Pregando em meio ao pluralismo

Pregando em meio ao pluralismo
Um sacerdote muçulmano e eu estávamos em um debate, há alguns anos atrás, descrevendo a essência de nossas duas religiões para alguns alunos de uma faculdade. O muçulmano explicou que não há nenhum deus além de Deus e que a afirmação da divindade de Cristo era uma blasfêmia. Eu expliquei que essa afirmação é justamente o centro do Cristianismo: Jesus é Deus. Então um estudante se levantou e disse: “Eu não vejo nenhuma diferença entre as duas religiões”.
Eu e sacerdote muçulmano explicamos as diferenças novamente, mas não conseguimos convencer o rapaz de que, se um de nós estava certo, então o outro estava errado. O pluralismo religioso ensinou àquele estudante a nunca afirmar que uma religião é superior à outra. Esse tipo de afirmação deve ser rapidamente classificada como intolerante e exclusivista.
Logo após a tragédia do World Trade Center, muitas pessoas de Nova York que nunca pisaram em uma igreja começaram a procurar por alguma delas que pudesse responder a sua dor e seus questionamentos. A Redeemer Prebyterian Church parecia um adesivo mata-moscas: atraía e prendia aqueles que normalmente se manteriam afastados do Cristianismo.
Mesmo que céticos e descrentes sempre tenha sido uma parte significante da congregação da Redeemer, agora quase 30% de nossos congregados são não-cristãos. Muitos deles, ainda firmados no pluralismo religiosos e têm pouca paciência com afirmações de superioridade do Cristianismo.
Manter meu ministério com pessoas de cultura pluralista requer que eu pregue de tal forma que não comprometa a verdade do evangelho, mas que não afaste aqueles que acreditam na pluralidade das religiões.
Bem especial
Eu não afirmo diretamente que “o Cristianismo é uma religião superior”, e certamente não acuso outras religiões de não o serem. Ao invés disso, tento mostrar o que faz o Cristianismo especial.
O pastor do meu pai recentemente deu um exemplo vivo disso. Minha mãe sofreu um enfarto e meu pai estava precisando de apoio. Seu pastor sentou ao seu lado por horas no hospital, ministrando não com palavras profundas, mas simplesmente por estar lá.
Da mesma forma, o Cristianismo não oferece muitas soluções práticas para o problema do sofrimento, mas oferece a promessa de um Deus que nos acompanha totalmente quando sofremos. Apenas os cristãos acreditam em um Deus que diz “estou aqui ao seu lado. Eu já passei pelo mesmo sofrimento que você. Eu sei como é isso”. Nenhuma outra religião chega perto de oferecer tal coisa.
Depois da tragédia do WTC, entre 600 e 800 novas pessoas começaram a comparecer aos cultos na Redeemer. Esse fluxo repentino de pessoas procurava respostas para a pergunta “O que Deus tem para me oferecer em uma hora como essa?”.
Eu pregava: “O Cristianismo é a única fé que te diz que Deus perdeu um filho em um ato violento de injustiça. O Cristianismo é a única religião que te diz, portanto, que Deus sofreu como você tem sofrido”.
Isso são palavras cuidadosamente escolhidas para dizer “outras religiões te dizem muitas coisas boas, sim. Mas o Cristianismo é a única que te diz isso. Se você negar isso, você desperdiça uma grande experiência espiritual”.
Alguns pluralistas se chocam com isso, pois percebem que desejam essas características do Cristianismo – um Deus que conhece a dor humana, salvação pela graça e a esperança do céu – em tempos de necessidade.
Mas, ao mesmo tempo, estamos em Nova York. Eles sabem que quando eu digo “apenas o Cristianismo te afirma isso”, eu estou dizendo que ele é maior que as outras religiões. Então armam suas defesas. Como você se atreve a dizer que sua religião é superior a alguma outra?
É por isso que, de vez em quando, eu trato diretamente de algumas fraquezas das bases do pluralismo.
Pregando todo o elefante
Uma semana ou outra, eu enfrento noções pluralistas populares, não em um sermão inteiro, mas com um ponto aqui e outro ali.
Por exemplo: pluralistas dizer que nenhuma religião pode conhecer a totalidade da verdade espiritual, logo, todas as religiões são válidas. Se por um lado é bom reconhecer nossas limitações, por outro, esse dizer é, em si mesmo, uma grande afirmação sobre a natureza da verdade espiritual. Uma analogia comum a isso é a dos cegos tentando descrever um elefante. Um deles apalpa a cauda e diz que um elefante é fino e flexível. Outro sente a pata e diz que um elefante é grosso como um tronco de árvore. Um deles toca o corpo e afirma que um elefante é como uma parede. Supostamente, isso representa como as várias religiões entendem apenas uma parte de Deus, enquanto nenhuma delas pode realmente ver o quadro totalmente. Dizer ter total conhecimento sobre Deus, dizem os pluralistas, é arrogância.
