Clamando por novas criaturas

Há algum tempo, vi em um blog evangélico um post em que o autor pedia por um novo Gandhi ou um novo Guevara. Perguntava quando eles surgiriam. Ele fazia tudo parecer mais dramático. Quase como uma cena de filme: Um grito de “Onde estão eles?’, feito à noite, enquanto era banhado pela chuva forte, sua roupa completamente suja de lama, com o punho direito em direção ao céu. Para ele, realmente precisávamos de outros desses homens.

Da minha parte, me pergunto o que aconteceu com os crentes para estarem pedindo por pessoas assim. Sem entrar em questões como socialismo latino-americano ou pacifismo, fico pensando desde quando deveríamos pedir por pessoas não-regeneradas, que defendem uma redenção para o mundo independente da cruz e da ressurreição. Não é que acho que as realizações deles foram inúteis, o que me preocupa é a visão secularizada que muitos crentes têm hoje. Abraçam os mesmo grandes homens que os incrédulos admiram.

Eu sei que a Deus habilitou o homem, mesmo não-regenerado, com capacidade para governar e administrar a sociedade, mas ainda assim, é preocupante que críticos do cristianismo sejam exemplos de vida, enquanto nomes como William Wilberforce, Abraham Kuyper, Charles Spurgeon, George Müller e outros homens cristãos que viam o evangelho como uma força restauradora não apenas para o homem, mas para a sociedade, são esquecidos. (Se é que eles podem ser esquecidos quando muitos nem ouviram falar neles.)

É claro que boa parte desse esquecimento é culpa da imagem caricaturizada que o esquerdismo teológico – falta termo melhor – cria dos fundamentalistas¹, como pessoas que nunca provocaram mudanças na sociedade, mas apenas se preocuparam com a salvação da alma do homem e com sua vida feliz no céu. Existe certa justiça nas críticas ao evangelicalismo fundamentalista, mas ninguém se lembra que Spurgeon, por exemplo, criou diversas instituições de caridade, muitas ativas até hoje.

Meu conselho, jovem cristão idealista à procura de exemplos de vida, é que estude melhor a história do mundo, a história da igreja, e leia biografias desses grandes homens (e dos pequenos também, se for possível). Também sugiro que pesquise melhor a idéia de cosmovisão (sim, eu realmente acho isso essencial) e perceba quão diferente é o pensamento de Gandhi, Guevara e Jesus. Aliás, como alguém pode celebrar o pacifismo do líder indiano ao mesmo tempo em que louva o pragmatismo bélico de Che, que propõe matar todos os opositores, se necessário?

Eu prefiro pedir por um novo Paulo, um novo Agostinho, um novo Calvino, um novo Kuyper ou alguém diferente, mas com os mesmos princípios. Prefiro pedir por novas criaturas, energizadas pela ressurreição de Cristo, que levarão adiante o grande projeto de Deus para a Criação – a Nova Criação.

Estes sim sempre mudam o mundo.

¹Vide texto do Kivitz, por exemplo.