Tenho trabalhado nessa breve série que discute a santidade de Deus e a existência do inferno. Estou observando o que acontece quando o Santo Deus entra em contato com o pecado humano. No último artigo, mostrei que Deus pode reagir ao pecado com ira justa. Hoje quero mostrar que Deus também pode responder com paciente misericórdia. Fui à história de Uzá para providenciar uma amostra da justa ira de Deus; A misericórdia de Deus é exibida em várias passagens na Bíblia, mas vamos focar em Êxodo 32, a familiar história do bezerro de ouro.
Deus libertou seu povo da escravidão e, agora, Moisés havia subido no Monte Sinai para encontrar-se com Deus e receber instrução acerca de como o povo deveria servir seu Deus. Enquanto Moisés estava lá, o povo se cansou de ficar esperando por ele e decidiu fazer um novo deus. A nação inteira participa desse plano, trazendo todo ouro que haviam saqueado do Egito e, com ele, Arão faz um bezerro de ouro. Arão o coloca diante de todo o povo e eles começam a prestar submissão a ele dizendo “Este é o deus que nos tirou do Egito. Este é aquele que fez todas aquelas maravilhas para nós”. Eles adoram esse deus, trazem suas ofertas diante dele e fazem uma grande celebração.
Deus vê isso, conta a Moisés sobre isso e diz a ele: “Esta é a última gota. Irei destruir todos eles e farei uma nação a partir de você!”. Numa mudança fascinante, Moisés pleiteia com Deus. Ele traz o caso a Deus e diz “Te dou duas razões pelas quais você não deveria fazer isto. Primeiro, os Egípcios dirão ‘Ah! Veja esse Deus! Ele os tirou da nossa terra para destruí-los no deserto. ’ Pense no que isso faria com a sua reputação.”. E, segundo, “Não se esqueça da aliança que você fez com Abrãao, Isaque e Jacó, a qual promete que seus descendentes entrariam na sua herança”.
E no versículo 14 lemos: “E sucedeu que o Senhor arrependeu-se do mal que ameaçara trazer sobre o povo”. Deus decidiu não fazer justiça com essa nação nesse momento exato. Deus poderia ter feito com que cada um deles morresse e Ele seria perfeitamente justo em fazê-lo. No entanto, Ele mostra misericórdia.
O que é misericórdia? Misericórdia é Deus agindo pacientemente. É Deus oferecendo paciência àqueles que merecem ser punidos. Misericórdia não é algo que Deus deve a nós – por definição, misericórdia não se deve – mas é algo que Deus estende em bondade e graça àqueles que não a merecem. Deus não deve misericórdia a você ou a qualquer pessoa. No final das contas do bezerro de ouro, Deus diz a Moisés: “Terei misericórdia com aquele que eu tiver misericórdia”. Depois, em Romanos, lemos: “Terei misericórdia de quem eu quiser ter misericórdia”. Deus não deve sua misericórdia a ninguém, mas a dará quando servir aos seus grandes propósitos. A misericórdia que Ele mostra diante do nosso pecado é porque Ele está adiando o julgamento de justiça para um momento posterior.
Entenda que misericórdia não é injustiça; Deus não poderia ser santo e injusto ao mesmo tempo. Não, misericórdia não é injustiça, é escolher não fazer justiça imediatamente. Deus pode ser santo e misericordioso porque misericórdia não é justiça negada, mas justiça adiada. Dissemos que não há nada na natureza de Deus que o permita ignorar o pecado. Misericórdia não significa deixar esses pecados de lado ou esquecer que eles aconteceram. Em vez disso, é adiar a sentença por um tempo. Deus não iria fingir que o povo nunca pecou e não iria fazer com que aqueles pecados simplesmente desaparecessem em um vácuo cósmico em algum lugar. Isso seria injusto. No entanto, ele iria adiar a penalidade daquele pecado por um tempo.
Se você comete um pecado hoje e Deus o faz cair morto por isso, Ele não está sendo injusto. E ainda assim é mais provável que quando você pecar hoje, Deus será misericordioso e adiará a justiça por um tempo. Você e eu crescemos muito acostumados à misericórdia. De fato, ficamos tão acostumados a ela que nos tornamos complacentes e começamos a pensar que a justiça de Deus nunca virá. Quando isso acontece, rapidamente ficamos frios com relação à misericórdia e indignados com a justiça. Ainda assim, quando vemos a santidade de Deus e vemos o horror do pecado, é a misericórdia que é chocante. É a história da misericórdia de Deus em poupar os israelitas que deveria nos chocar mais ainda que a história de Uzá sendo morto.
Há muitas pessoas que leem o Velho Testamento e reclamam sobre o Deus irado e injusto que eles veem. Eles dizem que esse Deus é excêntrico, que Ele tem dias ruins e, nesses dias ruins, ele age com ira. Até que você tenha lido o Velho Testamento e visto a misericórdia de Deus como o tema principal, você, na verdade, não o compreendeu. Você lê o Velho Testamento e se maravilha com a misericórdia de Deus que Ele continuamente retorna ao Seu povo, mesmo quando eles mostram tanto ódio e desrespeito para com Ele? A história de Deus com Seu povo é uma história de Sua graça, paciência e amor.
Então agora vimos duas reações muito diferentes quando a santidade de Deus entra em contato com o pecado humano – justa ira e paciente misericórdia. Há uma diferença importante entre essas duas reações ao pecado. Pode haver paciente misericórdia, mas deve haver ira justa. A misericórdia de Deus, expressa em paciência, não dura para sempre. Ela não nega justiça; somente a adia por um tempo. O que acontece quando esse tempo passa, quando o tempo acaba? Esta é a pergunta que Paulo faz no livro de Romanos: “Pecador, você acha que você escapará do julgamento de Deus? Você está presumindo com base nas riquezas da bondade, indulgência e paciência de Deus?”. O que acontecerá quando a paciência de Deus chegar ao fim e tudo o que restar for julgamento e ira?
Há muito o que podemos aprender sobra a ira e a misericórdia de Deus a partir dessas narrativas do Velho Testamento, mas, para responder essa questão, precisamos olhar à frente, um pouco além, para a cruz de Cristo. Isso é o que faremos no próximo artigo conforme eu concluo essa série.