Tudo fez formoso em seu tempo; também pôs na mente do homem a ideia da eternidade, se bem que este não possa descobrir a obra que Deus fez desde o princípio até o fim. (Ec 3:11)
Sehnsucht (ZEN-zurt), do Alemão. Um desejo praticamente indescritível, anelo ou vontade ardente.
Nós não podemos descrevê-lo pois é um desejo por algo que jamais apareceu na nossa experiência. Não podemos escondê-lo pois nossa experiência o sugere constantemente… — C.S Lewis, “O peso da Glória”.
Quando nos arrebentamos em nossos pecados, a imagem de Deus em nós fica fraturada, e o som dela crepitando, quebrando, é como um sinal dos nossos corações enviado ao espaço profundo na busca de quem o receba. É bem conhecido que todos nós levamos conosco um espaço no formato de Deus. Falta algo. Esse é um conceito muitíssimo inferior ao conceito do Alemão da palavra Sehnsucht. Lewis é o que melhor nos fala sobre ela. Mas outros ícones capturam seu significado tão bem quanto ou até melhor que ele. Os poetas Whitman, Eliot, Auden. Autores como Austen, Auster, James. Van Gogh e Hokusai. De Rachmaninoff a Radiohead. O rei Salomão. Existe uma aflição em nós. Nós estamos urrando, gemendo com a criação.
Todos nós gememos. Mas lidamos com isso de formas diferentes. O que nós fazemos com o Sehnsucht?
1. Nós o dopamos
Talvez a forma mais comum de reprimir nosso desejo por Deus é inundando-o com falsos deuses. “Cada um de nós nasceu mestre no feitio de ídolos”, afirma Calvino. De metanfetaminas a pornografia, de consumismo ao Facebook, o mundo não nos poupa de anestésicos. A maioria das pessoas se dedica ao ciclo infinito de saciar o “Sehnsucht” temporariamente. É infinito, claro, porque o efeito de qualquer droga passa.
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2. Nós o negamos
Essa abordagem anda de mãos dadas com a idolatria, e é essencialmente auto-idolatria, da mesma forma que muitas pessoas dizem simplesmente que não precisam de concerto, que não lhes falta nada, que não têm o “desejo inconsolável”. Eles têm uma família feliz vivendo em uma boa casa com dois carros na garagem, amparados por um bom emprego e nada de ruim lhes acontece; e eles apenas não acham razão para suspeitar que lhes falta algo. Dessas pessoas, John Kramp, autor de “Out of their faces and into their shoes” (algo como De seus rostos a seus sapatos), sabiamente nos adverte “Você pode estar perdido e não se dá conta”. Não assumamos que todos os que estão distantes de Cristo se “sintam” perdidos sem Cristo. Essa é provavelmente a posição mais perigosa para se ficar.
3. Nós o espiritualizamos
Essa abordagem está ficando mais popular nos círculos que se professam cristãos, particularmente entre as gerações mais jovens. Em algum ponto, esperar por si só ficou mais interessante que Quem aguardamos. Adoradores do Sehnsucht não se importam em revelar alguns mistérios no lugar do seu Autor, pois os mistérios parecem muito mais interessantes que a revelação. Os que se concentram em esperar no lugar de quem os faz esperar, cozinham suas dúvidas, mimam a subjetividade e elevam a incerteza.
4. Nós desfrutamos dele
“Respondeu-lhe Jesus: Se tivesses conhecido o dom de Deus e quem é que te diz: Dá-me de beber, tu lhe terias pedido e ele te haveria dado água viva”. Como você aproveita esse desejo? Tentando sintonizar o receptor na frequência certa. Apenas desfrutando diretamente de Deus se faz o Sehnsucht verdadeiramente maravilhoso. Apenas descansando no Salvador se resolve definitivamente nosso cansaço. Os anseios de nossos corações tem um único intérprete autorizado, e essa língua desconhecida, esse lamento, esse grito bárbaro (obrigado, Whitman) se traduz em um brado de satisfação quando dito em sua terra natal.
Tu nos fizeste para Ti, e nossos corações não descansarão até encontrar abrigo em Ti. — Agostinho
Traduzido e gentilmente cedido por Roberto Cantanhede | iPródigo | Original aqui.