Certa ocasião, eu estava visitando uma igreja e ouvi uma conversa entre um pastor e um de seus membros que guardei comigo desde então. Uma mulher perguntou ao pastor antes do culto: “O vídeo desta manhã vai me fazer rir ou chorar? Ele sempre faz uma coisa ou outra”. O pastor foi rápido em responder que ele achava que dessa vez o vídeo a faria chorar. Aparentemente, em seus cultos, imediatamente após o sermão, essa igreja mostrava um vídeo toda semana. Ele dava o tom da música de encerramento e do final do culto. Ele não foi exibido por mero entretenimento, mas foi usado para enfatizar a verdade das Escrituras que o pastor tinha acabado de pregar. Veja, eu quero ser claro. Esse homem era e é um irmão em Cristo e essa igreja em particular amava o Senhor. Foi uma honra adorar com eles. Eles estavam buscando servir a Deus, obviamente estavam deleitando-se nEle e estavam desejando dar-Lhe louvor. Além disso, eu não tenho dúvida de que o coração do pastor estava no lugar certo quando ele buscava mostrar um vídeo a cada semana para sua congregação. Eu não estou duvidando do seu amor por Deus ou por seu povo, embora eu duvide da sabedoria de sua abordagem.
Durante anos, diferentes pessoas têm me dado suas razões para usar vídeos semanais no culto corporativo. Normalmente, o argumento é que isso tem apelo e pode ajudar as pessoas a entenderem o ensino da passagem de uma forma diferente de simplesmente ouvir. Eu tenho poucas dúvidas de que isso é verdade. Todos nós podemos concordar que somos seres corpóreos e naturalmente gravitamos ao redor do que podemos ver. Vídeos são atraentes e podem rapidamente colocar diante dos nossos olhos a verdade que acabamos de ouvir das Escrituras. De fato, eles podem até fazer uma boa contribuição. Porém, eles também são um veículo para emocionalismo, moralismo, sentimentalismo e pura irreverência. Entretanto, e mais importante, Deus deu à Sua igreja outra coisa que satisfizesse esse desejo: os sacramentos. Seria possível que a presença de vídeos em nossos cultos corporativos tenha aumentado porque temos criado uma cultura que desvaloriza os sacramentos? Certa vez, Calvino habilmente disse:
Mas como nossa fé é fraca e pequena, a menos que seja sustentada de todos os lados e seja mantida de todos os modos, é imediatamente sacudida, balança, vacila e mesmo cambaleia. E de fato, por sua imensa indulgência, o misericordioso Senhor aqui de tal modo se acomoda à nossa capacidade, que sendo nós como animais que sempre rastejam no solo, sempre fixos nas coisas carnais, sem pensar em nada que seja espiritual, aliás, nem podendo sequer concebê-lo, não desdenha atrair-nos a ele com estes elementos terrenos, e nos propõe na mesma carne um espelho dos bens espirituais. (Institutas, Livro IV, Capítulo 14, 3)
Os sacramentos, batismo e Ceia do Senhor, foram dados por Deus para satisfazer esse desejo humano por algo físico. Como Calvino disse, nosso Deus é misericordioso. E, nessa misericórdia, ele se acomodou para conceder-nos os sacramentos – esses objetos físicos que nós podemos tocar, sentir, provar, cheirar e ver. E, neles, as promessas da Palavra de Deus são representadas, sinalizadas e seladas ao nosso povo. Os sacramentos são, como Agostinho explicou, “a palavra visível”. O que ouvimos pregado é exposto diante de nós. Quando recebemos o pão e o cálice na Mesa do Senhor, nós temos a verdade do evangelho como sinal e selo para nós (Romanos 4.11). A morte de Cristo é encenada diante dos nossos olhos. Entretanto, ela não está apenas representada diante de nós, mas também é selada. Quando tomamos o pão e bebemos o cálice, nós sabemos que tão real quanto é o pão foi o sacrifício do corpo de Cristo no madeiro por nós. Quando nós bebemos o cálice, sabemos que assim como cheiramos esse vinho e ele flui por nossos lábios, toca nossos dentes, provoca nossas papilas gustativas, desce por nossas gargantas, o sangue de Cristo derramado por nós é real. Ao percorrer por nossos corpos e trazer-nos nutrição e vida, a verdade de que a graça de Cristo não apenas nos salvou mas nos sustém é selada a todos que têm parte na fé. Nós temos diante de nós um sinal visível de que estamos verdadeiramente em união vital com Cristo.
Não importa quão bons sejam os vídeos, eles nunca podem fazer isso dessa maneira. Eles podem criar uma emoção, suscitar uma reflexão, gerar um lágrima, mas nunca selarão em nós a verdade do evangelho. Deus designou Seus sacramentos para esse exato propósito. Eles foram ordenados por Deus para retratar a Palavra diante dos nossos olhos. Quando as águas do batismo fluem ou o vinho é derramado no cálice, não é a criatividade do homem que está nos comovendo, não é mero emocionalismo que surge dentro de nós, e não é moralismo que é oferecido a nós, mas a graça de Deus na pessoa de Cristo.
Talvez nós precisemos de menos vídeos e de mais instrução e participação nos sacramentos. Eles são negligenciados e subestimados demais em nossas igrejas. E, quando este é o caso, cristãos e cristãs procurarão outra coisa para tomar o lugar deles. Como Calvino tão proveitosamente observou, nossa fé é “fraca e pequena”. Ela precisa ser sustentada de todos os lados. Se nós negligenciarmos os meios que Deus designou exatamente para isso, seremos tentados a encontrar outros meios, e eles sempre serão bem menos satisfatórios.