Não há nada pior que ser chamado de “ultrapassado”. Na verdade, eu posso pensar em um monte de coisa piores, como ter que tomar uma vacina antitetânica ou precisar de algum tipo de tratamento dentário. Mas em nossa rápida, moderna e conectada cultura, é uma coisa muito ruim ser chamado de “ultrapassado”. O Walkman é ultrapassado. Camisas jeans sem mangas são ultrapassadas. A América prospera em progressos, e nos últimos 300 anos temos tido progressos em muitas áreas, tais como direito das mulheres, direitos civis, tecnologia, vida saudável e medicina. Progresso é bom. Na maior parte do tempo.
Eu penso que precisamos ter muito cuidado, entretanto, quando começamos a tagarelar sobre progresso em nossos conceitos sobre Deus. Meses atrás, Rob Bell lançou um livro chamado O Amor Vence: Céu, Inferno e o Destino de todas as pessoas que já viveram. Muitas pessoas abraçaram o livro, dizendo que já era hora de abandonarmos nossas antigas, tribais ultrapassadas ideias sobre um Deus impetuoso que se ira contra o pecado e manda as pessoas ao inferno. Esse argumento de “deixar para trás” as ideias antigas tem sido repetido em relação a muitos outros conceitos sobre Deus e a Bíblia, como sexualidade, casamento e o debate sobre a criação.
Agora, não me leve a mal, eu sou totalmente a favor de reexaminar nossas crenças mais comuns e ter certeza de que elas realmente estão na Bíblia. Mas acho que precisamos fazê-lo com calma e muito, muito cuidado. Há algumas razões para isso.
Primeiro, realmente achamos que somos de alguma forma espiritualmente superiores àqueles que vieram antes de nós? Realmente achamos que todo cristão e toda cristã que nos antecederam e mantiveram algum conceito em particular eram idiotas espirituais que não sabiam como Deus era realmente? Gigantes espirituais como Agostinho, Calvino, Lutero, Edwards, Spurgeon e Lloyd-Jones de alguma forma se perderam, quando se trata das suas ideias sobre inferno, ou sexualidade, ou igreja, ou família ou criação? Não é como se Deus tivesse mudado desde a época desses homens. Ele ainda é o mesmo, e os homens e mulheres que nos antecederam lutaram com a mesma Bíblia que nós. Então não sejamos estúpidos arrogantes e achemos que de alguma forma abandonamos os pensamentos antigos daqueles que nos precederam.
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Segundo, somos produtos da nossa cultura exatamente da mesma forma como foram aqueles que nos antecederam. O argumento geralmente é mais ou menos assim: Agostinho (ou Calvino, Lutero, Edwards etc) estava profundamente inserido em um contexto patriarcal (ou misógino, medieval, iluminista, racionalista etc) e, portanto, todas as suas ideias foram moldadas por aquela cultura. Somos parte de uma cultura superior que deixou para trás todas as ideias antigas e, portanto, nossas ideias são melhores. Mas isso é apenas bobagem. Nossas ideias são moldadas por nossa cultura pós-moderna exatamente do mesmo jeito, se não mais, que as dos nossos antecessores. Nossas ideias não são necessariamente melhores que as anteriores.
Por fim, a Bíblia fala sobre preservar a veracidade de Jesus Cristo e não deixar que isso seja mudado. Por exemplo, 2 Timóteo 1.13-14 diz “Retenha, com fé e amor em Cristo Jesus, o modelo da sã doutrina que você ouviu de mim. Quanto ao que lhe foi confiado, guarde-o por meio do Espírito Santo que habita em nós”. Nós somos primeiramente chamados a guardar a fé confiada a nós. Não faça confusão ou modifique ou modernize isso. À luz disto, devemos hesitar em rejeitar ideias que tradicionalmente têm sido mantidas dentro da igreja.
Devemos sempre avaliar em que acreditamos e em que tradicionalmente temos crido à luz das escrituras. A Reforma foi construída com base no pensamento de que tudo tem que ser filtrado através da escrituras. Minha preocupação, no entanto, é que, em nossa cultura moderna, nós sejamos muito rápidos em abandonar idéias que foram tradicionalmente mantidas. Isso pode ser tão perigoso quanto se prender a idéias “ultrapassadas”. Talvez mais perigoso.
Traduzido por Carla Ventura | iPródigo.com | Original aqui