Cristianismo Pagão?

Nota do tradutor: Estou postando duas análises do livro Cristianismo Pagão, de Frank Viola e George Barna. Antes que acusem o iPródigo de divulgar o institucionalismo, o tradicionalismo ou a religiosidade destituída de Cristo, deixo claro que não somos a favor de nenhuma prática antibíblica nas igrejas – chame-a de paganismo ou não. Somos a favor, pelo contrário, da verdade, revelada em Cristo, e proclamada por seus apóstolos na Palavra. Por isso, vemos com preocupação a obra de Viola e Barna. Embora com boas intenções, os autores falham em apresentar dados confiáveis e verdadeiros. A igreja moderna não é perfeita e deve ser mudada. Mas é através dos princípios bíblicos: e muitas delas ainda vivem isso, com seus pastores, sermões, prédios e roupa de domingo.

Essa preocupação com a verdade gerou esse post especial com dois textos: um de Peter Jones, autor do livro A Ameaça Pagã, e especialista neste assunto, e fundador de uma organização que examina os efeitos da espiritualidade neopagã em nossa sociedade, capacitando as igrejas a combaterem esse tipo de pensamento; outro da equipe da Mars Hill Church, igreja de Mark Driscoll, que está em PDF, no fim do post, e depende grandemente de um confiável e  habilidoso historiador, Ben Witherington.

Por Peter Jones

Cristianismo Pagão: Explorando as raízes das práticas de nossas igrejas

Esse é um livro profundamente decepcionante e mal informado. Ou talvez você queira saber o que eu realmente penso!

O título, Cristianismo Pagão, engana, embora o subtítulo esteja claro. Sem dúvida, me pediram para criticar este livro devido aos muitos anos que passei estudando paganismo antigo e moderno. Portanto, grande foi minha surpresa ao descobrir a ausência de qualquer definição do termo. Exagero; há uma linha: “pagãos eram aqueles politeístas que seguiam aos deuses do Império Romano” (p.6). É isso, em um livro de 295 páginas sobre “cristianismo pagão”, que usa o termo para analisar o que está errado com virtualmente tudo da igreja atual. Uma linha mal examinada sobre o politeísmo romano é o que conseguimos como definição. Está ausente qualquer análise teológica da cosmovisão pagã geral, que constitui toda religião criada por homens. Está ausente também qualquer referência à ascensão do paganismo em nosso mundo contemporâneo, seja da variedade Deepak Chopra/Oprah Winfrey/Nova Espritualidade, ou da variedade popular em algumas partes da ala liberal do Movimento Emergente, que está levando grandes áreas do Evangelicalismo para os braços do liberalismo “progressista cristão”. Portanto, trivializado, o termo “pagão” funciona meramente como um ataque contra tudo na igreja atual que Viola desaprova, como se vestir no domingo (p.145ss) ou programas da Escola Dominical (p.212). (Eu digo Viola porque claramente Barna só é chamado de co-autor pelo prefácio de seis páginas que escreve e pelo peso promocional que traz ao projeto).

Primeiro, o livro encontra paganismo na igreja como resultado da adoção do Cristianismo pelo imperador pagão Constantino no quarto século d.C. O livro sugere que esse período na história da Igreja, sem dúvida, explica muitas das distorções da ortodoxia bíblica no que se tornou conhecido como Catolicismo. A partir dessa época, vemos a mistificação da missa, o desenvolvimento de uma casta sacerdotal e clerical, e o desenvolvimento de uma política eclesiástica hierárquica e imperialista. Entretanto, mesmo aqui ninguém poderia  delinear um simples e claro traço de paganismo como cosmovisão religiosa. O sacerdócio é uma ideia definida no Antigo Testamento, e enquanto possamos argumentar que a Igreja Medieval se apropriou erroneamente do sistema veterotestamentário, não foi necessariamente por razões “pagãs”. A despeito do que Viola afirma, hierarquia é um valor perfeitamente bíblico, e o que ele pensa ser algo essencial para a igreja do Novo Testamento, a saber,o igualitarismo, é, em última análise, um ideal pagão muito valorizado.

