Uma onda de avivamento autêntico passa sobre a igreja quando três coisas acontecem juntas: o ensino das grandes verdades do Evangelho com clareza, a aplicação com poder espiritual dessas verdades à vida das pessoas, e a extensão dessa experiência a um grande número de pessoas. Nós, evangélicos, precisamos urgentemente de um avivamento assim hoje. Precisamos recuperar o Evangelho.
Imagine a igreja evangélica sem o Evangelho. Eu sei que isso não faz sentido, afinal os evangélicos são definidos pelo Evangelho. Mas tente imaginar isso por um momento. Com o que nosso evangelicalismo, sem o Evangelho, talvez parecesse? Teríamos de substituir a centralidade do Evangelho com outra coisa, naturalmente. Então, o que poderia tomar o lugar do Evangelho em nossos sermões, livros, áudios, EBDs, estudos de pequenos grupos e, acima de tudo, em nossos corações?
Um monte de coisas, possivelmente. Uma absorção introspectiva na recuperação de traumas emocionais, por exemplo. Ou uma devoção apaixonada pela causa pró-vida. Ou uma manipulação confiante das modernas técnicas de administração. Ou um direcionamento para o crescimento e “sucesso” da igreja. Ou uma preocupação profunda com a instituição da família. Ou uma fascinação pelos dons do Espírito mais incomuns. Ou um apelo engenhoso ao consumismo ao se oferecer certo tipo de Cristianismo Light, com sacrifício zero. Ou um simpático, empático e adocicado cultivo das relações interpessoais. Ou a determinação de trazer o país de volta a suas raízes cristãs por meio do poder político. Ou uma calorosa afirmação de autoestima. O movimento evangélico, privado do Evangelho, talvez se concentrasse em uma ou muitas dessas preocupações a fim de definir-se e tirar energia para sua missão. Em outras palavras, os evangélicos poderiam marginalizar, ou mesmo perder, o Evangelho e ainda continuar seu caminho, talvez sem perceber sua perda.
Mas isso não apenas é possível: está realmente acontecendo entre nós neste momento. Indiferente ao que alguém possa pensar das várias preocupações listadas acima como alternativas à centralidade do Evangelho – e alguns desses assuntos possuem validade genuína, e mesmo urgente, em especial a família – nenhuma delas é central à nossa fé. Nenhuma delas é o Evangelho ou é digna de empurrar o Evangelho para a periferia de nossa mensagem, nossos planos e nossas afeições. O Evangelho de nosso bendito Senhor Jesus Cristo está sofrendo hoje humilhação entre nós, evangélicos, por nossa evidente negligência a ele.
Quando pensamos sobre o Evangelho, podemos ter o sentimento de “nós já sabemos disso, ok”. Presumimos o Evangelho como garantido. Assumimos que as pessoas da nossa igreja conhecem o Evangelho, e estamos ansiosos em mudar para assuntos mais “relevantes” e “práticos”. O Evangelho está sendo colocado de lado em nossos corações e mentes em favor de uma ampla variedade de questões, tão variadas quanto a fragmentação do evangelicalismo, ao mesmo tempo em que o coração e a alma de nossa fé caem em obscuridade através da negligência. Os mistérios sagrados da encarnação, cruz, ressurreição, ascensão e do reino celestial do nosso Senhor, os grandes temas da eleição, propiciação, justificação e santificação, o poder e o engano do pecado, o significado da fé e arrependimento, nossa união com nosso Senhor crucificado, sepultado e ressuscitado, o valor infinitamente superior de nossa recompensa celestial em comparação ao que essa vida tem a oferecer (incluindo a vida cristã), o julgamento final e a eternidade – esses temas gloriosos que repousam no centro de nossa fé, que fizeram a igreja grande em seus grandes momentos do passado, e que podem fazer o mesmo para nós hoje, se os recuperarmos e trabalharmos neles confiante, piedosa e biblicamente – esses tesouros infinitamente preciosos estão sendo evitados em favor de questões legítimas, mas secundárias. Nós devemos guardar a centralidade do que é central.
Nós não deveríamos pensar: “bem, é claro que temos o Evangelho. A Reforma o recuperou para nós”. Essa complacência nos custará caro. Toda geração de cristãos deve reaprender como novas as verdades básicas da nossa fé. A igreja está sempre a uma geração de distância da ignorância total do Evangelho, e hoje estamos fazendo um progresso rápido em direção a este objetivo catastrófico. Ao invés de relaxadamente presumir o Evangelho, devemos agressiva, deliberada, completa e apaixonadamente ensinar e pregar o Evangelho. Todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento estão em Cristo. Se não procurarmos intencionalmente esses tesouros, nós os perderemos.