Normalmente, quando falo sobre essa ilustração, vejo muitas pessoas balançando a cabeça como se concordassem.
Então eu as faço acordar: “O único jeito de essa parábola fazer algum sentido, entretanto, é se você já viu todo o elefante. Logo, quando você diz ‘cada religião vê apenas uma parte da verdade’, você está afirmando conhecer exatamente aquilo que nenhuma delas conhece. E você está demonstrando a mesma arrogância espiritual que você acusa os cristãos de ter”.
Simplesmente ser bom é ruim
O rapaz da discussão na faculdade insistiu que não há diferença entre o Cristianismo e o Islã porque, em suas palavras, “vocês dois dizem que deveríamos apenas tentar obedecer a Deus e viver uma boa vida”.
A pregação cristã acaba normalmente dando razão para os pluralistas enxergarem dessa forma.
No livro “Natureza da Verdadeira Virtude”, Jonathan Edwards demonstra que a maioria das pessoas que buscam uma boa moral tenta atingir padrões éticos principalmente por interesse próprio, orgulho e medo. Ele chamou isso de “moralidade comum”, em contraste à “verdadeira virtude”, que nasce de uma vida transformada pelo experimentar da graça de Deus. Edwards estava falando de um coração cheio de amor e alegria, que age não por superioridade ou medo das conseqüências, mas por prazer em Deus e pela sua beleza de sua glória.
Existem certas pregações que exortam as pessoas a um comportamento moral que não é motivado pela alegria da beleza de Deus ou da graça de Cristo. Quando é esse o caso, o pluralista não enxerga distinção entre o Cristianismo e as outras religiões. Minha pregação, então, busca mostrar um tipo de transformação que nem um pluralista pode negar.
Esse pensamento mudou o conteúdo dos meus sermões. Se eu tivesse pregado sobre mentir a 10 anos atrás, talvez eu tivesse dito: “Não minta. Diga a verdade porque Jesus é verdade. E se você mentiu, Jesus vai te perdoar”. O fim desse apelo é a mudança no comportamento exterior.
Hoje, possivelmente eu pregue: “Deixe-me te dizer por que você não é uma pessoa confiável. Eu normalmente minto para evitar a desaprovação dos outros. Se eu simplesmente parar de mentir, isso não vai funcionar, porque meu desejo de ser aprovador pelos outros se sobrepõe às minhas boas intenções. Eu permito que outras pessoas, e não Jesus, determinem o meu valor. Se você quer parar de mentir, você deve descobrir o que motiva o seu pecado – como a minha tendência de buscar afirmação nas outras pessoas – e substituir pela segurança que você só encontra em Jesus”.
O objetivo não é uma mudança, é uma transformação.
A queda do império
Depois do 11 de Setembro, eu li novamente o livro “A Cidade de Deus”,  de Agostinho. A Roma dos tempos de Agostinho estava passando por algo similar ao que Nova York passou. A cidade havia sido saqueada. Ela não tinha sido destruída; tinha sido violada. Foi como se os bárbaros tivessem atacado apenas para dizer “estão vendo o que nós podemos fazer?”. Todos em Roma, mesmo os cristãos, sentiram que os bárbaros realmente podiam fazer aquilo, e que nenhum lugar era mais seguro.
O que Agostinho disse foi que as pessoas estavam confundindo Roma com a Cidade de Deus. Estavam buscando segurança no lugar errado. Se os romanos pagãos estavam correndo e se escondendo – o que fazia sentido, sendo Roma um lugar agora tão perigoso – os cristãos deveriam ser diferentes. Como cidadãos da Cidade de Deus, não havia arma ou bomba que pudesse ameaçar a casa do cristão. Para os cristãos era ilógico, e até errado, fugir de Roma quando havia tantos deveres a ser cumpridos e nenhuma ameaça real à segurança dos cristãos.
Foi então que eu preguei cinco mensagens sobre o que significa ser cristão em Nova York. Existem razões muito boas para não-crentes fugirem dessa cidade. Mas os cristãos têm todas as razões para ficar. Essa é uma diferença que qualquer um pode ver.
Tim Keller
Tim Keller

Um sacerdote muçulmano e eu estávamos em um debate, há alguns anos atrás, descrevendo a essência de nossas duas religiões para alguns alunos de uma faculdade. O muçulmano explicou que não há nenhum deus além de Deus e que a afirmação da divindade de Cristo era uma blasfêmia. Eu expliquei que essa afirmação é justamente o centro do Cristianismo: Jesus é Deus. Então um estudante se levantou e disse: “Eu não vejo nenhuma diferença entre as duas religiões”.

