“Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a mim não é digno de mim; quem ama seu filho ou sua filha mais do que a mim não é digno de mim.” (Mateus 10.37)
O desafio de Jesus para que o amemos mais que nossos familiares, amigos e qualquer outro ente querido parece refletir o zelo do Deus de Israel no Antigo Testamento. É curioso que os críticos da Bíblia sempre reclamam do “ciúme” de Yahweh por seu povo eleito, mas raramente alguém ousa levantar a voz contra o mesmo tipo de sentimento da parte de Cristo.
Parece um conceito estranho, este de alguém que quer estar no topo de nossas afeições. Mas não é o que acontece num relacionamento amoroso normal?
Já imaginou um pai dizendo ao filho: “Olha, Joãozinho, eu gosto de você e sei que você gosta de mim, mas se você gostar mais do pai do Juquinha, não tem problema. Eu entendo.”? Ou um marido dizendo à esposa: “Não me importa que você tenha mais amor pelo nosso vizinho, por um colega de trabalho ou pelo jogador de futebol que por mim. Eu não sou ciumento.”? Se seu melhor amigo dissesse que você pode mudar de melhor amigo quando quiser, você sentiria o quê? Dificilmente diria para si mesmo: “Este é um verdadeiro amigo, que não se importa com meus sentimentos por ele, nem com nossa relação de longos anos. Isto sim é liberdade”.
Um relacionamento pai/filha pede que o pai tenha a filha no topo das afeições e a filha tenha o pai no topo de suas afeições. Um relacionamento marido/mulher pede que cada cônjuge esteja em primeiro lugar na vida do outro. E ninguém questiona isso. E ninguém se sente forçado a isso. Pelo contrário, se um pai dissesse que você pode mudar de pai a qualquer momento, certamente você iria se sentir desprezado, porque sua afeição por seu pai não tem qualquer valor para ele. O mesmo acontece com a relação marido/mulher e com outras. Você se sentiria alguém descartável.
Com Deus também é assim. Em se tratando de um relacionamento absoluto, que define vida e morte, seria realmente estranho que esse contrato espontâneo e não-declarado não existisse. O relacionamento dele com os homens e as mulheres é muito mais amoroso que entre pai e filho, e entre marido e mulher. Se as afeições do crente não fossem realmente importantes para o Senhor, ele estaria declarando que a vida humana não é importante para ele. Ele estaria dizendo que o homem é apenas mais uma de suas criaturas, e não a mais importante delas, a coroa da Criação. Mas vemos que esta declaração de Jesus prova, sim, que nossas afeições por Deus são muito importantes para ele.
Se Cristo não demonstrasse tamanho interesse no amor de homens e mulheres por ele, estaria destronando a si mesmo, da mesma maneira que um pai irresponsável abandona sua paternidade ao passá-la para outro homem ou uma esposa infiel menospreza seus deveres ao jogar a responsabilidade sobre a creche, a igreja e a televisão. Jesus está deixando claro qual é o lugar dele – o centro de tudo. Num relacionamento Deus/crente, Deus está no topo das afeições do cristão e, em Cristo, Deus nos vê e nos ama como a seu Filho amado – ou seja, com grande alegria.
É justamente nos relacionamentos mais fortes e nos compromissos mais sérios que se exige maior afeição pelo outro. Mas não se trata de uma exigência forçada. Trata-se de algo que você realmente deseja. O amor que uma pessoa sente por nós também pode ser mensurado pelo valor que ela dá ao que sentimos por ela.
E no caso de um Deus, que dá um valor imensurável ao que sentimos por ele, podemos ter certeza de uma coisa – ele nos ama de forma imensurável também.