Quando tinha 19 anos, entrei para a equipe ministerial de uma grande igreja evangélica. Alguns dos pastores dessa equipe se tornaram grandes amigos e mentores, mas conforme fui conhecendo alguns pastores dessa igreja, e de outras igrejas da mesma região, me entristecia pelo que via. Conforme conhecia alguns desses pastores mais intimamente, observava que o amor deles pelo ministério parecia superar o amor por Deus. Parecia que, com o passar dos anos, o ministério se tornava um deus. Seus próprios reinos haviam ocupado o lugar do reino de Deus. Suas orações se tornaram focadas no sucesso ministerial, ao invés de na fidelidade a Deus no exercício do mesmo. Consequentemente, um a um, com o passar dos anos, muitos desses pastores deixaram o ministério, por conta de simplesmente não aguentarem mais viver sob as auto-impostas demandas legalistas, irracionais e pesadas.
Eu reconhecia que, por si mesmo, sem Deus como fundação, o ministério é completamente inútil! Sem permanecerem na dependência resoluta e constante de Deus, ou pastores deixarão o ministério ou, o que é pior, os ministérios deixarão os pastores. Claro, um pastor pode continuar pregando, orando e trabalhando enquanto tenta interpretar o papel de bom líder, mas, mais cedo ou mais tarde, ele vai escorregar, e o seu ministério focado em si mesmo vai começar a consumir sua alma, de dentro para fora. Esse tipo de ministério corrompe o homem e se espalha como metástase pelo corpo da igreja. Leva ao cinismo, apatia e esgotamento. Não conhece a graça e busca apenas seus próprios fins. Sem Deus no coração do ministério, ele não só é inútil como impossível. Ainda bem que foi assim que Deus planejou – que fosse impossível sem Ele.
Aos 19 anos, sendo um seminarista se preparando para o ofício pastoral, me preocupava se algum dia chegaria a um ponto do ministério em que a paixão por ele mesmo usurparia minha paixão por Deus – se o ministério se tornaria minha religião, se o ídolo do sucesso no ministério substituísse o desejo do meu coração de ser fiel a Deus.
Com tudo isso ocupando muito espaço em minha mente, em uma determinada manhã, desci da cama direto para os joelho e clamei a Deus que ele me capacitasse para o ministério, me sustentasse no ministério e me desse paixão pelo ministério – uma paixão que viesse do meu amor e paixão pelo próprio Deus. Naquela manhã, escrevi as seguintes palavras na primeira folha da minha Bíblia: “Eu viverei para Deus, não para o ministério”. Todos os dias desde então, pela graça mantenedora de Deus, tenho me rendido ao Senhor, implorando que ele me ajude a viver para Ele e a confiar somente nEle para me equipar, sustentar e capacitar para Seu ministério.
Para me manter firme na busca de uma vida de ativa entrega pelo bem de Deus e não do ministério, devo não só confessar regularmente meus pecados de auto-suficiência, mas também devo permanecer resoluto todos os dias da minha vida – vivendo uma vida de arrependimento e fé, a cada passo e a cada fôlego me deleitando na firmeza e no amor abundante do Senhor. Pois se eu confiar na minha própria força, com certeza falharei.
Decidindo ser decidido
Parece que a cada novo ano, somos pegos por um redemoinho de resoluções bem intencionadas. Com premeditados rompantes de entusiasmo, aqueles mais próximos de nós embarcam em atividades peculiares e, às vezes, públicas, que chegam a causar espanto nas crianças. Somos cercados por decretos surpreendentes e manifestos de Ano Novo aparentemente profundos, nos quais somos convocados a testemunhar as drásticas mudanças que hão de vir – resoluções de disposição implacável, dietas impossíveis e fortalezas impenetráveis de disciplina.
O observador mais cético pode se perguntar: “todo esse fervor é realmente necessário?”. Mais ainda, o leitor mais cínico pode se questionar: “É realmente apropriado fazer essas resoluções? Afinal de contas, não deveríamos todos nós viver, em todo tempo, buscando uma vida bíblica de obediência e sabedoria?”
Alguns podem até chegar ao ponto de argumentar que resoluções não são bíblicas, baseados no fato de que a Palavra de Deus provê uma compilação completa e autoritativa das resoluções de Deus para Seu povo. Fazer a sua própria lista de resoluções, diriam, é, no mínimo, supérfluo.
Esse é o tipo de questão que eu sempre considerei quando se trata de todo esse negócio de fazer resoluções, e eu acho que muitos dos céticos “biblicamente informados” também fazem essas perguntas. De qualquer forma, a Palavra de Deus não só nos dá permissão para fazer resoluções, como nos dá boas razões para fazê-lo. Várias passagens bíblicas parecem nos dar razões para fazermos resoluções, e nos dão exemplos de homens que decidiram viver para Ele de alguma forma particular, por alguma razão particular (Daniel 1.8; Mateus 1.19; Atos 19.21; 1 Coríntios 10.14-32; Colossenses 3.12-17; 2 Tessalonicenses 1.11). Assim, ao considerarmos como podemos glorificar a Deus em tudo que fazemos em nossos chamados e circunstâncias particulares, devemos ser sábios para fazermos resoluções particulares que nos levam à santificação. Fazemos isso pelo poder do Espírito Santo, descansando na certeza de que fomos declarados justos pelo Pai por conta da justiça perfeita do Filho.