Líderes e pastores, em particular, estão hoje sob enorme pressão para satisfazer às demandas imediatas do mercado à custa do Evangelho. As pessoas querem o que elas querem quando querem, ou então elas dirigirão até a Rua da Primeira Igreja de Onde-as-Coisas-Acontecem para conseguir o que desejam. Nós líderes estamos perdendo nossa coragem? Começamos a sentir que o Evangelho satisfaz as necessidades das pessoas de maneira menos convincente ou menos proveitosa? Estamos constantemente oferecendo às pessoas “Cinco Passos para (alguma coisa)” em resposta aos problemas delas. Mas não está funcionando. Para nossa vergonha, nós cristãos somos moralmente iguais ao mundo. Por quê? Uma razão é que pensamos em pequenos passos, e nossas vidas demonstram isso. Não percebemos a realidade da perspectiva de Deus. Percebemos a realidade da perspectiva de nossa cultura ímpia, e então tentamos enfiar um princípio bíblico na superfície de nossa profunda confusão. Consequentemente, muito pouco realmente muda. O que realmente precisamos não é sermos mimados, mas sermos reeducados a respeito da realidade, como ela deve ser interpretada a nós pelo Evangelho. Precisamos saber quem Deus realmente é. Precisamos descobrir quem realmente somos. Precisamos entender qual é realmente a raiz do nosso problema e qual é realmente a resposta misericordiosa de Deus a isso. E precisamos que essa nova percepção da realidade permeie profundamente nossas afeições e desejos, nos reorientando radical e alegremente a uma maneira de viver totalmente nova. Mas, se realmente sentimos que o simples e antigo Evangelho oferece muito pouco às necessidades reais das pessoas, então, no final das contas, nós realmente não o conhecemos.
Hoje, nós evangélicos estamos sofrendo uma derrota massiva, brilhantemente disfarçada de sucesso massivo. Registrou-se que 74% dos norte-americanos com 18 anos ou mais dizem que fizeram um compromisso com Jesus Cristo, de acordo com uma pesquisa Gallup. Isso poderia sugerir um alto grau de eficácia em nosso testemunho. Mas, ao mesmo tempo – como se precisássemos de verificação disso – uma pesquisa da Roper Organization mostra pouca diferença entre a conduta moral de cristãos “nascidos de novo” antes e depois de sua conversão. Se estivermos debaixo do encanto das pesquisas de opinião ao invés das obrigações do Evangelho, que lugar há para a porta estreita e o caminho apertado? Mesmo que nossas igrejas aproveitem uma medida de sucesso exterior, continuamos sendo influenciados, não influentes, enquanto mudarmos nosso fundamento dos caminhos de Deus para os caminhos do homem, da verdade bíblica ungida pelo Espírito para as habilidades e novidades humanas. Operando de maneira antropocêntrica ao invés de teocêntrica, nossas igrejas não necessariamente falharão. Elas mantêm uma boa chance de sucesso como qualquer outra franquia. Algumas talvez se tornem populares – mas populares como o quê? Como passatempo religioso, ou como uma força para Deus?
O que você está fazendo,ó cidade devastada?
Por que se veste de vermelho
e se enfeita com jóias de ouro?
Por que você pinta os olhos?
Você se embeleza em vão,
pois os seus amantes a desprezam e querem tirar-lhe a vida.
(Jeremias 4.30)
Ó devastado evangelicalismo, por que você zela pela moda e busca incansavelmente pela sempre nova “relevância”? Por que você é tão inseguro que anseia pelo reconhecimento favorável do mundo? Eles desprezam tudo que você guarda como precioso! “Tornei-me tudo para com todos” não é licença para satisfazer os caprichos do consumidor. Somente Cristo é Senhor. Ou você se esqueceu de sua majestade? E porque você está tão orgulhosa de seus números e dólares? Quão pobre você realmente é! Volte para o Evangelho. Volte para a fonte de verdadeira alegria, vida e poder. Santifiquem a Cristo novamente como Senhor em seus corações. Acorde! Fortaleça o remanescente, pois está a ponto de morrer. Mas se você não retornar à centralidade do Evangelho como poder de Deus para a igreja hoje, então que razão seu Senhor tem para não te abandonar completamente?
Traduzido por Josaías Jr | iPródigo