(antes de você começar a ler, peço desculpas pelo tamanho do texto. Apesar da conferência passar super rápido – não são nem 3 dias completos – acontecem muitas coisas e mesmo num texto grande como esse fica faltando muita coisa)
Lembro quando eu era um crente que não sabia evangelizar. Não que hoje eu seja um exímio evangelista ou pregador, nada disso, mas até meados de 2004 eu não sabia o que era importante dizer. Na verdade, até essa época eu ainda achava que iria pro céu por ter feito a oração de receber Jesus ou (pior) por guardar os mandamentos. Bom, graças a Deus, essa época de trevas passou e hoje eu entendo que quando leio “evangelho” não tem muito a ver com o que eu faço, mas sim com o que Deus fez.
Semana passada tive a oportunidade de participar da 9ª Conferência de Jovens da Editora FIEL, cujo tema foi essa inquietante pergunta. Vou tentar resumir aqui minhas impressões dessa conferência.
O Lugar
Já há alguns anos a conferência de Jovens vem sendo realizada na Estância Palavra da Vida em Atibaia – SP. Veja bem, dizem por aí (aqui) que Atibaia é a cidade com o 2º melhor clima do mundo, e é bem agradável mesmo… mas pra quem nasceu em Recife e mora em Brasília, é bem frio. Se você for pra lá, leve umas blusa, casaco, cachecol… Mas, apesar do frio, o lugar é muito bonito!
Sillas Campos
O pastor Sillas pregou uma vez na abertura e outra no encerramento da conferência. Na abertura ele mostrou como o Evangelho (sem precisar forçar a barra, sem precisar ser distorcido) responde aos principais anseios da “Geração Y“. Ao longo da conferência fomos apresentados ao que é esse evangelho (que de fato responde aos nossos anseios mais profundos). No encerramento, o Sillas pregou uma mensagem sobre a urgente necessidade de pararmos de focalizar nossa atenção em causas secundárias, baseado em um texto de Hudson Taylor. Nessa breve descrição da conferência, vou deixar o jeitão “casamenteiro” do Sillas de lado. =]
Greg Gilbert
O pastor Greg trouxe uma série de palestras baseadas em seu livro (que deu o nome da conferência deste ano). Na primeira palestra ele deu um excelente motivo para entendermos com mais clareza o evangelho: isso será como lenha seca e dura, apropriada para ser queimada no fogo de nossa adoração. Quando entendemos melhor o Evangelho, quando cremos de forma correta, também adoramos melhor. Não cabe aqui uma resenha do livro, mas algo ficou gravado em nossas mentes: a mensagem contém algumas partes fundamentais, que não podem ser esquecidas.
Deus – Deus é o Criador, por isso ele tem autoridade sobre toda a criação, e ele tem o direito de dizer como devemos viver. Além disso, Deus é Santo e Justo, e não pode deixar de ser Santo e Justo (e nós não queremos um Deus que não seja Santo e Justo… Só queremos que ele não seja Santo e Justo quando a justiça vai punir o NOSSO pecado…)
O Homem – A humanidade rebelou-se contra Deus, recusando-se a estar sob sua autoridade. E se a seriedade dessa rebelião não for entendida, o resto da mensagem vai ser comprometido também.
(juntando a rebeldia da humanidade e a santidade e justiça e poder de Deus, temos um cenário terrível, culminando em Romanos 3.19-20. Se a Bíblia terminasse ali, nós não nos reuniríamos para cantar e sorrir, só para chorar e lamentar. Mas a palavra que começa o verso seguinte é “Mas”, e essa palavra tem a habilidade de transformar completamente um cenário de desesperança em um cenário positivo)
Cristo – A resposta que Deus apresenta para continuar sendo Justo e Santo, mas também nos salvar, é fazer uma troca: Jesus, o homem-Deus, recebe nossa impiedade e nossos pecados e nossa punição e nossa morte… e nós recebemos sua santidade e justiça e vida. Deus derrama sua ira sobre Seu Filho, que ressuscita ao terceiro dia. E porque recebemos a santidade e a justiça de Jesus, e porque nossos pecados já foram pagos, Deus olha para nós como se olhasse para seu filho, santo, justo.
Resposta – Mas a “boa notícia” (evangelho, literalmente, significa “boas novas”) não para por aí: essa salvação que Jesus oferece está disponível para nós, não é como uma vitrine de uma loja de doces onde ficamos olhando, perplexos, enquanto OUTRAS pessoas se deliciam com as guloseimas do outro lado do vidro. A resposta não é uma grande tarefa que devemos fazer, a resposta é arrependimento (que é dado por Deus) e fé (que também é dada por Deus). Assim passamos a fazer parte dessa salvação, disponível a “todo aquele que nele crê”, de qualquer etnia, de qualquer lugar, homens ou mulheres, ricos ou pobres, cabeludos ou… ok.
[tweet link=”http://iprodigo.com/textos/o-que-e-o-evangelho-3.html”]Quando entendemos melhor o Evangelho, quando cremos de forma correta, também adoramos melhor.[/tweet]
Adauto Lourenço
O ponto alto pra muita gente nessa conferência foram as palestras do Prof. Adauto. Ele reestruturou as informações que estão nos DVDs e no livro (e trouxe algumas informações novas) ao redor do tema do evangelho, mostrou que estamos treinados (pelo nosso sistema de ensino caído) a não ver o óbvio, e mostrou, no melhor estilo “Os céus proclamam a glória de Deus”, com imagens e descrições, o quanto ele pôde, que Deus é, de fato, enorme, glorioso, majestoso. Depois que Adauto terminou sua última palestra, estávamos todos em silêncio, perplexos diante de nossa pequenez e da majestade do Deus Criador do Universo. Quando consideramos o nosso tamanho, o “tamanho” de Deus, o TAMANHO dos nossos pecados, e o TAMANHO da nossa salvação, não há como responder com algo diferente de adoração reverente.
