Uma mulher me disse certa vez que planejava deixar o marido porque “simplesmente não o amava mais”. Pedi-lhe para mudar a maneira de expressar o que planejava fazer para que sua decisão pudesse ser entendida com precisão. Pedi que dissesse dessa forma: “Estou escolhendo não mais valorizar meu marido e quebrar o meu compromisso de permanecer fiel a ele”.
Ela se recusou a afirmar sua decisão desta forma, mas insistiu em usar termos que a fizeram parecer uma vítima de sentimentos que não poderia mudar. Ela também achou que sua decisão era, na verdade, virtuosa pela honestidade e a recusa de ser hipócrita.
Sentir e agir em Amor
Ao realizar casamentos, levanto essa questão: “O que é isso que atrai as pessoas para se casarem?”. A maioria das respostas tem uma palavra: amor. Sim, o amor nos une. Mas o que é amor? É algo que podemos sentir e deixar de sentir? É química? Paixão? É uma resposta emocional ou uma escolha?
Ao longo dos anos, pessoas me disseram que queriam se casar porque se amavam. Eu também ouvi pessoas (como essa mulher) me dizerem que queriam sair de seu casamento porque já não sentiam amor por seu companheiro.
Isso me levou a fazer algumas perguntas sérias sobre a natureza do amor. Na minha avaliação, cheguei à conclusão de que é preciso distinguir duas dimensões do amor.
1. Sentir amor
Esta dimensão é a atração emocional do amor. É o que as pessoas querem dizer quando falam de “se apaixonar”. É geralmente baseada em reações mais superficiais e primeiras impressões. Claramente, é uma parte natural da atração humana. Embora não seja necessariamente errada, não é suficiente para sustentar uma relação significativa e duradoura. É muito superficial. Relações profundamente satisfatórias são construídas sobre a segunda dimensão do amor.
2. Agir em amor
Esta dimensão não depende de sentimentos e química. É o amor da escolha. É a opção de responder ao meu companheiro de uma maneira amorosa, independentemente dos sentimentos. Esta dimensão do amor é uma escolha de valorizar o meu companheiro e buscar seu melhor. Embora eu não possa sempre me fazer sentir de uma certa maneira, posso sempre optar por agir de forma amorosa.
No contexto do casamento, é muito importante entender a distinção entre essas duas dimensões. A maioria das relações começa com uma dose elevada da dimensão sentir amor e, na maioria dos relacionamentos, essa sensação diminui com o tempo. Quando isso acontece, a chave para manter acesa a chama do amor não está em buscar um sentimento, mas decidir valorizar a outra pessoa e se dedicar ao seu melhor – não importa o que se sente.
É uma escolha agir em amor mesmo quando não sentimos amor. Sei que para muitas pessoas isso soa quase como um grande pecado. Parece que estou defendendo alguma forma de desonestidade, mas, surpreendentemente, quando escolhemos amar, os sentimentos muitas vezes acompanham as ações!
Barreira Cultural
Temos de enfrentar uma barreira cultural que ameaça esta compreensão do amor. Nossa cultura envia uma forte mensagem dizendo que, acima de tudo, devemos ser fiéis aos nossos sentimentos. Fazer qualquer outra coisa, dizem, simplesmente seria desonesto e hipócrita. Por isso, tornou-se uma marca de bom caráter ser fiel a seus sentimentos.
Essa ética cultural é muitas vezes usada para dar às pessoas uma falsa sensação de força ao quebrar compromissos profundos. Por “evitar a hipocrisia” e “ser honesto o suficiente para admitir a perda de sentimentos”, elas se sentem justificadas – talvez até mesmo virtuosas – ao quebrar seus votos de casamento.
Há uma profunda e autodestrutiva ilusão nessa linha de raciocínio. Implica que somos, de alguma forma, vítimas de nossos sentimentos, incapazes de dominá-los. Sentimentos vêm e vão com as mudanças no clima.
Mas será que você vai trabalhar somente quando sente vontade de ir? Os atletas ou grandes músicos apenas praticam quando lhes apetece? Nós simplesmente não podemos viver uma vida saudável e produtiva se deixarmos nossos sentimentos nos dominar. Isto é especialmente verdadeiro quando se trata de relacionamentos.
Se esperamos experimentar relacionamentos profundos e duradouros como pretendido por Deus, o amor deve ser entendido mais como uma ação do que um sentimento.
Lembre-se de que Deus demonstrou seu amor por nós não porque somos um grupo caloroso, adorável de pessoas que ele não poderia resistir. Em vez disso, “Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores” (Romanos 5.8). Este é o tipo de amor que maridos são ordenados a demonstrar por suas esposas (Efésios 5.25).
Reflita muitas vezes sobre a distinção entre sentir e agir em amor. Use-o para conversar com casais, em pequenos grupos e com aqueles que se preparam para o casamento.
Reflita também sobre a melhor definição de amor disponível para a humanidade.
O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece.Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor nunca falha. (1 Coríntios 13.1-8a).
Traduzido por Josie Lima | iPródigo.com | original aqui