Existe um destino pior do que o inferno. Agora, vou admitir que ele envolve o inferno. [Afinal, qual tipo de destino terrível, no fim das contas, não envolveria o inferno?]. Mas, como eu estava dizendo, há um destino pior do que o inferno. É viver no auto-engano de que, só porque você está na igreja e envolvido com as coisas da igreja, você é salvo. Eu tive um vislumbre disso hoje mais cedo. Um velho amigo nosso visitou minha esposa e eu há pouco tempo. Sua filha (da qual fui professor uma vez em um grupo jovem) saiu de casa, foi morar junto com o namorado, e se tornou o que eu poderia chamar de uma hippie. Vamos chamá-la de Susan, pela questão de precisarmos de um nome. Então, Susan renunciou à fé, disse que já não acreditava em Deus, e agora vive em uma comunidade com um bando de vegetalistas, desviados e maconheiros.
Enquanto eu e minha esposa, em lágrimas, refletíamos sobre isso, me ocorreu que isso pode ser a melhor coisa que poderia ter acontecido. Algo pior poderia ter ocorrido. Susan poderia ter passado o resto da vida mentindo para si mesma, vivendo como uma hipócrita dentro da igreja. Domingo após domingo, ela vai lá na frente, participa da comunhão e deixa dinheiro na bandeja que passa. Talvez ajude com a música e cante canções junto com as crianças. Ela avança para a velhice, mantém-se comportada. Ela não quebra a lei, se estabelece com um bom menino da igreja – ou talvez da faculdade – e vive uma vida como se estivesse apenas passando por ela, como sempre disseram-lhe que deveria ser.
Nesse meio tempo, ela é como um túmulo – protegida mas, no interior, rodeada por ossos de homens mortos. Do lado exterior, ela aparece limpa como um copo que a máquina de lavar louça nunca se preocupou em olhar por dentro. A igreja tem mais um membro e um pouco mais de renda. Por causa dela, a igreja tem uma professora extra para os domingos e olha para Susan como um pilar na igreja. Especialmente enquanto a idade avança, ela é vista como uma rocha em sua igreja. Um dia, ela se encontra em seu leito e o pastor está lá para confortá-la. Ele se inclina e diz, “Vá para a sua recompensa, serva boa e fiel”, e enquanto sua alma se vai, ela é pega pelos demônios do inferno e arrastada para baixo e para baixo, como uma punição justa e eterna… enquanto Susan está confusa com o inferno. “O que aconteceu? Eu fiz tudo certo!”, ela grita…
Sair de casa e se juntar a uma comunidade admitindo verbalmante que está perdida, que não é salva, que está fora da graça de Deus talvez possa ser a melhor coisa que aconteceu à Susan e à sua alma. Ela conhece a si mesma. Sabe onde está. Ela não se deixa enganar pelas externalidades da religião. Pelo menos agora ela tem uma oportunidade de escapar do engano no qual estava capturada. O problema não é com a igreja, nem com o pastor. Afinal, é impossível saber perfeitamente se há um hipócrita ou um réprobo dentro da sua igreja, certamente, existem sinais, mas até mesmo a pessoa mais piedosa pode se enganar quanto a eles.
Essa deve ter sido a história de Susan. Portanto, ela admitiu o que era, admitiu que não cria e separou-se da comunhão com a igreja, o que é apropriado somente. Agora, tem a chance de ser mais do que uma hipócrita. Agora, tem a chance de compreender Jesus Cristo por si mesma ao invés de simplesmente dizer que precisa de Jesus e fazer as “coisas da igreja”.
Eu disse anteriormente que agora Susan não é mais enganada pelas externalidades da religião, e isso é verdade. Susan continua em grande perigo, de qualquer forma. Ao invés de ser enganada por compromissos religiosos externos, Susan está agora na garra de um novo tipo de engano, chame-o de o espírito da época, chame-o de autonomia – chame-o de o que você quiser. Enquanto deveria ser grata por ter encontrado seu caminho para longe do fogo, ela ainda segue tropeçando em um caminho para a frigideira. A única vantagem agora é que Susan sabe onde está. Quando o evangelista vai até ela e diz, “Jovem, você é salva?”, ela pode livre, confiante e honestamente responder, “Não. E eu não tenho tempo para as suas historinhas tolas. Eu tenho a vida inteira para dar sentido a ela comigo sendo o centro dela”.
Traduzido por Fernanda Vilela | iPródigo | original aqui