O Nome do Senhor

“E todo aquele que invocar ao nome do Senhor será salvo” (Atos 2.21; Joel 2.32; Romanos 10.13)

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Nome sobre todo nome

Há alguns anos, assisti uma aula de teologia, e o assunto em questão era os nomes de Deus. O professor falava que, para os judeus, a idéia de “nome” é algo muito mais importante e representa bem mais que para nós, ocidentais. Para eles (e para os orientais em geral, acredito) quando falo do nome de alguém, estou me referindo à própria pessoa que carrega este nome.

Isto é tão importante na cultura dos escritores da Bíblia que, para eles, quando dou o nome para alguém, isto quer dizer que tenho uma posição de autoridade sobre esta pessoa. Por exemplo, Adão deu nomes aos animais. Os pais dão nomes a seus filhos. R.C. Sproul¹ nos diz que somente Deus poderia nomear aquele bebê nascido da Virgem, a encarnação de Seu Filho. Me parece que ele está certíssimo. Que autoridade humana estaria sobre Alguém que carrega o governo em seus ombros (Is 9.6)?

Outro caso importante é quando acontece de Deus mudar o nome de alguém. Nesta situação, é como se ele estivesse redefinindo o que aquela pessoa é. Abrão, o “pai exaltado”, torna-se Abraão, o “pai de muitas nações”. É maravilhoso saber que receberemos um “novo nome” (Ap 2.17) na consumação de todas as coisas, quando seremos glorificados (1Co 15.52; Rm 8.30). Isto leva muitas pessoas a pensarem que não conseguiremos reconhecer os irmãos no céu, mas, à luz do que estamos estudando, me parece que este novo nome representa nossa transformação em cidadãos celestiais. De certa forma, seremos as mesmas pessoas, porém seremos como o Cristo ressurreto é (1Jo 3.2), mas também pessoas diferentes, sendo definidas por nomes diferentes. Não estou dizendo que não receberemos nomes novos, literalmente falando, mas digo que existe uma razão maior e mais gloriosa – como no caso de Abraão.

Vemos também essa peculiaridade do “nome” na Bíblia quando os construtores da Torre de Babel querem “fazer um nome” (Gn 11) para eles. Aqueles homens queriam com isso serem famosos ou reconhecidos, opondo-se desta forma ao nome de Deus. E opor-se ao nome de Deus certamente é bem mais que simplesmente opor-se a uma junção de letras. É voltar-se contra o próprio Criador. Vamos ver como esta idéia é bastante familiar ao Antigo Testamento.

Muitas vezes quando os personagens bíblicos falam do “nome de Yahweh”, eles falam do próprio Yahweh. Nos muitos textos² em que as pessoas invocam o nome do Senhor, eles estão invocando quatro letras do hebraico (YHWH) ou o próprio Deus de Israel? Penso que a resposta é clara. Da mesma forma, quando digo que louvo (Jl 2.26), confio em (Sl 20.7) e anuncio (Sl 102.21) o nome do Senhor, estou dizendo nada mais nada menos que eu louvo, confio e anuncio o Senhor. Isaías chega a nos dizer que o Nome do Senhor está vindo para executar o julgamento (Is 30.27). O Nome de Yahweh é o próprio Yahweh!

No Novo Testamento podemos ver este padrão se repetindo com Jesus. O Nome do Senhor ou o Nome de Jesus deve ser invocado (At 2.21), é engrandecido (At 19.17) , deve ser crido (1Jo 3.23) e é motivo do sofrimento dos discípulos (Ap 2.3). E da mesma forma que Isaías, os autores do Novo Testamento não fazem diferença entre Jesus e o Nome de Jesus, o que os leva a personificar o Nome. Lucas diz que os apóstolos foram humilhados por causa do Nome (At 5.41), João nos fala de missionários motivados pelo Nome (3Jo 7), e Pedro chega afirmar que o Nome curou certo homem (At 3.16)!

YHWH
YHWH

Em Filipenses 2, quando Paulo trata da exaltação de Cristo como Senhor, podemos perceber que esta “teologia do nome” também está presente. O Apóstolo nos diz que após sua ressurreição Jesus recebeu o nome que está acima de todo nome (Fl 2.9). Esta é uma afirmação gloriosa! Não existe qualquer nome (isto é, pessoa) acima do nome de Jesus. Como resultado de seu penoso trabalho, aquele carpinteiro, aquele nazareno, aquele que nem tinha onde dormir e de quem escondíamos o rosto, foi elevado à mais alta posição possível! Acredito que não estou errado ao dizer que, pelo menos durante o ministério terreno de Cristo, “Jesus” era o nome que está abaixo de todo nome.

Mas agora tudo mudou! Quando Jesus nos diz que recebeu toda a autoridade nos céus e na terra (Mt 28.18), ele está dizendo que seu Nome está acima de todos os nomes. Ninguém pode fazer nada sem a permissão de Jesus³! E é diante deste nome, Paulo continua, que todos se prostrarão (Fl 2.10).