Eu e sacerdote muçulmano explicamos as diferenças novamente, mas não conseguimos convencer o rapaz de que, se um de nós estava certo, então o outro estava errado. O pluralismo religioso ensinou àquele estudante a nunca afirmar que uma religião é superior à outra. Esse tipo de afirmação deve ser rapidamente classificada como intolerante e exclusivista.

Logo após a tragédia do World Trade Center, muitas pessoas de Nova York que nunca pisaram em uma igreja começaram a procurar por alguma delas que pudesse responder a sua dor e seus questionamentos. A Redeemer Prebyterian Church parecia um adesivo mata-moscas: atraía e prendia aqueles que normalmente se manteriam afastados do Cristianismo.

Mesmo que céticos e descrentes sempre tenha sido uma parte significante da congregação da Redeemer, agora quase 30% de nossos congregados são não-cristãos. Muitos deles, ainda firmados no pluralismo religiosos e têm pouca paciência com afirmações de superioridade do Cristianismo.

Manter meu ministério com pessoas de cultura pluralista requer que eu pregue de tal forma que não comprometa a verdade do evangelho, mas que não afaste aqueles que acreditam na pluralidade das religiões.

Bem especial

Eu não afirmo diretamente que “o Cristianismo é uma religião superior”, e certamente não acuso outras religiões de não o serem. Ao invés disso, tento mostrar o que faz o Cristianismo especial.

O pastor do meu pai recentemente deu um exemplo vivo disso. Minha mãe sofreu um enfarto e meu pai estava precisando de apoio. Seu pastor sentou ao seu lado por horas no hospital, ministrando não com palavras profundas, mas simplesmente por estar lá.

Da mesma forma, o Cristianismo não oferece muitas soluções práticas para o problema do sofrimento, mas oferece a promessa de um Deus que nos acompanha totalmente quando sofremos. Apenas os cristãos acreditam em um Deus que diz “estou aqui ao seu lado. Eu já passei pelo mesmo sofrimento que você. Eu sei como é isso”. Nenhuma outra religião chega perto de oferecer tal coisa.

Depois da tragédia do WTC, entre 600 e 800 novas pessoas começaram a comparecer aos cultos na Redeemer. Esse fluxo repentino de pessoas procurava respostas para a pergunta “O que Deus tem para me oferecer em uma hora como essa?”.

Eu pregava: “O Cristianismo é a única fé que te diz que Deus perdeu um filho em um ato violento de injustiça. O Cristianismo é a única religião que te diz, portanto, que Deus sofreu como você tem sofrido”.

Isso são palavras cuidadosamente escolhidas para dizer “outras religiões te dizem muitas coisas boas, sim. Mas o Cristianismo é a única que te diz isso. Se você negar isso, você desperdiça uma grande experiência espiritual”.

Alguns pluralistas se chocam com isso, pois percebem que desejam essas características do Cristianismo – um Deus que conhece a dor humana, salvação pela graça e a esperança do céu – em tempos de necessidade.

Mas, ao mesmo tempo, estamos em Nova York. Eles sabem que quando eu digo “apenas o Cristianismo te afirma isso”, eu estou dizendo que ele é maior que as outras religiões. Então armam suas defesas. Como você se atreve a dizer que sua religião é superior a alguma outra?

É por isso que, de vez em quando, eu trato diretamente de algumas fraquezas das bases do pluralismo.

Pregando todo o elefante

Uma semana ou outra, eu enfrento noções pluralistas populares, não em um sermão inteiro, mas com um ponto aqui e outro ali.

