Primeira parte desse post aqui
Em um dos momentos mais engraçados do filme, o grupo recém-reunido de Muppets decide sequestrar uma celebridade para participar de seu show e, com isso, garantir que a emissora transmita na televisão. Em uma discussão sobre a ética de sequestrar alguém, Lew Zealand, o Muppet lançador de peixes-bumerangues (!), termina a questão com um fantástico discernimento: “Chegamos à conclusão de que celebridades não são pessoas”.
É curioso que um fantoche seja aquele que traz essa informação. E, no fim das contas, talvez ele esteja certo. Não porque celebridades não sejam seres humanos, mas porque, muitas vezes, as vemos dessa forma. Como isso pode acontecer?
Homem, Muppet ou algo pior?
No texto anterior, vimos que as decisões de Walter, Gary e Mary entram no contexto do chamado do ser humano. Walter deixa sua casa, prepara-se para unir-se à sua esposa, assume responsabilidades. Walter corre atrás daquilo que ama, exerce sua vocação, assume responsabilidades. Mary dá um puxão de orelha no marido quando necessário, aguarda que ele assuma a liderança, sem assumir as rédeas do futuro casamento.
O que vemos são algumas características daquilo que o Senhor nos propôs no primeiro pacto. Vemos o trabalho, o casamento e mesmo o sábado (afinal, assistir Muppet Show é descanso). É o homem sendo homem – o Criador diferenciado da criatura e esta criatura, por sua vez, distinta da criação.
Mas não é bem isso o que acontece com celebridades.
Antes, porém, é necessária uma distinção – uma coisa é ser famoso em reconhecimento ao bom trabalho que faz (exemplo: Os Muppets ou, vá lá, Steve Moffat ou Flannery O’Connor ), a outra ser famoso por ser famoso, tornar-se uma marca e transformar-se em objeto de fetiche (uma celebridade – como Kim Kardashian ou Paris Hilton). Atualmente, muitas vezes, as coisas se misturam e acabamos confundindo os dois conceitos.
A distinção entre Criador-homem-criação nos auxilia a enxergar quando se vive para a fama do nome de Deus ou para nossa própria fama – ou infâmia.
Primeiro, podemos achar que somos o Criador. Podemos errar achando que nós mesmos somos deuses. Isso aparece de várias formas, quando exigimos ser recompensados e reconhecidos em nossa missão, sem lembrar de onde todo dom perfeito vem . Quando queremos controlar tudo ou dominar tudo, não o que nos foi entregue. Quando vemos criaturas semelhantes a nós como servos dos nossos desígnios.
É o que acontece com o vilão do filme, Tex Richman (Chris Cooper). Não é sem razão que sua música tema é Let’s talk about me. Observe um ser humano cantar para a própria glória. E que não nos reconheçamos nesse verso.
Ele é Tex Richman / Todos escutem / Que ótimo é ser ele / (É ótimo ser eu) / Ele é o maior / Vocês são os piores!
Segundo, podemos achar que outros são o criador. A exigência de que uma celebridade aparecesse no show dos Muppets, para que ele se tornasse algo relevante reflete o que pensamos sobre muitos famosos. Eles se tornam ídolos, tornam-se mediadores, tornam-se a autenticação de quem somos. Veja, teoricamente os Muppets não precisavam de uma celebridade. Eles eram bons no que faziam. Pessoas lembravam-se do trabalho deles. Mas por que não ter uma ajuda extra?
Quantas vezes não refletimos o mesmo? Quando uma pessoa famosa diz aceitar Jesus, comemora-se. Quando um cristão vira celebridade, páginas de nossos informativos são dedicadas a ele. Há um desejo de mostrar que realmente essa mensagem funciona. Que os crentes são relevantes. Que a igreja não é um espaço daqueles que não são poderosos, nem nobres, nem coisas fracas ou que não são. Até canções são feitas para crentes famosos. E ai daquele que questionar o testemunho e a doutrina de uma celebridade.
Da mesma forma, há uma tendência de copiarmos e evidenciarmos ministérios que têm características semelhantes ao que o mundo do show business – seja o pastor como palestrante, apresentador de TV, animador de auditório e comediante de stand-up ou o grupo de louvor como banda de rock ou o auge do culto.
Terceiro, podemos achar que pessoas são menos que pessoas. Sim, os Muppets cometem um sequestro e levam Jack Black amarrado para o show. Sim, é engraçado porque Jack Black é uma pessoa, e nenhum dos telespectadores liga – acham que a parte do show. Mas é algo semelhante ao que fazemos. E, como não somos Muppets, não é tão engraçado se repetirmos isso.
Podemos fazer o mesmo de maneiras mais diversas – desde o próprio sequestro, passando por aborto, estupro, pornografia, manipulação, fofoca, chantagem e por aí vai. Nossos desejos devem passar pelo teste do amor ao próximo.
A maioria de nós não se reconhece nos pecados listados acima, mas é normal rirmos da ridícula vida que levam algumas celebridades, subcelebridades e aspirantes à fama. Temos blogs e programas de TV dedicados a isso. Sei que algumas coisas que os famosos fazem são realmente engraçadas. Aqui no Brasil, soubemos de um casal que convidou pessoas para seu casamento usando uma mailing list de celebridades. Outro convidou todos para uma esfirra e cada um pagava o seu.
Mas, às vezes, passamos do limite ao rir de divórcios, adultério e morte. São assuntos sérios, mas na vida de celebridades, viram motivo de riso. Isso acontece porque não reconhecemos a imagem de Deus nessas pessoas.
Conclusão
Repare o que as três abordagens têm em comum – nenhuma delas trata o ser humano como ele é. Mesmo quando nos exaltamos como “Criadores” nos tornamos manipuladores e inumanos. Deus nos criou à imagem dele, e somente quando entendemos que somos semelhantes a ele, mas, ao mesmo tempo, nada mais que imagens, poderemos nos enxergar como pessoas que somos, como base naquilo que Deus diz quem somos. Podemos amar a Deus e amá-las como o Senhor nos ordena.
Sem isso, trataremos nosso Senhor e nosso próximo como, ironicamente, fantoches.
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