A Bíblia ensina que o universo teve um começo e que terá um fim. Os cristãos acreditam nisso, embora controvérsias sobre escatologia (o fim dos tempos) tenham agitado bastante os círculos cristãos. Ilustra quão profundamente a Bíblia influenciou a civilização ocidental o fato dos secularistas também terem suas escatologias.
A visão natural do tempo é cíclica. A Bíblia também reconhece – e organiza – a natureza cíclica do tempo. Mas, além de afirmar em um sentido que o tempo pode envolver ciclos recorrentes, a Bíblia também ensina que o tempo é linear. Tem um princípio e um fim. Não somente isto, o tempo tem uma direção. Vai a algum lugar.
Essa dimensão linear do tempo parece ter sido única entre os Hebreus no mundo antigo. Mesmo os gregos, com toda sua sofisticação, conheciam apenas uma visão cíclica do tempo. Eles não tinham o conceito de uma criação do nada para um propósito específico; pelo contrário, eles postularam um universo que era continuamente criado e destruído e criado novamente.
No Ocidente, o secularismo que se iniciou com o Iluminismo tentou se apartar dos dogmas cristãos. Mas, ironicamente, o novo pensamento reteve o dogma de que o tempo é linear. Isto se manifestou em escatologias sem Deus, que foram despropositadamente moldadas por uma visão bíblica do tempo.
As novas cosmovisões rejeitaram a vinda do Reino paradisíaco de Deus, mas o substituíram com a vinda do reino paradisíaco do homem. O passado era uma era de trevas; no mundo moderno a luz raiou. Nesta era de progresso, as coisas ficariam melhores e melhores até que eventualmente construiríamos um paraíso utópico.
Não chegaremos lá sem alguma tribulação. A Revolução Francesa ensinou que o Reino de Terror era necessário para destruir a velha ordem, de onde o paraíso do povo emergiria. O Darwinismo, que pôs um adorno científico no mito do progresso, ensinou que nós evoluímos e continuaremos a evoluir a um estágio mais alto, mas não sem uma batalha em que o não adaptado morrerá e somente o mais adaptado sobreviverá. O Marxismo era abertamente dispensacional, dividindo a história em diferentes eras socioeconômicas que se encerrarão, após uma revolução sangrenta, em um “paraíso dos trabalhadores”.
Outros utopistas pensavam que o paraíso terreno poderia ser alcançado de maneira pacífica. Um grupo dos primeiros marxistas fundou o movimento conhecido como Social Democracia – que hoje é politicamente muito influente na Europa e, mais recentemente, nos Estados Unidos – uma ideologia que acreditava que o “paraíso dos trabalhadores” de Marx poderia ser alcançado por meio das urnas e de mudanças sociais graduais.
Assim como os cristãos não veem apenas o fluir da história, mas também suas próprias vidas como lineares, com sua conversão culminando após a morte em vida eterna, alguns secularistas fazem igual, só que sem Deus. Nietzsche cria na “doutrina da eterna recorrência”, que ensina que, uma vez que o tempo é infinito, toda combinação aleatória – incluindo aquelas que constituíram nossos próprios corpo e mente – aconteceria novamente, de forma que algum tempo depois que ele morresse, ele existiria novamente. (Matemáticos têm mostrado que as coisas não funcionam dessa forma). Mais recentemente, os “pós-humanistas” disseram que eventualmente o corpo se tornará obsoleto e seremos todos capazes de baixar nossas mentes na internet, onde seremos todos um e não teremos mais problemas. (Eu espero que alguns desses suportes técnicos sejam deixados para trás, para o caso do sistema falhar).
Os materialistas do século XIX atribuíram propriedades divinas, como a eternidade, ao universo. Mas, cientistas mais recentes descobriram evidências de que o universo, de fato, teve um começo, apelidado de “Big Bang”. Alguns teóricos pensam que tudo chegará ao fim quando a gravidade causadora da expansão do universo contrair-se de novo, até que tudo se colida junto, em um “Big Crunch”. Mas isto criará outro super buraco negro que explodirá em outro Big Bang, criando um universo novinho – e, com efeito, nos trazendo de volta a noção cíclica do tempo. Muitos cientistas hoje, no entanto, parecem defender o tempo linear, e a posição de que o universo continuará expandindo eternamente, embora em algum ponto ele se tornará muito frio para sustentar qualquer forma de vida. Essa visão do fim dos tempos é chamada de “Big Freeze”.
Muito antes do Big Crunch ou do Big Freeze, no entanto, de acordo com muitos cosmologistas, a vida humana na terra terá terminado. O Sol primeiramente se expandirá até se tornar uma estrela gigante vermelha, incinerando a Terra, e então ele simplesmente se extinguirá. A não ser, é claro, como alguns estão dizendo, que evoluamos ao ponto de podermos deixar a Terra para trás e habitarmos o resto do universo. Ou, indo além dos pós-humanistas para uma nova realidade religiosa, se evoluirmos para espíritos puros.
Mas o tempo do mundo não tem apenas um começo e um fim, ele tem um meio: um ponto de virada, um clímax. Este seria a encarnação de Deus em Sua Criação e dentro do tempo, um momento histórico em que Cristo morreu para expiar os pecados e ressurgiu.
Isto se reflete na prática – iniciada no Ocidente, mas agora usada pelo mundo – de numerar cada ano a partir da época de Cristo. Tudo na história é A.C. (antes de Cristo) ou D.C. (depois de Cristo). Secularistas têm mudado essas convenções para “AEC” (antes da Era Comum) e “EC” (Era Comum). Mas é a mesma variação, Cristo ainda é o ponto de referência. Os secularistas não conseguem ficar longe da Bíblia, não importa quão duro eles tentem.
Traduzido por Josaías Jr. | iPródigo