É Quarta-Feira a noite e eu estou ajudando nossos filhos a calçarem seus sapatos, vestirem os casacos e pegarem suas Bíblias por estarmos prestes a ir para a igreja. Eu os apresso do lado de fora, digo a Corina que estamos esperando por ela no carro, e depois arrumo todos lá dentro.
Ao longo do caminho, eu digo a Timóteo (nosso filho de 7 anos): “Cuidado com a poça na garagem. Feche sua jaqueta. Abra a porta para a sua irmã.” Ele olha para mim com um olhar exasperado como se eu tivesse feito algo errado, e eu pergunto qual é o problema.
Ele me diz: “Pessoas me dizem o que fazer o tempo todo. Antes da escola. Na escola. No almoço. Durante as aulas. Quando chego em casa. Eu só fico cansado de todo mundo estar no comando.”
Nós estamos no carro agora. Júlia (nossa filha de 3 anos) está sentada com seu cinto de segurança em seu assento no carro. Timóteo está pronto para ir.
“Então você quer estar no comando?”, pergunto a ele.
“Sim. Eu quero estar no comando e tomar as minhas próprias decisões”, ele me responde.
Pensando que seria uma boa hora para desenvolver filosoficamente, eu digo “Bem, filho, esse dia está chegando. Mas por agora, as outras pessoas estão no comando, e a razão para estarmos no comando é porque Deus nos disse para ficar. Deus quer que a gente dê o nosso melhor para ajudar a te moldar ao tipo de pessoa que pode ser sábia e que honra a Deus com suas próprias escolhas.”
Ele balança a cabeça. Ele sabe.
Mas eu continuo.
“Um dia, você vai sair de casa. Você vai para a faculdade, e ninguém mais vai te dizer o que fazer todo dia. Você mesmo vai tomar suas decisões. E eu quero que você esteja preparado para esse dia.”
Com isso, o cansaço do dia supera Timóteo, e a visão de tal independência é demais para ele. Ele lamenta. Lágrimas escorrem.
“Isso me deixou tão triste! Eu não quero sair de casa!” Ele está histérico. “Por que você disse isso? Eu não quero pensar sobre isso.” Julia começa a chorar também. “O que tem de errado com o Timo?”
Eu suspiro, ponho a minha mão em minha cabeça e tento não rir. Belo desenvolvimento filosófico. Agora é hora de tranquilizá-lo.
“Timóteo, este dia ainda está longe, e até você chegar lá – acredite em mim – você vai querer estar lá, tomando suas próprias decisões” Ele está confortado. Crise evitada. E faço uma nota mental: “Não inventar moda com a faculdade de novo”.
Depois, Corina e eu estávamos conversando sobre esse diálogo, rindo sobre como o pensamento de independência perturba nosso filho. Como adultos, podemos olhar para o futuro dele e imaginá-lo como um jovem independente, maduro em sua fé, tomando sábias decisões.
Como uma criança, nosso filho quer chegar lá, mas ele não consegue imaginar como será. A ideia de ser um adulto o assusta. Há muitas variáveis desconhecidas.
E então, eu percebo porque Deus não nos conta tudo sobre o nosso futuro. Ele expõe a visão de quem seremos – pessoas andando de uma maneira digna de Cristo, frutificando em toda boa obra, crescendo no conhecimento de Deus. Mas Ele não nos conta tudo que essa viagem acarretará. Ele não nos conta tudo que iremos realizar ao longo do caminho.
Às vezes eu me pergunto por que Deus não revela o plano específico que Ele tem para toda a nossa vida. Agora, eu percebo que isso é uma coisa boa. Nós não seríamos capazes de lidar com isso. Nós choraríamos como uma criança assustada se soubéssemos os planos específicos dEle para nós. Nos questionaríamos como Ele conseguirá nos fazer parecidos com Cristo de inúmeras formas surpreendentes.
E o pensamento do sofrimento, da dor e da responsabilidade que serão necessários para chegar lá – para formar-nos como este tipo de pessoa… bem, se a universidade é o suficiente para assustar um menino de 7 anos de idade, então talvez a especificidade de como nós nos tornaremos mais como Cristo ao longo da vida seria demais para suportar.
Melhor é ouvir a amorosa voz do nosso Pai, que nos sela com Seu Espírito e promete renovar nossa humanidade dia após dia ao nos refazer à imagem do Seu Filho.
Melhor é dar nossos passos cambaleantes de bebê na jornada da vida, desfrutando da boa vontade do nosso Pai, crendo no sacrifício de Seu Filho quando caímos e nos apoiamos no poder o Espírito para nos levantar novamente e nos ajudar a continuar na caminhada.
Deus nos dá uma grande imagem do nosso futuro. E é glorioso!
Mas Ele opta por não preencher todos os detalhes. E isto é muito bom!