Há muito tempo eu suspeito que muitos cristãos temem não apenas a morte, mas também o céu. Nós não admitimos isso, é claro. Nossos hinários, de qualquer tempo que sejam, são repletos de músicas sobre a alegria do pós-vida e que “lá no céu moraremos”. Nos alegramos com o fato de que não iremos para o inferno ou cairemos no esquecimento. Mas a maioria das referências das nossas músicas e sermões são sobre aqueles primeiros momentos no céu: quando veremos Jesus, quando estaremos reunidos com nossos entes queridos, e assim por diante. É como o final feliz da história. E este é o problema.
O evangelho nos diz que Satanás mantém os incrédulos escravizados pelo medo da morte (Hebreus 2.14-15). Crentes, frequentemente, também temem a morte, embora não tanto temem o tédio. Vemos a história de nossas vidas como abrangendo esse período de setenta, oitenta, ou uns cem anos. A vida que está por vir é nossa “grande recompensa” no “pós-vida”.
Mas agora pense sobre essa palavra, “pós-vida”. Ela supõe que a eternidade é um interminável poslúdio ao período em que a ação realmente acontece. Ela é “pós” alguma coisa. Nossa “recompensa” acontece depois de vivermos nossas vidas. É aqui que a linguagem importa.
Imagine um casal se referindo ao seu casamento como o seu “pós-amor”. Eles te explicam que anos atrás eles se conheceram, se apaixonaram e se casaram. Os anos desde então são seu “pós-amor”, já que vieram após o amor de um pelo outro. Você iria, sem dúvida, perguntar se eles continuam se amando e, caso sim, por que eles considerariam sua vida juntos como simplesmente “pós” qualquer coisa, e por que eles parecem colocar seu “amor” no passado. Você iria achar que eles estão diminuindo a importância o casamento e tratando-o de forma infeliz ao falar dele assim.
E você estaria certo.
Muitos cristãos veem a esperança da vida ressurreta como um ponto final para suas vidas de agora. Nós implicitamente assumimos que nosso foco na nova criação é um foco inverso, na nossa vida como ela é agora.
Nós falamos sobre todas as perguntas que faremos sobre o porquê disso ou daquilo ter acontecido. Nós nunca pensamos que talvez estaremos muito ocupados para nos preocuparmos com isso, assim como nós estamos ocupados demais no topo das nossas carreiras para perguntar à professora do jardim de infância por que ela comia seu lanche ao fim do recreio, e não no começo. Nós falamos sobre a nossa reunião com nossos entes queridos, mas mesmo assim elas tem, implicitamente, um foco no passado.
Uma reunião no ensino médio pode ser divertida. Você encontra velhos amigos e se lembra de bons e maus momentos. Mas o foco das conversas, normalmente, está em “lembra quando…” e “o que aconteceu com o…”. Isso é ótimo para uma hora, ou até quatro, mas quatro trilhões de anos disso seria o inferno. Isso não foi o que Jesus nos prometeu. Ele nos prometeu vida.
Se nós esquecermos disso, nos tornamos exatamente aqueles sem esperança. Nós falamos sobre nossas listas do que temos de fazer antes de partirmos, já que “só se vive uma vez”. Nós nos preocupamos com nosso futuro e guardamos rancor porque tememos que nossas vidas possam ser arruinadas por circunstancias, ao invés do pecado. Nós, essencialmente, vamos em direção ao bom e velho “comamos, bebamos e nos alegremos, pois amanhã morreremos”, mas complementamos isso com “… e então estaremos por aí com nossos entes queridos, cantando músicas e encarando uma luz por quadrilhões e mais um pouco de anos”.
Deus nos livre.
Sua eternidade é tanto sobre olhar para trás para o período atual quanto a sua vida agora é uma reflexão sobre o jardim de infância. No momento em que você irrompe a lama de cima do seu túmulo, você estará em uma excitante nova missão – missão esta que você não poderia compreender se alguém lhe dissesse. E essas coisas que parecem tão importantes agora – quer você seja atraente, famoso ou livre do câncer – serão totalmente irrelevantes face ao emocionante novo propósito, um para o qual você foi preparado nesse tempo de agora, mas que está muito longe de ser uma mera sequência da sua melhor vida agora.
Vamos falar sobre eternidade. Mas não como uma mera “pós-vida”. Em vez disso, vamos começar a pensar sobre esse pequeno sopro de tempo, os próximos oitenta e poucos anos, como o que ele realmente é: uma “pré-vida”.