E, prostrados, todos (inclusive os incrédulos) terão de admitir que realmente não existe alguém acima de Jesus. E como elas farão isso? Chamando-o não apenas de Jesus, mas de um nome que o define como Soberano sobre a vida de cada indivíduo e também sobre todo o universo. Todos os incrédulos terão de admitir que aquele Jesus, que eles tanto zombaram e desprezaram, tem também o nome de Senhor.

O terceiro mandamento

“Não tomarás o nome do SENHOR teu Deus em vão; porque o SENHOR não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão.” (Êxodo 20.7)

Guaraná Jesus
Guaraná Jesus

Como disse, a reflexão sobre a questão do nome aconteceu durante uma aula, e naquele momento o que me chamou atenção foi como isso afetaria nosso entendimento do terceiro mandamento. Não sei se algum comentarista já falou sobre o assunto, mas podemos nos perguntar se este mandamento não nos proibe de fazer algo muito maior que simplesmente usar algum dos nomes divinos de forma banal. Se fazer referência ao nome de Deus é falar do próprio Deus, banalizar o nome de Yahweh é banalizar o próprio Yahweh. Não estou negando que tomamos o nome de Deus em vão quando agimos desta forma , mas… e se tomar o nome de Deus em vão significar realmente mais do que isso?4

Isto seria muito mais que meramente escrever algumas letras que formam um vocábulo com um certo significado em determinada língua, seria bem mais que proferir sons que juntos representam, de alguma forma, o Criador. Quando Deus anunciou este mandamento, não estava apenas preocupado com exclamações do tipo “meu Deus!” ou “Jesus Christ!” (como gostam os americanos). Mais grave é o “povo que se chama por meu nome” (2Cr 7.14) não agir como um povo digno deste nome, isto é, deste Deus santo. Muito mais importante, então, que escrever D’us ao invés de Deus é como você reage Àquele que leva este nome.

O nome de Deus também pode ser usado em vão mesmo quando ele está num contexto aparentemente apropriado, como um sermão, por exemplo. Às vezes, deixamos passar o uso do nome de Deus em vão porque a palavra “Deus”, “Yahweh” ou “Jesus” está presente num discurso religioso, e não nos incomoda tanto como, por exemplo, ver um comediante brincar com “Deus” (ou com o conceito que ele tem de “Deus”). Francis Schaeffer, em A Morte da Razão, nos diz que a cada dia mais se incomodava ao ouvir a palavra “Jesus”, porque estavam utilizando este nome tão querido para apresentar uma mensagem que nada tinha a ver com o Jesus da Bíblia. A tendência moderna de enfatizar mais o Jesus da experiência do que o Jesus dos Evangelhos acabou destituindo a palavra “Jesus” de seu significado.

Guaraná Judá
Guaraná Judá

Vou mais além e me pergunto se o uso banal de todo e qualquer conceito relacionado ao Evangelho (pois o Evangelho está essencialmente ligado a Cristo) não seria outra forma de desobedecermos a este mandamento divino. Se for o caso, a igreja atual teria muito que responder no dia do juízo. É verdade que muitos produtos “gospel” têm intenção evangelística, e muitos crentes preferem usar uma camisa ou um caderno, por exemplo, com uma mensagem bíblica a usar o produto “secular” correspondente. Assim, realmente pode ser difícil saber onde está o limite entre o aceitável no evangelismo e a vulgarização de Cristo e da mensagem da cruz. Não é necessário gastar tempo citando a quantidade de produtos evangélicos que existem por aí, muitos deles sem qualquer relação com Deus, Jesus, a Bíblia ou a Igreja. Mas chegamos ao ponto de lançarem até um refrigerante evangélico, com versículos nos rótulos e tudo mais. Trata-se do Guaraná Judá Judá Cola.

Falando em guaranás, não sei quantos conhecem o refrigerante cor-de-rosa do Maranhão, o Guaraná Jesus. Diz a lenda que o refrigerante recebeu o nome de seu criador, um ateu chamado Jesus Norberto. Muitas piadas são feitas por causa desse nome, é claro. E, logicamente, muitos crentes ficam chateados com essas piadas e com o próprio nome do guaraná. Não estou defendendo quem brinca com o nome do Salvador, mas realmente me questiono o que é pior – um ateu criar um guaraná chamado “Jesus” ou cristãos professos lançarem no mercado um “guaraná de Jesus”?

Que possamos levar o nome do nosso Deus mais a sério.

Em Cristo, nome acima de todos os nomes,

Josa.

Notas
¹ Em A Glória de Cristo
² Gn 4.26, 12.8; Jr 44.26; Jl 2.32
³ Isto não quer dizer que antes o Filho, como Segunda Pessoa da Trindade, não tinha autoridade sobre o Universo. Estamos tratando especificamente da missão de Jesus como homem.
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Quero deixar claro que essa idéia uma possível interpretação, mas não sei se outros chegaram a ela.  Se alguém puder me informar, ou mesmo me corrigir, serei muito grato.