É uma palavra com a qual, infelizmente, boa parte do mundo se tornou familiar nos últimos anos: jihad. Jihad é a palavra árabe que carrega a ideia de “luta” e está geralmente atrelada à “guerra santa” no Islamismo.
Mesmo que nem todos os acadêmicos muçulmanos concordem sobre a forma como a guerra santa deveria ser, não é preciso ir muito longe para perceber o que ela significa para muitos no nosso mundo de hoje.
Mas enquanto essas guerras continuam acontecendo há séculos, em nenhuma hipótese Cristo as atribuiria o termo “santo”. Adoração e devoção ao verdadeiro Deus significa amar – e não assassinar – nossos inimigos. Aqueles de fés diferentes não devem ser objetos de matança, mas de oração.
Entretanto, existe uma verdadeira guerra santa comandada por Deus. Essa guerra é de natureza espiritual. É uma guerra contra nós mesmos, contra nossa falta de santidade no momento em que nos tornamos cristãos. A verdadeira guerra santa é fisicamente pacífica para com os outros, mas espiritualmente agressiva com nós mesmos. Não é sobre caçar estrategicamente e abater sistematicamente os inimigos ao nosso redor, mas sim o inimigo que está dentro de nós.
Mesmo que hoje a agenda de Deus para seus discípulos não consista em matar outros, ela certamente nos manda matar nosso próprio pecado.
“Fazei, pois, morrer a vossa natureza terrena: prostituição, impureza, paixão lasciva, desejo maligno e a avareza, que é idolatria” (Colossenses 3.5).
O pastor puritano do Século XVII, John Owen, foi grandemente usado por Deus para ajudar a igreja na guerra santa. Ele escreve: “Você mortifica? Você faz disso o seu dever diário? Concentre-se nisso enquanto vive, não cesse nem um dia de laborar nisso; mate seu pecado ou ele te matará”.
Ainda assim, estudar o pecado pode parecer estranho e indesejável para muitos. Mas nosso pecado não é algo de que nos esquecemos simplesmente porque fomos perdoados. Uma atração pelo pecado existe dentro do cristão por causa da nossa queda, a carne. Por isso, esse é o nosso grande inimigo interno e é a coisa que nos impede de fazermos a que mais queremos: amar a Cristo. É por isso que a verdadeira guerra santa é condição sine qua non para a vida cristã.
Aqui estão 7 verdades para armar o povo de Deus para a guerra santa:
1. A guerra santa começa quando somos perdoados e salvos pela fé em Cristo
E não antes. Antes da salvação, somos escravos do pecado. Cada fibra de nosso ser é encarcerada à iniquidade. Mas não contra nossa vontade Nós não agiríamos de outra forma. Antes de Cristo, estamos mortos em pecado.
Então, nossas necessidades precisarão mais do que inspiração. Nossa natureza merece mais do que um upgrade. Nosso desejo precisa de mais do que apenas observar heróis morais. Estamos mortos. Inspiração não inspira os mortos. Upgrades não atualizam mortos. Atos heroicos não o são para mortos. Os mortos permanecem mortos até serem feitos vivos. Por essa razão, não podemos nem iremos lutar a guerra santa antes da regeneração pela fé no Senhor Jesus Cristo. Quando formos regenerados, a luta começa, e:
2. Há muitas razões pelas quais devemos lutar
Lutamos contra o pecado porque essa é nossa nova natureza, sendo habitação do Espírito Santo pela fé em Cristo. É nossa respiração o fazer isso:
“Porque, se viverdes segundo a carne, caminhais para a morte; mas, se, pelo Espírito, mortificardes os feitos do corpo, certamente, vivereis” (Romanos 8.13).
“Digo, porém: andai no Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne. Porque a carne milita contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne, porque são opostos entre si…” (Gálatas 5.16-17).
Mais do que um mandamento para o combate, ser habitado pelo Espírito Santo simplesmente significa que existe esse combate. Quando a carne e o Espírito se encontram em uma alma, elas ficam como dois peixes beta em um jarro de azeitonas. Ademais, nós lutamos contra o pecado porque Deus nos ordenou meios para preservarmos nossa fé. A guerra santa é a maneira prioritária com a qual Deus decidiu que progrediremos da santificação até a glorificação por meio da sua graça:
“Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Continua nestes deveres; porque, fazendo assim, salvarás tanto a ti mesmo como aos teus ouvintes” (1 Timóteo 4.16).
