o fizeram. Acredito que a atitude cristã é sentir a gravidade da morte de qualquer ser humano, enquanto reconhece que a morte de bin Laden resultou da justiça parcial. E que a demonstração de justiça parcial é boa e naturalmente leva pessoas a sentirem-se bem sobre isso.
CP: Algumas celebridades cristãs denunciaram a comemoração da morte de bin Laden dizendo que, fazendo isso, estamos imitando o comportamento dele. Que má compreensão têm esses que têm essa posição sobre o senso de justiça de Deus?
Morgan: Sim, como cristãos, cremos que todos somos pecadores e merecemos o inferno. Mas isso não enfraquece o pecado, o mal e a culpa, e alguns blogueiros úteis têm recentemente percebido. Podemos humildemente reconhecer que, fora da graça de Deus, também seguiríamos um caminho semelhante.
Mas isso não significa que também não notaremos e nos levantaremos contra um mal óbvio, externo e excepcional. O juiz que sentencia o culpado à prisão não é necessariamente orgulhoso, mas está fazendo seu trabalho. A família que perdeu um ente querido nas mãos de um assassino pode justamente sentir-se bem por o assassino ser apropriadamente punido. Não se deve pedir nem ao juiz nem à família para que eles gastem um tempo pensando em quão parecidos eles são com o assassino. Eles podem simplesmente alegrar-se por alguma justiça ser feita. Não há ainda justiça perfeita, ou ninguém teria sido assassinado. Porém, consideradas as circunstâncias trágicas, um assassino punido é um bom resultado.
Além disso, a não ser que as pessoas estejam cometendo assassinato em massa, elas não estão imitando bin Laden. A não ser que elas estejam dançando nas ruas porque inocentes estão morrendo aos montes, elas não estão refletindo bin Laden. Alegrar-se porque um terrorista foi trazido à justiça é apropriado, não um problema moral.
CP: Como a dificuldade das pessoas sobre comemorar a justiça da morte de Osama bin Laden assemelha-se à dificuldade das pessoas sobre a existência do inferno?
Morgan: Essa é uma questão complexa, portanto deixe-me oferecer apenas uma pequena parte de uma resposta. Uma similaridade é que, em ambos os casos, as pessoas têm uma visão do amor que é mais sentimental que bíblica. Na Bíblia, o amor de Deus tem nuances importantes e não define exaustivamente Deus. Deus é também bom, santo, soberano, etc. Hoje, muitos se esquecem disso.
Similarmente, Jesus nos diz que amar nossos inimigos é importante e, ainda assim, não é o único princípio no relacionamento cristão com os inimigos. Muitas passagens tratam disso. Além disso, a ética pessoal cristã não é idêntica à ética governamental. Um governo, por exemplo, deve punir o culpado; mas os cristãos deixam a vingança ao Senhor. E as duas verdades são encontradas em Romanos (12.19-13.7)! É também comum focar em apenas uma verdade ou princípio e não pensar como tantos outros princípios relacionam-se a isso e o esclarecem.
CP: Em sua opinião, por que tantos cristãos prontamente aceitam uma visão unidimensional de Deus que exclui a justiça e a punição do pecado?
Morgan: Eles podem não ter dado atenção suficiente à abundância de passagens bíblicas que mostram a bondade da justiça. Êxodo 15, 2 Tessalonicenses 1.5-11, Tiago 5.1-6, Apocalipse 18-20, para listar algumas.
CP: Por favor, exponha o que é “bondade da justiça” e porque os cristãos deveriam estar prontos a aceitá-la. Como um Deus que não executa justiça ao que merece afeta nossa fé cristã?
Morgan: Deus é bom, reto e justo. Ele é justo e administra justamente. Ele exige justiça, bondade, retidão dos seres humanos e julga de acordo. Todos os homens são pecadores e estão justamente sob o justo juízo de Deus. Somos condenados no pecado (Jo 3.16-18; Rm 3.9-20, 5.5-21; Ef 2.1-3, etc), estamos diante dele como culpado, merecedores de castigo. Felizmente, a boa notícia é que Jesus veio para morrer por nós – em nosso lugar (e como resgate). Mas não há necessidade de morte substitutiva de Cristo se Deus não é justo e não exige justiça. Jesus morre em nosso lugar porque Deus é amor e porque Deus é justo. Ele leva o pecado e a culpa de maneira tão séria que Jesus morre para pagá-los.
CP: Afirmações de efeito como “o amor vence no final” são adequadas para ajudar a entender mais o tratamento divino da justiça? Por que ou por que não?
Morgan: “O amor vence” e frases de efeito teoricamente são boas, mas frequentemente manipuladas. Tem sido usada ultimamente para promover o universalismo, a ideia de que todas as pessoas são salvas no fim – incluindo bin Laden, Hitler, Satanás.
A igreja tem consistentemente reconhecido que o universalismo é antibíblico e falso. Jesus falou claramente sobre o inferno – inferno como um lugar real de punição, banimento e destruição eternos – e também todos os autores do Novo Testamento. Alguns exemplos incluem Marcos (9:42-48); Mateus (5:20-30; 24-25); Lucas (16:19-31); Paulo (2 Ts 1:5-10); o autor of Hebreus (10:27-31); Tiago (4:12; 5:1-5); Pedro (2 Pe 2:4-17); Judas (13-23); e João (Ap 21:8; 22:15).
CP: Voltando à sua descrição da natureza de Deus, como Deus pode tanto lamentar o pecado e punir o ímpio sem comprometer-se? Como podemos fazer o mesmo em nossas vidas diárias?
Morgan: Precisamos ir além dos slogans de adesivo de carro e perceber que existe uma variedade de questões importantes que se relacionam a esses assuntos. Podemos lamentar corretamente sobre as pessoas que rebelam-se contra Deus, corretamente esperar pela conversão deles, e corretamente chorar sua morte. Mas também podemos estar corretamente indignados contra o mal deles, corretamente defender aqueles a quem eles oprimem e corretamente apreciar quando eles são punidos por suas atrocidades. O justo castigo do mal é justo, bom e apropriado – mesmo se parcial, incompleto e imperfeito em nossa situação. Pensamos assim sobre paz e amor, e tendemos a esquecer disso quando pensamos em justiça. Por exemplo, quando há alguma paz no mundo, celebramos isso, mesmo sabendo a paz é imperfeita, parcial e incompleta. Mas ainda é boa, uma prévia da demonstração final da reconciliação cósmica de Deus. Alguma justiça na terra ainda mostra fagulhas da justiça final e futura que virá. Sim, a versão de hoje, a versão humana, é sempre frágil e fragmentada. Mas ainda é boa e digna de nossa apreciação.
Traduzido por Josaías Jr | iPródigo | original aqui