Já se vão dezesseis anos desde o desastre do “Culto das nove horas”. Esse foi o nome dado à uma igreja anglicana da cidade de Sheffield, que começou como um show de sinais e maravilhas, se tornou Anglicana, se transformou em uma estranha mistura de Anglo-Catolicismo e misticismo ecológico e finalmente acabou em meio a alegações de que o vigário, Chris Brain, mantinha relações sexuais com mulheres da igreja. Nesse processo, a igreja cresceu de 10 para mais de 600 membros, jovens em sua maioria. A vida sacramental da igreja revolvia ao redor da notavelmente denominada e completamente louca “Missa Planetária”, que Brain celebrava usando a bata que Robert DeNiro usou na gravação do filme A Missão. Ele também formou para si um grupo de guarda costas composto apenas de mulheres jovens e atraentes. E reconhecê-las era fácil: elas usavam roupas de couro à là Mulher Gato. Elas também eram as que ele se envolvia sexualmente regularmente.
O que foi tão surpreendente quando tudo isso deu tão errado foi que muitas pessoas em posições de poder e responsabilidade viram tudo isso acontecer e não pronunciaram uma única sílaba de preocupação. Não disseram nada quando Brain começou a falar bobagens durante a “Missa Planetária”; nem quando ele comprou a bata do Robert DeNiro; e nem quando ele contratou as defensoras fantasiadas de Mulher Gato para satisfazerem suas necessidades. E quando tudo estourou, todas essas pessoas de influência – começando a partir do Bispo e descendo – escapuliram enquanto murmuravam ‘não tenho nada a ver com isso’ para qualquer um que perguntasse porque eles permitiram que aquilo acontecesse.
Há uma lição aqui: encha a igreja, principalmente de jovens trabalhadores sempre na moda, e você escapa ileso de qualquer coisa, especialmente se vestir como DeNiro e ter um grupo de mulheres gato como suas guarda costas. Bom, pelo menos por algum tempo.
Tudo isso me leva de volta a uma questão que eu já levantei antes: em um mundo onde o sucesso é o sacramento definitivo de absolvição, quem é que vai ter a credibilidade para vigiar os bem sucedidos? Não vai ser o homem da igreja pequena. A suspeita de que ele é motivado pela inveja sempre vai minar sua autoridade nesse contexto. E, se formos honestos, a inveja provavelmente sempre será parte da motivação desse tipo de críticas. Eu prego sobre a depravação total, afinal de contas, e isso também é o exemplo onde eu posso dizer honestamente que pratico o que prego. Que pastor de uma igreja de cinquenta membros não quer ser o pastor de uma igreja de quinhentos? A igreja que eu sirvo tem uma frequência de noventa pessoas no Domingo. Sim, eu adoraria ter uma centena a mais. Se chegarmos a quatrocentos membros, eu espero que possamos plantar uma igreja, desde que eu não tenha que apreciar vinhos diferenciados e usar uma barbicha. Mas sim, eu estaria mentindo se dissesse que não tenho um pontinha de inveja daqueles cujos ministérios são – bem, você sabe, bem sucedidos. Acho que esse é o termo.
E o mais experiente? Será que alguém lhe dará ouvidos? Se as reações aos meus comentários sobre o impacto da cultura de celebridades no evangelicalismo reformado da América servirem de guia, provavelmente não. O evangelicalismo reformado americano sendo cada vez mais moldado por uma cultura de celebridades me parece tão evidente que ainda me surpreendo com a falta de interesse de qualquer um em discutir esse assunto. Claramente, os críticos do clima de celebridades soam tão implausíveis àqueles enamorados pelo espetáculo quanto o homem da igreja pequena. Não por causa de inveja, mas, aparentemente, pela sua hipocrisia. A lógica do “eu nunca me encontrei com o Trueman, mas já ouvi falar dele, logo, ele deve ser uma celebridade; assim, ele é hipócrita por criticar a cultura das celebridades e deve ser ignorado’ é tanto rasa, no sentido de igualar “ser conhecido” com “ser uma celebridade” quanto é ilógica por rejeitar um argumento simplesmente baseando-se em uma pressuposta falha moral daquele que o articula. Ele pode ser um hipócrita; mas se um homem te diz que dois mais dois é igual a quatro, talvez você deva escutá-lo.
E os bem sucedidos? Será que eles apontarão os excessos problemáticos da cultura da auto-promoção que parece penetrar grande parte da igreja evangelical conservadora moderna? Alguém pode esperar que sim; mas a história nos dá pouca razão para termos otimismo nesse sentido. Ninguém quer exortar os bem sucedidos, pois a nossa cultura assume que isso seria sinal de fracasso e mediocridade.
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A psicologia do sucesso é fascinante: aqueles que são bem sucedidos normalmente começam como pessoas bem intencionadas; mas o sucesso crescente quase sempre parece trazer consigo uma atitude cada vez mais relapsa em relação às regras, uma concepção mais difusa do que é certo ou errado e um estranho senso de auto merecimento que fazem o bem sucedido pensar que, para ele, os critérios normais de comportamento não se aplicam. Essa excepcionalidade crescente é reforçada pelo fracasso daqueles que deveriam vigiar em de fato fazê-lo. É quase como se, para todos nós, o sucesso (e isso normalmente significa crescimento numérico no contexto da igreja) é o critério definitivo de verdade e, portanto, enquanto parecer que está funcionando, enquanto for popular, deve ser verdadeiro. Você pode imitar a aparência de Hollywood; você pode ser cada vez mais vago nos ensinamentos duros; mas contanto que a máquina continue funcionando como deveria, todos estão felizes – ou, no mínimo, confortáveis com seu silêncio.
O caso do Culto das nove horas parece indicar que, contato que você continue atraindo os as pessoas, especialmente os jovens, contanto que o seu nome no panfleto da conferência ajude a vender ingressos e enquanto a sua pregação for popular entre as novas gerações, aqueles em posição de se pronunciarem e fazerem algo sobre os excessos geralmente não o farão, por medo de estragar algo que realmente parece estar funcionando como deveria. De fato, você irá aproveitar os benefícios de um poderoso e influente perfume que provê prazer aos bem sucedidos e esconde o vazio da realidade daqueles de fora: o doce aroma do sucesso. Você não pode com ele.
E quando tudo estourar, você pode ter certeza que ninguém terá nada com isso. “Sério, eu nunca conheci esse cara…”
Traduzido por Filipe Schulz | iPródigo.com | Original aqui