Por exemplo: pluralistas dizer que nenhuma religião pode conhecer a totalidade da verdade espiritual, logo, todas as religiões são válidas. Se por um lado é bom reconhecer nossas limitações, por outro, esse dizer é, em si mesmo, uma grande afirmação sobre a natureza da verdade espiritual. Uma analogia comum a isso é a dos cegos tentando descrever um elefante. Um deles apalpa a cauda e diz que um elefante é fino e flexível. Outro sente a pata e diz que um elefante é grosso como um tronco de árvore. Um deles toca o corpo e afirma que um elefante é como uma parede. Supostamente, isso representa como as várias religiões entendem apenas uma parte de Deus, enquanto nenhuma delas pode realmente ver o quadro totalmente. Dizer ter total conhecimento sobre Deus, dizem os pluralistas, é arrogância.

Normalmente, quando falo sobre essa ilustração, vejo muitas pessoas balançando a cabeça como se concordassem.

Então eu as faço acordar: “O único jeito de essa parábola fazer algum sentido, entretanto, é se você já viu todo o elefante. Logo, quando você diz ‘cada religião vê apenas uma parte da verdade’, você está afirmando conhecer exatamente aquilo que nenhuma delas conhece. E você está demonstrando a mesma arrogância espiritual que você acusa os cristãos de ter”.

Simplesmente ser bom é ruim

O rapaz da discussão na faculdade insistiu que não há diferença entre o Cristianismo e o Islã porque, em suas palavras, “vocês dois dizem que deveríamos apenas tentar obedecer a Deus e viver uma boa vida”.

A pregação cristã acaba normalmente dando razão para os pluralistas enxergarem dessa forma.

No livro “Natureza da Verdadeira Virtude”, Jonathan Edwards demonstra que a maioria das pessoas que buscam uma boa moral tenta atingir padrões éticos principalmente por interesse próprio, orgulho e medo. Ele chamou isso de “moralidade comum”, em contraste à “verdadeira virtude”, que nasce de uma vida transformada pelo experimentar da graça de Deus. Edwards estava falando de um coração cheio de amor e alegria, que age não por superioridade ou medo das conseqüências, mas por prazer em Deus e pela sua beleza de sua glória.

Existem certas pregações que exortam as pessoas a um comportamento moral que não é motivado pela alegria da beleza de Deus ou da graça de Cristo. Quando é esse o caso, o pluralista não enxerga distinção entre o Cristianismo e as outras religiões. Minha pregação, então, busca mostrar um tipo de transformação que nem um pluralista pode negar.

Esse pensamento mudou o conteúdo dos meus sermões. Se eu tivesse pregado sobre mentir há 10 anos, talvez tivesse dito: “Não minta. Diga a verdade porque Jesus é verdade. E se você mentiu, Jesus vai te perdoar”. O fim desse apelo é a mudança no comportamento exterior.

Hoje, possivelmente eu pregue: “Deixe-me te dizer por que você não é uma pessoa confiável. Eu normalmente minto para evitar a desaprovação dos outros. Se eu simplesmente parar de mentir, isso não vai funcionar, porque meu desejo de ser aprovado pelos outros se sobrepõe às minhas boas intenções. Eu permito que outras pessoas, e não Jesus, determinem o meu valor. Se você quer parar de mentir, você deve descobrir o que motiva o seu pecado – como a minha tendência de buscar afirmação nas outras pessoas – e substituir pela segurança que você só encontra em Jesus”.

O objetivo não é uma mudança, é uma transformação.

A queda do império

Depois do 11 de Setembro, eu li novamente o livro “A Cidade de Deus”,  de Agostinho. A Roma dos tempos de Agostinho estava passando por algo similar ao que Nova York passou. A cidade havia sido saqueada. Ela não tinha sido destruída; tinha sido violada. Foi como se os bárbaros tivessem atacado apenas para dizer “estão vendo o que nós podemos fazer?”. Todos em Roma, mesmo os cristãos, sentiram que os bárbaros realmente podiam fazer aquilo, e que nenhum lugar era mais seguro.

O que Agostinho disse foi que as pessoas estavam confundindo Roma com a Cidade de Deus. Estavam buscando segurança no lugar errado. Se os romanos pagãos estavam correndo e se escondendo – o que fazia sentido, sendo Roma um lugar agora tão perigoso – os cristãos deveriam ser diferentes. Como cidadãos da Cidade de Deus, não havia arma ou bomba que pudesse ameaçar a casa do cristão. Para os cristãos era ilógico, e até errado, fugir de Roma quando havia tantos deveres a ser cumpridos e nenhuma ameaça real à segurança dos cristãos.

Foi então que eu preguei cinco mensagens sobre o que significa ser cristão em Nova York. Existem razões muito boas para não-crentes fugirem dessa cidade. Mas os cristãos têm todas as razões para ficar. Essa é uma diferença que qualquer um pode ver.