Eu já havia presenciado palestras do Adauto por duas vezes, então não teve o mesmo impacto que antes, mas dava pra ver nos olhos (e nos queixos caídos) do pessoal que estava tendo contato com aquelas doces verdades pela primeira vez. Mesmo assim, não tem como não ficar bobo diante do “firmamento que anuncia as obras das mãos de Deus”. Pra quem não conhece ainda o Adauto, visite http://www.universocriacionista.com.br/.
Heber Jr
O Rev. Heber teve a oportunidade de falar aos rapazes na tarde do sábado sobre o texto de Filipenses 1:27-30 e nos mostrou como somos facilmente influenciados pela cosmovisão “do mundo” quando isso não é grotesco. Explico. É fácil percebermos a “secularização” quando estamos falando de um irmãozinho que anda pisando na bola e saindo da igreja pra a boate ou levando a namorada no motel. Mas quando o sermão é focado em nós mesmos (sermão-psicólogo que procura me mostrar como posso ser mais “feliz comigo mesmo” ou “bem-sucedido”, em vez de me mostrar o que Deus ensina na Bíblia) ou quando assumimos padrões mundanos de “prudência” (do tipo namorar uns 9 anos antes de casar, enquanto compra o carro e o apartamento…) não fica tão fácil percebermos este tipo de secularização. E o texto lido nos aponta a uma dupla cidadania: a missão dada é viver de modo digno do evangelho; a estratégia é firmeza e unidade na luta pela fé; a recompensa… é o sofrimento, que acompanha os verdadeiros seguidores de Cristo.
Heber Jr (além de ser um excelente tradutor) pregou uma mensagem no domingo mostrando a diferença entre lei (o que fazemos) e evangelho (o que cremos). A Bíblia toda é “Lei” ou “Evangelho”: a Lei aparece no imperativo, dizendo o que devemos fazer, como devemos viver. O Evangelho aparece no indicativo, contando o que Deus já fez por nós. Como o Heber disse, Não “vivemos o evangelho”, cremos no evangelho. Vivemos à luz do evangelho. A seguir, o pastor nos mostrou os dois usos da Lei (que tantas vezes é confundida com o próprio evangelho ou sumariamente ignorada): O uso pedagógico, que nos conduz a Cristo, nos mostrando que somos pecadores e que precisamos de salvação; e o uso normativo, que é o principal uso da Lei, servindo como uma norma de vida para os crentes.
[tweet link=”http://iprodigo.com/textos/o-que-e-o-evangelho-3.html”]Não “vivemos o evangelho”, cremos no evangelho. Vivemos à luz do evangelho.[/tweet]
Pessoas
Este foi o segundo ano consecutivo em que pude participar da conferência. No ano passado, o impacto das pregações foi maior (era tudo bem mais novo para mim, o lugar, os preletores, o clima…) mas nesse ano houve algo que eu não tinha conseguido perceber tão bem da primeira vez que participei. As pessoas.
O pessoal que vai na conferência de jovens parece estar todo com o mesmo objetivo de conhecer mais a Deus, de adorá-lo, de desfrutar de Sua Presença. Fiz alguns amigos em 3 dias que provavelmente vão durar por uma eternidade, pude ter contato com gente de todo o Brasil que lê este blog (é uma satisfação indescritível saber que o que a gente faz tem sido útil a vocês) e ainda pude brincar daquelas dancinhas de roda comuns a acampamento (acho que a maioria dos leitores deve saber do que estou falando) e jogar Uno!
A convivência nesses 3 dias foi muito mais natural do que eu imaginei que pudesse ser, e apesar das palestras terem sido excelentes, o que mais me marcou foi a comunhão (ainda que breve) com um pessoal reformado de todo o Brasil. Aprendi um monte de coisas sutis e importantes com eles (chegou a mudar até a minha vida devocional) e não vejo a hora de estar com esse pessoal de novo. E olha que eu só consegui conversar mais demoradamente com alguns (é muita gente e muito pouco tempo). A gente percebe que tem irmãos por toda a parte que estão passando pelo mesmo tipo de luta que nós, alguns estão em igrejas reformadas, outros estão sozinhos em suas igrejas… e a gente tem um monte de assunto em comum pra conversar!
Um ponto que pode melhorar é pensar em alguma estratégia de fazer o pessoal “isolado” (as várias pessoas que vão sozinhas, sem caravana, e que não são extrovertidas a ponto de interagirem naturalmente com os grupos já formados) participar e aproveitar também: algumas pessoas ficaram um pouco solitárias no meio da multidão nos primeiros dias… Mas isso muda de pessoa pra pessoa: o fato de eu ter ido “sem caravana” dessa vez me ajudou a conhecer mais gente, e isso foi muito bom.
Por fim, se você foi à conferência (e teve a paciência de ler até aqui), peço que você conte, nos comentários, como foi sua experiência. Se Deus quiser, nos vemos na conferência do ano que vem!