“Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus” (2 Coríntios 5.21)
Não há evangelho genuíno sem a cruz de Cristo. Não podemos considerar como bíblica uma pregação que não leve pecadores ao arrependimento e fé através da morte de Jesus Cristo na cruz. “Certamente, a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos, poder de Deus” (1 Co 1.18). Por isso “nós pregamos a Cristo crucificado” (v.23). Não devemos ter o receio de exagerar: o sangue de Jesus derramado na cruz é ponto central na mensagem de salvação. Foi por isso que Paulo não hesitou em dizer à igreja de Corinto: “(…) decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado” (2 Co 2.2). Foi para isso que Jesus veio em carne. Para morrer na cruz.
Mas por que o sacrifício de Jesus tem valor suficiente para pagar pelos pecados, “e não somente os nossos próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro” (1 Jo 2.2)? Por que a morte de um único homem pode substituir a condenação de muitos? E por que a minha própria morte – ainda que fosse nas mesmas circunstâncias da morte de Cristo – não seria capaz de me salvar? Por que tem que ser Jesus Cristo e só Ele?
Nunca. Nenhuma vez.
Porque Jesus Cristo não conheceu pecado. Sem relegar a cruz a segundo plano, não podemos nos esquecer da razão pela qual a morte de Jesus tem infinito valor diante de Deus. E a resposta está na vida sem pecado do Filho de Deus, uma vida de cumprimento perfeito da lei do Senhor. Não houve um momento sequer da vida de Jesus em que o pecado tenha o tocado. Nenhuma palavra, nenhum ato, nenhum pensamento, nenhuma motivação. Tudo o que Jesus fez foi para a glória de Deus, segundo a vontade de Deus, no poder do Espírito de Deus. Ao contrário do primeiro Adão, que pecou em um mundo antes sem pecado, o último Adão não pecou mesmo em um mundo mergulhado no pecado.
Do começo ao fim, sem pecado. Quando ainda era uma pequena criança, nenhuma vez Jesus chorou para manipular seus pais. Não fez chantagem emocional para conseguir o que queria ou foi agressivo com seus irmãos mais novos. Jesus nunca foi egoísta com os brinquedos de madeira feitos pelo pai na carpintaria. Ele amava emprestá-los! Ele amava as outras crianças como se fosse Ele mesmo.
Durante a infância e adolescência, Jesus nunca fez algo apenas para agradar seus amigos e conseguir aprovação do grupo. Nunca cuidou do seu corpo apenas para chamar atenção do sexo oposto. Nunca foi preguiçoso. Nunca aceitou participar de algo pecaminoso por medo do que poderiam falar dele. Nunca contou uma mentira ou fez alguma fofoca. Nunca algo no seu coração foi maior do que seu Deus. Ao contrário, “Jesus crescia em sabedoria, estatura e graça diante de Deus e dos homens” (Lc 2.52).
Jesus nunca olhou para uma mulher com intenção impura no coração (Mt 6.28). Nunca proferiu um insulto (Mt 6.22). Todas as vezes que Jesus se irou ou se entristeceu, foi uma ira sem pecado (Mt 23.13-36, Lc 19.45-46) ou uma tristeza motivada por compaixão e santidade (Mt 23.37-39, Lc 19.41-44, Jo 11.35). Jesus permaneceu puro mesmo durante a grotesca zombaria e humilhação que sofreu em sua prisão e crucificação. Sua mente nunca soube o que é um pensamento maligno, e seu coração nunca experimentou qualquer motivação pecaminosa. Jesus viveu uma vida bem diferente da nossa.
Ele nunca teve outros deuses, nunca adorou outros deuses, nunca usou o nome de Deus em vão, sempre santificou o sábado, sempre honrou seu pai e sua mãe, nunca matou, adulterou, furtou, deu falso testemunho ou cobiçou. Jesus nunca precisou confessar seus pecados ou se arrepender deles, porque nunca comenteu nenhum. Nunca. Nenhuma vez. Jesus amou a Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma, de toda sua força e de todo o seu entendimento.
Mais que perdoados
Essa é a razão porque Jesus é o único qualificado para nos fazer “justiça de Deus”. Uma vida manchada pelo pecado, ainda que fosse uma única mancha, não é uma oferta válida para satisfazer o padrão divino de justiça. Ele, e somente Ele, não conheceu pecado. Ele cumpriu toda a lei de Deus. “Foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado” (Hb 4.15b), com o agravante de ter enfrentado uma inigualável oposição demoníaca, pois o Diabo e seus servos malignos sabiam que Ele era o Santo de Deus (Mc 1.24). Quando Jesus de Nazaré, pregado em uma cruz romana, disse “Está consumado!” e entregou seu espírito, o Deus Pai não viu apenas condenação e morte. Ele viu a justiça sendo finalmente manifestada (Rm 3.26). A punição que o pecado exige de um Deus justo e santo foi plenamente satisfeita através de um sacrifício de infinito valor: a morte de uma vida justa, a vida do Filho de Deus, o homem divino. Não poderia ser algo de menor valor. Não existe nada de maior valor. A não-pecaminosidade de Jesus é a base para o valor de sua morte na cruz. Por isso Ele pode ser o substituto de todo o povo eleito de Deus.
Pela fé em Cristo, somos mais que perdoados. Somos “feitos justiça de Deus”. Na escala da justiça, não saímos do negativo para o neutro. Saímos do infinitamente negativo para o infinitamente positivo! Do império das trevas para o reino da luz. De alvo da ira para objeto do amor. De inimigos para filhos. A troca graciosa de nossa injustiça pela justiça de Jesus pôde acontecer somente porque Ele não conheceu pecado.
Por isso nem Satanás ou qualquer outra criatura podem acusar Deus de injusto ao justificar terríveis pecadores como eu e você. Por que em Cristo, cumprimos toda lei. Através da fé, a vida sem pecado dele é a nossa vida. Diante do tribunal do Juiz de toda a terra, somos tão justos quanto Jesus. O que era impossível para nós, o próprio Deus fez, “para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus”. Abandonemos, portanto, toda tentativa de aprovação diante de Deus por qualquer coisa que não seja a perfeita, completa e acabada justiça de Cristo. E se alguém se gloriar, glorie-se somente na cruz daquele que não conheceu pecado.