Jesus tem AIDS.
Provavelmente, apenas ler isto escrito em sua frente deixou alguns de vocês irritados. Deixe-me ajudá-lo a enxergar porque isto e, ao fazê-lo, por que cuidar daqueles que têm AIDS é parte do mandato evangelístico entregue a nós na Grande Comissão.
A afirmação de que Jesus tem AIDS alarma alguns de vocês porque sabem que isto não é verdade. Jesus, afinal, é o filho exaltado do Deus vivo. No sepulcro, ele venceu a morte, e a venceu definitivamente. Ele não está fraco, morrendo ou infectado; ele é triunfante e ressurreto.
Sim.
Sim, mas, o que frequentemente parecemos esquecer é que Jesus identificou-se com os sofredores deste mundo, uma identificação que continua através de sua igreja. Sim, Jesus completou seu sofrimento na cruz, mas ele também fala de si mesmo como “perseguido” por Saulo de Tarso, quando Saulo persegue sua igreja em Damasco (Atos 9.4).
Por meio do Espírito de Cristo, nós “gememos” com ele no sofrimento de um universo ainda sob a maldição (Rm 8.23,26). Essa maldição manifesta-se, entre bilhões de outras formas, em corpos voltando-se contra si mesmos, por sistemas imunológicos dando errado.
É por isso que a igreja deve sofrer, continuamente, com Cristo, enquanto carregamos sua presença nas trevas de uma criação caída. O Apóstolo Paulo diz, então, “Agora me alegro em meus sofrimentos por vocês, e completo no meu corpo o que resta das aflições de Cristo, em favor do seu corpo, que é a igreja” (Cl 1.24).
Alguns da igreja de Cristo têm AIDS. Alguns deles estão agonizando em hospitais logo ali descendo a rua. Alguns deles são órfãos devido a essa doença na África. Todos eles estão sofrendo com uma intensidade que poucos de nós podem imaginar.
Alguns de vocês estão irritados com a declaração que escrevi porque acham que, de alguma forma, isto incrimina Jesus. Afinal, a AIDS é uma doença vergonhosa, que mais frequentemente se espalha através da promiscuidade sexual ou pelo uso ilícito de drogas.
Sim.
Sim, mas estes eram exatamente os tipos de pessoas com quem Jesus consistentemente se identificou, enquanto caminhava pelas montanhas da Galileia e ruas de Jerusalém, anunciando o Reino de Deus. Pode alguém ser mais promíscuo que as prostitutas com quem Jesus comeu? Pode alguém ser mais marginalizado pela sociedade que a mulher com fluxo de sangue, sangue que teria feito impuro qualquer um que tocasse nela (Lc 8.40-48)? Jesus a tocou, e levou sobre si mesmo a impureza dela.
A AIDS é escandalosa, claro. Mas não tão escandalosa quanto uma cruz.
No madeiro da crucificação, Jesus identificou-se com um mundo pecaminoso (incluindo o escândalo do meu pecado). Ele pareceu ser amaldiçoado por Deus (Dt 21.23; Gl 3.13). Por isso parecia tão razoável às multidões gritando amaldiçoá-lo como um Messias falso, porque somente aqueles rejeitados por Deus seriam pendurados num madeiro. É por isso que o apóstolo Paulo tinha de insistir repetidamente que ele não se “envergonhava” da cruz. No Gólgota, Jesus tornou-se pecado (embora ele nunca tenha conhecido pecado) ao carregar os pecados do mundo (2Co 5.21). Isto é escandaloso.
Mais ainda, alguns de vocês estão irritados porque acreditam que a frase que escrevi acima é uma afronta à dignidade do rei do universo. Ele não tem qualquer doença de imunodeficiência; ele está reinando à destra de Deus.
Sim.
Sim, mas não podemos ver Jesus somente em sua Cabeça, mas também em seu Corpo, também em sua identificação com aqueles que ele chama “os meus menores irmãos” (Mt 25.40). Jesus não está com fome nesse exato momento, está? Ele não está nu, está? Ele não está com sede, está? Ele não está preso, está? Bem, sim, ele está… na nudez, fome, sede, e prisão dos seus irmãos e irmãs sofredores ao redor do mundo.
Quando estivermos em julgamento, seremos, Jesus nos diz, responsabilizados por como o reconhecemos na dor daqueles que não parecem carregar a glória de Cristo agora. Vemos Jesus agora, pela fé, no sofrimento dos filhos de usuárias de crack, no viciado em metanfetamina, no órfão pela AIDS, no pródigo hospitalizado, que vê a sua ruína nos fios correndo de suas veias.
Me pergunto quantos de nós ouvirão as palavras de nosso imperador galileu: “eu tive AIDS e vocês não se preocuparam em se aproximar de mim”.
Portanto, se amamos Jesus, nossas igrejas deveriam estar mais cientes dos clamores da maldição, incluindo a maldição da AIDS, que a cultura ao nosso redor. Nossas congregações deveriam dar boas vindas aos soropositivos, e não deveríamos estar preocupados em abraçá-los – como abraçaríamos nosso Cristo. Nossas congregações deveriam estar na linha de frente das missões às regiões devastadas pela AIDS no mundo. Nossas famílias deveriam estar desejosas de receber aqueles feitos órfãos por este carrasco global.
Através de tudo isso, devemos ser insistentes na proclamação do Evangelho. Para aqueles cujo sangue se tornou seu próprio inimigo, devemos anunciar o sangue que eles não conhecem, o sangue dAquele que pode purificá-los de toda injustiça, assim como nos purificou (1Jo 1.7); o sangue dAquele que é eternamente imune ao pecado, à morte e ao inferno (Jo 6.53-56).
Jesus ama o mundo, e o mundo tem AIDS. Jesus se identifica com os menores deste mundo, e muitos deles têm AIDS. Jesus nos chama para reconhecê-lo nas profundezas do sofrimento, e lá existe a AIDS também.
Jesus tem AIDS.
Dr. Moore é Deão da School of Theology e Vice-Presidente Sênior da Administração Acadêmica do Southern Baptist Theological Seminary. Ele também é pastor na Highview Baptist Church. Visite seu site pessoal para ler o original.
Traduzido por Josaías Jr | iPródigo