Não entendamos errado. Lutar contra nosso pecado não é uma obra meritória por meio da qual somos feitos justos diante de Deus. Justificação é somente pela fé em Cristo. Mas a luta evidencia que somos justificados para podermos estar nessa luta, pela graça de Deus. Além disso, lutamos porque é assim que abandonamos o pecado residual em nós:
“Amados, exorto-vos, como peregrinos e forasteiros que sois, a vos absterdes das paixões carnais, que fazem guerra contra a alma” (1 Pedro 2.11).
Também lutamos contra o pecado para honrar o que Cristo pagou tão amavelmente o preço para nos livrar. Imagine uma pessoa que vive somente de Negresco e milkshake a maior parte da sua vida adulta. Um dia ela descobre que precisa de um transplante de coração aos 35 anos. A sua dieta quase a matou quando, de repente, um indivíduo perfeitamente saudável aparece para lhe doar seu coração. A cirurgia é um completo sucesso; novo coração, saudável, pronto para a vida.
Agora, que tipo de tolo ela seria se continuasse a sua dieta de Negresco e milkshake? A generosidade de um novo coração, refletindo a completa tolice em que ela vivia anteriormente, a benção de uma nova vida e a esperança de um novo começo a transformarão de forma que ela não mais tornará à sua dieta mortífera.
Assim é, mas infinitamente mais, quando um pecador é salvo pela fé em Cristo. A generosidade radical de Deus foi expressa a nós pela oferta de Cristo para ser julgado em nosso lugar. E ele nos dá um novo coração espiritual, a benção de alegrar-se em uma nova vida espiritual, nova esperança e vida eterna. Isso não nos deixará inertes. Pelo nosso amor por esse Deus, lutaremos contra tudo que lhe for contrário. É por isso que engajamos na guerra santa.
3. Ou estamos combatendo o nosso pecado ou estamos alimentando-o
Na guerra, o inimigo avança quando sua oposição abre brechas. É assim com nosso pecado. Ou estamos nutrindo ou atacando. Ou avançamos ou recuamos.
Olhe novamente para Romanos 8.13:
“Porque, se viverdes segundo a carne, caminhais para a morte; mas, se, pelo Espírito, mortificardes os feitos do corpo, certamente, vivereis”.
Repare, há duas formas de vida aqui. O texto mostra duas realidades. E a última, levar o pecado à morte pelo Espírito Santo, será turbulenta com toda certeza. Mas sempre se moverá adiante. John Owen diz sobre isso: “O vigor, o poder e o conforto da nossa vida espiritual depende da mortificação dos feitos da nossa da carne”.
Paulo afirmou como testemunho pessoal:
“Assim corro também eu, não sem meta; assim luto, não como desferindo golpes no ar. Mas esmurro o meu corpo e o reduzo à escravidão, para que, tendo pregado a outros, não venha eu mesmo a ser desqualificado” (1 Coríntios 9.26-27).
Em outras palavras, Paulo diz “Há dois modos de operação: ditar o ritmo ou ser atropelado por ele. Pela graça de Deus, farei o que for possível para evitar o segundo”. A ideia do “deixa a vida me levar” seria completamente estranha para o apóstolo da graça.
Com a ajuda de John Owen, J.I.Packer escreve:
A habitação do pecado foi destronada e sofreu o golpe mortal por meio da união do pecador com Cristo na morte da cruz. Agora, amparados pelo Espírito, o cristão deve gastar a sua vida drenando a força vital do pecado. Não podemos relaxar, ‘pois o pecado não morrerá a não ser que seja gradualmente e constantemente enfraquecido; poupe-o e ele cicatrizará suas feridas e recuperará sua força’
Por fim, com o brilhantismo da simplicidade e da verdade, Cristo descreve a guerra tão violenta como ela é: “Se o teu olho direito te faz tropeçar, arranca-o e lança-o de ti; pois te convém que se perca um dos teus membros, e não seja todo o teu corpo lançado no inferno” (Mateus 5.29).
Ou estamos combatendo nosso pecado ou alimentando-o.