Geralmente me perguntam por que não fazemos “apelos” em nossos cultos. Assim como as pessoas que fazem essas perguntas, quase todas as igrejas na minha experiência pessoal praticaram “apelos” na conclusão do sermão ou do culto. Eu as tenho visto fazer isso de uma forma muito pobre, e vi alguns pastores serem realmente claros a respeito do evangelho, arrependimento, fé, e do fato de que “ir à frente” não salva. A minha própria conversão aconteceu com a pregação de Êxodo 32, a qual terminou com um apelo.
Então, por que não praticamos “apelos”? Não acho que o pastor que faz um “convite” ao final está em pecado, mas talvez ele também não esteja sendo sábio. Esta lista de razões, elaborada pelo Pastor Ryan Kelly da Desert Springs Church (n.t.: Igreja Fontes no Deserto), é um resumo muito bom do meu pensamento.
- O apelo está simples e completamente ausente das páginas do Novo Testamento.
- O apelo é historicamente inexistente até o século 19 e o seu uso naquele tempo (via Charles Finney) foi baseado diretamente em uma má teologia e em uma metodologia antropocêntrica e manipulativa.
- O apelo facilmente confunde o ato físico de “ir à frente” com o ato espiritual de “ir a Cristo”. Esses dois atos podem ocorrer simultaneamente, mas muitas vezes as pessoas acreditam que ir a Cristo é ir à frente (ou vice-versa).
- O apelo pode facilmente iludir as pessoas sobre a realidade do seu estado espiritual e sobre a base bíblica para segurança. A Bíblia nunca nos ofereceu segurança baseada no fato de termos “ido à frente”.
- O apelo parcialmente toma o lugar do batismo como pública profissão de fé.
- O apelo pode nos induzir ao erro de pensar que a salvação (ou qualquer resposta oficial à Palavra de Deus) acontece principalmente nos domingos, somente no final do culto e somente “lá na frente”.
- O apelo pode confundir as pessoas em relação a “coisas sagradas” e “lugares sagrados”, como também o nome apelo [no inglês, “altar call” = “chamado ao altar” – N.T.] implica.
- O apelo não é sensível para com a nossa era relacional e cautelosa onde muitas pessoas chegam à fé após um período de tempo e muitas vezes com a interação de um bom amigo.
- O apelo é muitas vezes visto como “a parte mais importante do culto”, e isso tira a ênfase das partes verdadeiramente mais importantes do culto público que Deus prescreveu (pregação, oração, comunhão, cânticos).
- Deus é glorificado ao abençoar poderosamente as coisas que Ele prescreveu (pregação, oração, comunhão, cânticos) e não pelas coisas que nós inventamos. Devemos sempre desconfiar da inclusão de coisas novas às ordens de Deus para a Sua adoração.
Os números 1, 2, 3, 4, 5 e 10 da lista de Ryan são as razões mais convincentes na minha opinião. Essas devem ser objeções muito sérias para qualquer um que leva a sério a ideia de que a nossa vida cristã e nossas reuniões devem se conformar ao que o Novo Testamento ordena, modela, e proibe. Talvez eu deva acrescentar o 11º: o “apelo” ensina a congregação a avaliar o “sucesso” ou a “eficácia” do ministério em resultados e ações exteriores e visíveis.
Além disso, a necessidade de ser pastoralmente cuidadoso e sensível com as almas dos homens que precisam se arrepender e crer não poderia ser mais urgente. Então qualquer coisa que obscurece a realidade do trabalho de Deus o Espírito Santo na conversão, ou que obscurece a necessidade de arrependimento e fé, deve ser considerado – na melhor das hipóteses – uma prática com potencial para prejudicar todo o trabalho em que estamos dando as nossas vidas.
As pessoas “respondem” à palavra de Deus nos nossos cultos? Sim. E damos a elas várias formas para que possam continuar no que ouviram, desde conversar com um presbítero ou um amigo cristão depois do culto, até marcar uma reunião durante a semana, ou nos deixar saber que gostariam de receber uma visita, e assim por diante. Uma coisa que aprecio na nossa abordagem é que nos permite encontrar, ouvir, perguntar, encorajar, ensinar e orar de uma forma muito mais cuidadosa. Pela graça de Deus estamos vendo pessoas se converterem e professarem a fé delas e serem batizadas conforme o Espírito Santo abre seus corações. Não somos perfeitos, de forma alguma. Mas eu espero que estejamos sendo fiéis aos mandamentos, exemplos e restrições das Escrituras.
O que você acha da lista de Kelly? Você é “a favor” ou “contra” e por quê? Você acrescentaria algo ou contestaria algo da lista?
Traduzido por Pedro Vilela | iPródigo | Original aqui.