A resolução de Edwards
Jonathan Edwards, com apenas 19 anos, estava consciente de suas fraquezas e da natureza destrutiva do pecado, então decidiu estabelecer e manter algumas resoluções como parte de seu esforço para viver para a glória de Deus. Ele ajudou a pavimentar o caminho para nós, ao começar suas 70 resoluções com a seguinte introdução:
Estando ciente de que sou incapaz de fazer qualquer coisa sem a ajuda de Deus, humildemente Lhe rogo que, através de Sua graça, me capacite a cumprir fielmente estas resoluções, enquanto elas estiverem dentro da Sua vontade, em nome de Jesus Cristo.
Essas palavras simples e introdutórias de Edwards não somente nos fornecem um relance do pensamento de uma das maiores mentes da história, mas também nos mostram um pouco do coração de um jovem cujo coração havia sido humilhado e conquistado pelo Senhor Todo Poderoso. Podemos então considerar essas palavras de Edwards ao buscarmos glorificar a Deus e regozijarmo-nos nele para sempre, em nossas igrejas, nossos lares e em nossos corações.
Decidindo conscientemente
“Estando ciente”, começa Edwards – devemos ser conscientes, razoáveis, ao fazermos resoluções. Se partirmos para o empreendimento de fazer resoluções apressadas como resultado de nossas ilusões de perfeição sem pecado, é bem provável que não apenas falhemos ao manter tais resoluções, mas também nos sintamos menos inclinados a fazer outras resoluções para atingir os mesmos fins. Devemos fazer resoluções sob muita oração e estudo da Palavra de Deus. Nossas decisões devem estar de acordo com a Palavra; assim, qualquer resolução que fizermos deve, necessariamente, nos levar a cumprir nossos chamados particulares. Devemos considerar todas as implicações das nossas resoluções e tomarmos o cuidado de termos nosso próximo em mente, mesmo que isso signifique criar novas resoluções ao longo do tempo.
Decidindo dependentemente
“Sou incapaz de fazer qualquer coisa sem a ajuda de Deus”, Edwards admite. Devemos estar cientes da verdade simples de que toda resolução deve ser feita na dependência de Deus. E, enquanto todo cristão responderia dizendo “Bom, é claro que devemos depender de Deus para todas as coisas”, muitos cristãos tem se entregado às prioridades do mundo. Eles pensam que, uma vez que se tornarem dependentes de Deus, terão força imediata. Eles repetem o mantra do mundo: “o que não me mata, me fortalece”. Mesmo que esse princípio seja, geralmente, certo, tal pensamento pode gerar uma atitude de independência orgulhosa. Devemos entender que “tudo posso através de Cristo, que me fortalece” significa que devemos depender da força dEle continuamente para podermos fazer todas as coisas e mantermos todas as nossas resoluções (Efésios 3.16; Colossenses 1.11). Na verdade, qualquer coisa que não nos mate, por conta da graça transformadora de Deus, nos enfraquece, para que em nossa fraqueza continuamente dependamos da força do nosso Senhor (2 Coríntios 12.7-12).
Decidindo humildemente
“Humildemente Lhe rogo que, através de Sua graça, me capacite a cumprir fielmente estas resoluções”. Ao fazermos resoluções para a glória de Deus, perante a face de Deus, não devemos nos achegar à presença dEle batendo em nosso peito com arrogância triunfal, como se Deus devesse nos amar mais e nos abençoar mais porque agora fizemos resoluções para nos aproximarmos dele. Na verdade, o Senhor, em sua providência, pode escolher nos deixar passar por mais provações em nossas vidas; em Seu amor paternal imutável por nós, Ele pode decidir nos disciplinar cada vez mais, para que possamos detestar cada vez mais nosso pecado e nos regozijarmos cada vez mais nEle. Devemos nos aproximar dEle na segurança humilde em sua graça, pois não buscamos simplesmente as bênção, mas Aquele que abençoa.
Decidindo em nome de Cristo
“Enquanto elas estiverem dentro da Sua vontade, em nome de Jesus Cristo”. Não podemos decidir fazer nada com uma atitude humilde presunçosa diante de Deus. O propósito de fazermos resoluções não é apenas estabelecer metas para que possamos viver vidas mais alegres. Somos chamados por Deus para viver de acordo com a Sua vontade, não a nossa – em nome de Cristo, não por nós mesmos – pois não é a nós, mas a Ele que toda a glória é devida (Salmo 115.1).