Esse termo mal examinado é usado como um chicote para expulsar do templo todos os cambistas e suas atividades ímpias. Além de “vestir-se para a igreja” e a Escola Dominical (“expandir o crânio”, p.199), atividades chamadas pagãs incluem: a noção de um “salvador pessoal” (190); a liturgia (mesmo o sanduíche hino-oração-hino); o sermão, o ministro ordenado e assalariado ou “ofício pastoral” (136); becas; pastores de juventude; comunidades lideradas por presbíteros; batismo; a ceia do Senhor (“um estranho rito ao estilo pagão”, p.197); dar ofertas e dizimar; denominações; faculdades e seminários bíblicos; instrumentos; edifícios eclesiásticos e hinos, e corais. Uma afirmação é impressionante por sua pretensão de onisciência (infelizmente, caracteriza muitas das generalizações de Viola): diminuindo o lugar do sermão no culto cristão, Viola revela que “…a verdade é que o sermão contemporâneo pregado toda semana… é frequentemente impraticável… [e] tem pouco poder para equipar o povo de Deus para seu serviço e funcionamento espirituais” (98-99). Ele também “sabe” que “o culto da manhã de domingo é vergonhosamente chato” (76). Como ele sabe? Se esses julgamentos de Barna têm dados de pesquisa para apoiá-los, eles não são mencionados!

Tudo deve mudar, portanto o ataque de Viola se torna muito mais amplo; mas, infelizmente, não é amplo o bastante. Quando ele não pode encontrar uma causa “pagã”, forçará o Antigo Testamento. Mas, é claro, há uma coisa que podemos dizer confiantemente sobre o Antigo Testamento – ele, em nenhum sentido, é pagão.

Tudo que não se encaixa com a ideia altamente pessoal, não-teológica e emocional da verdadeira Igreja leva um chute. Essa é a parte decepcionante. Um assunto teológico e exegético tão importante não é seriamente defendido, e depende grandemente das preferências subjetivas de Viola pelo excitante e inesperado. É útil saber que Viola é o autor de So You Want to Start a House Church? First Century Styled Church Planting for Today [Então você quer começar uma igreja em casa? Plantação de igrejas estilo primeiro século para hoje] (Jacksonville, Fl.: Present Testimony Ministry, 2003). Como ele mesmo diz, esse é o verdadeiro objetivo que direciona o livro: “escrevemos esse livro por uma razão… acreditamos que essa é a visão de Deus para toda igreja…” (250). Qual é essa visão? “Encontros informais permeados com uma atmosfera de liberdade, espontaneidade e alegria… encontros abertamente participativos”, com “nenhuma ordem de culto”. Essa “edificação mútua e orgânica” não abre espaço para “cerimônias humanas” (234), isto é, sermões e pregadores. Ao invés disso, “o Senhor Jesus Cristo… invisivelmente” (234), por meio de “todo membro operante de seu corpo… [leva os crentes a experimentar] o coração pulsante de Deus” (246) em “uma dinâmica gloriosa” (167). Todos os outros tipos de igreja são chatas e “pagãs”.

Uma nota positiva que guardo dessa difícil leitura é o lembrete implícito para todas as igrejas, de maneiras apropriadas e criativas, para praticarem a doutrina do sacerdócio de todos os crentes. Por exemplo, achar um lugar para o testemunho pessoal e a reação aos sermões seriam formas práticas de dar mais que apoio formal a essa clássica doutrina reformada.

O apóstolo Paulo dá a melhor definição de paganismo (e nós realmente precisamos dela no mundo de hoje!), a saber, a adoração e o culto da criação ao invés do Criador (Romanos 1.25). Aqui está uma comparação explícita entre o teísmo cristão e o monismo pagão, entre a verdade da distinção Criador/criatura, e a  mentira da divindade da natureza, pregada pelos profetas da Nova Espiritualidade. Deste verdadeiro paganismo, Viola parece terrivelmente ou ingenuamente ignorante. O que poderia ser um livro significante, como a obra ambiguamente sugere, por conter uma solene advertência contra as rotas do neopaganismo dentro da cultura e da igreja atuais, infelizmente conseguirá fazer o extremo oposto. Ao evacuar o termo “pagão” de qualquer conteúdo teológico verdadeiro, e ao falhar em identificar a reemergência da idolatria antiga na forma da espiritualidade mística moderna, esse livro, com o nome de Barna decorado na capa, simplesmente assegurará que muitos serão imunizados de ver o problema real, ou seja, a invasão do verdadeiro “paganismo cristão”, que, como a próxima grande apostasia, ameaçará a igreja em suas próprias bases. Disto, os encontros “vivos e pulsantes” de Viola não nos salvarão.

Traduzido por Josaías Jr | iPródigo | Versão original aqui

Uma análise de Cristianismo Pagão

pela equipe da Mars Hill Church – download