O Peregrino em uma cultura pós-cristã

Voddie Baucham

No clássico de John Bunyan, O Peregrino, a Porta Estreita é um símbolo para a entrada na vida cristã. Lá, o personagem principal, Cristão, encontra o porteiro, Boa-Vontade. O encontro deles , como o resto do livro, é cheio de significados dos quais peregrinos modernos farão bem em prestar atenção:

Quando o peregrino estava totalmente dentro, Boa Vontade perguntou à ele: “Quem te mandou para aqui?

CRISTÃO – O senhor Evangelista, que me disse: Vai ali, e bate à porta; lá ensinar-te-ão o que te convém fazer.

BOA VONTADE – Tens aberta uma porta que ninguém poderá fechar-te.

CRISTÃO – Quão venturoso sou! Começo a colher o fruto da minha ousadia.

BOA VONTADE – Então, vieste só?

CRISTÃO – Vim; porque nenhum dos meus vizinhos conheceu, como eu, o perigo em que se achava.”

A batalha acaba de começar

Como peregrinos nessa jornada para a Cidade Celestial, precisamos reconhecer o fato de que nascer na fé em Cristo é o fim da nossa inimizade com Deus, mas de modo algum o fim da guerra. Obstinado, Flexível, o Pântano da Desconfiança, e o Sr. Sábio-segundo-o-mundo, tudo foi obstáculo na jornada do Cristão pela Porta Estreita. Contudo, de várias maneiras, o pior estava por vir. Semelhantemente, nossa batalha com o mundo, a carne, e o Diabo só intensifica uma vez que passamos da morte para vida.

Velhos padrões de pensamento, tendências culturais e o constante bombardeio de  imagens e ideias podem obscurecer o caminho para a Cidade Celestial. Atravessar a Porta Estreita não é o fim da questão. O mundo pode não ser mais nossa “casa”,  mas ainda é onde vivemos. Como peregrinos, devemos reconhecer nossa necessidade de renovar nossas mentes constantemente. (Romanos 12:2), mortificar a carne (Gálatas 5:24), e resistir ao Diabo (Tiago4:7).

Como Cristão, devemos guerrear com Apolião e lutar pra nos manter no “reto e estreito caminho”. Então, claro, há a tentação da Vaidade. A pior coisa que pode acontecer a ele não é perder a vida, mas perder o testemunho. O maior perigo para o peregrino é desenvolver amor por algo, qualquer coisa, mais do que o amor que ele tem pela Cidade Celestial. Por isso os meios ordinários de graça se tornam mais importante com o passar do tempo. A pregação da Palavra, a festa e a comunhão da Mesa do Senhor: essas são jóias inestimáveis que nos lembram da glória decadente das coisas que conhecemos, e nos levam a ecoar o grito do Apóstolo: “considero tudo como perda, comparado com a suprema grandeza do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor, por cuja causa perdi todas as coisas. Eu as considero como esterco para poder ganhar a Cristo” (Filipenses 3:8).

Há outros em necessidade além daqueles que você encontrou

É impossível para um peregrino ficar diante a Porta Estreita sem pensar nos seus amigos, vizinhos, e membros da família que não estão lá. Foi isso que Paulo experimentou em Romanos 10:1 quando ele escreveu, “Irmãos, o desejo do meu coração e a minha oração a Deus é que eles sejam salvos.” Todo homem, mulher e criança no seu caminho para Cidade Celestial tem sentido o mesmo anseio. Ainda sim, devemos continuar a viagem.

Para Cristão, existe uma constante tensão entre o chamado da Cidade Celestial e seu amor por seus amigos e família que não viram “o perigo em que se acham”.  E ele, como todos os peregrinos, deve reconhecer que abandonar a trajetória não é só impensável nesse ponto da sua vocação, mas também é catastrófico para aqueles que ele desesperadamente deseja que se juntem a ele. O único jeito de engrandecer o caminho para os outros é se manter nele.

Essa cultura pós-cristã quer nos fazer acreditar que o único jeito de testemunhar efetivamente a Cristo é “contextualizar”, de uma forma que, essencialmente, deixa o caminho.  Temos que caminhar, falar, vestir, viver, e amar como o mundo no objetivo de ganhar o mundo. No entanto, o oposto é verdadeiro. É, de fato, reto e estreito o caminho para a Cidade Celestial que nos conforma à imagem de Cristo. É nele que aprendemos a real verdade de que somos testemunhas. E o nosso desejo é ter outros se juntando a nós nesse caminho, não distrair-nos dele.

Como Cristãos peregrinos, devemos perceber que a jornada que estamos é longa e repleta de dificuldade. O porteiro não veio para trazer paz, mas a espada (Mateus 10.34). Além disso, Ele promete que nós seremos odiados pelo mundo (João 15:1817:14). Apesar disso, não somos melhores que o mundo que nos odeia. A única diferença é a graça que recebemos.  Sendo assim, não temos lugar para vanglória. (Romanos 3:27), mas temos mais motivos de nos alegrar e uma mensagem para dividir com um mundo cheio de vizinhos que simplesmente precisam ver o perigo que eles se encontram, como vimos o nosso.