Se não estou enganado, nossa igreja tem a reputação de ser bastante teológica. Eu sei que esta é a razão pela qual muitas pessoas vieram para a nossa igreja. E imagino também que por esse mesmo motivo algumas pessoas saíram de nossa igreja ou nem mesmo quiserem conhecê-la. Mas nenhuma igreja deve desculpar-se por amar e falar sobre teologia. Mas – e isso é uma advertência importante – se somos arrogantes com nossa teologia, ou se nossa paixão doutrinária se trata simplesmente de astúcia intelectual, ou se somos exagerados em nossos sentimentos por doutrinas menos importantes, então que o Senhor nos repreenda. Não devemos nos surpreender em saber que a teologia é mal vista em circunstâncias como essas.
Porém, quando se trata em refletir, alegrar-se e construir uma igreja sobre sólidas verdades bíblicas, todos nós devemos desejar uma igreja ricamente teológica.
Eu poderia citar muitas razões para pregar teologicamente e muitas razões para um pastor desejar uma congregação que ama teologia. Deixe-me mencionar seis:
1. Deus se revelou para nós em sua Palavra e nos deu seu Espírito para que possamos entender a verdade. Obviamente, você não precisa dominar todos os temas das Escrituras para ser um cristão. Deus é gracioso e salva muitos de nós mesmo com diversas lacunas em nosso entendimento. Mas se nós temos uma Bíblia, para não mencionar o volume enorme de literatura em Inglês (N.T.: em Português também, ainda que em menor número), por que não desejaríamos entender o máximo possível da autorrevelação de Deus? Teologia é receber mais de Deus. Você não quer que sua igreja conheça Deus melhor?
2. O Novo Testamento dá bastante importância para o discernimento entre a verdade e o erro. Existe um depósito de verdades que deve ser protegido. O falso ensino deve ser completamente afastado. O bom ensino deve ser promovido e defendido. Não se trata de uma preocupação de algum candidato a Ph.D. sem sentimentos que está definhando na frente do computador. Trata-se da paixão dos Apóstolos e do próprio Senhor Jesus que elogiou a Igreja de Éfeso por se opor firmemente aos falsos mestres e odiar as obras dos nicolaítas.
3. Os mandamentos do Novo Testamento sobre ética têm como alicerce proposições teológicas. Diversas cartas de Paulo têm uma estrutura em duas partes: Os capítulos iniciais apresentam doutrina e os capítulos finais nos exortam à obediência. Doutrina e vida prática estão sempre juntas na Bíblia. É a partir da visão da misericórdia de Deus, das inúmeras realidades teológicas de Romanos 1-11, que nós somos chamados a oferecer nossas vidas como sacrifício vivo em Romanos 12. Conhecendo doutrina você está aprendendo sobre vida prática. Sem doutrina não há vida prática.
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4. O ensino teológico nos habilita a um regozijo mais completo e profundo na glória de Deus. Verdades simples são maravilhosas. É bom cantarmos canções simples como “God is Good. All the time!” (Deus é bom. O tempo todo!). Se você canta músicas assim com fé sincera, o Senhor se agrada bastante. Mas Ele também se agrada quando cantamos e oramos sobre como exatamente Ele tem sido bom para nós no plano de salvação e através da história da salvação. Ele se agrada quando podemos nos gloriar na obra consumada de Cristo, descansar em sua providência que abrange tudo, nos maravilhar em sua infinitude e asseidade, quando podemos nos deleitar em sua santidade e meditar em sua tri-unidade na unidade e reverenciamos com temor sua onisciência e onipotência. Essas verdades teológicas não existem para nos tornar mais inteligentes, mas para nos dar corações mais apaixonados que adoram mais profundamente e intensamente a Deus por causa do que temos visto nEle.
5. A teologia ajuda a nos regozijarmos mais completamente e profundamente nas bênçãos que são nossas em Cristo. Novamente, é um pensamento doce saber que Jesus te salva dos seus pecados. Não há notícia melhor em todo o mundo. Mas quão mais completo e profundo será seu deleite quando você entender que salvação significa eleição para o louvor da graça de Deus, expiação para cobrir seus pecados, propiciação para desviar a ira divina, redenção para comprá-lo para Deus, justificação diante do trono do julgamento de Deus, adoção na família de Deus, um processo de santificação pelo Espírito, e a promessa de glorificação no final dos tempos? Se Deus nos deu bênçãos em Cristo de formas tão variadas e de tantas perspectivas diferentes, entender essas bençãos não te ajudaria e honraria a Ele?
6. Até mesmo (ou seria especialmente?) não-cristãos precisam de boa teologia. Eles podem até não se empolgar em ouvir uma apresentação chata sobre ordo salutis. Mas quem quer assistir uma apresentação chata sobre o que quer que seja? Se você consegue falar de forma cativante, apaixonada e simples sobre as bênçãos do chamado eficaz, regeneração e adoção, e como todas essas benção são encontradas em Cristo, e como a vida cristã não é nem mais nem menos daquilo que somos em Cristo, e como Deus realmente quer que vivamos de acordo com nosso “eu”, mas o nosso “novo eu” a partir da regeneração e não o “eu” nascido em pecado – se você dá aos não-cristãos tudo isso, e explica a eles de maneira clara, então você estará dando a eles muita teologia. E, se o Espírito de Deus estiver operando, talvez eles voltem procurando por mais.
Não há nenhuma razão para uma igreja ser algo diferente do que uma igreja fortemente teológica. Haverá igrejas de diversos formatos e tamanhos. Mas “não-teológica” ou, ainda pior, “antiteológica”, não deve ser um deles.
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Obs.: A imagem do post é baseada na capa da Teologia Sistemática de Douglas F. Kelly